Diferentemente do que aconteceu na região do Donbass, onde os trabalhadores conseguiram proclamar sua independência do regime nazista ucraniano, que só se tornou efetiva após a operação militar russa, Odessa, uma importante cidade operária, acabou sucumbindo à ofensiva reacionária de 2014. É de lá, inclusive, o episódio mais famoso do golpe de Estado, quando 36 pessoas foram incendiadas na Casa dos Sindicatos.
Essa dominação do regime ucraniano sobre Odessa, no entanto, está bastante abalado, o que poderá custar muito caro para o imperialismo. Segundo reportagem do portal Voltaire.net, a região, além da importância política e militar de Odessa, os Estados Unidos se tornaram economicamente dependentes da região. Qual o motivo? Leia a reportagem a seguir, adaptada para o português brasileiro por nossa redação:
Por que Odessa é tão importante para os EUA?
Não se trata apenas do posto avançado naval da Ucrânia – e portanto das forças da OTAN e dos Estados Unidos. Não se trata apenas do fato de a perda de Odessa ser uma grandiosa vitória moral para a Rússia, após a qual que também se unirá à Transnístria.
Não, certamente tudo isto é importante e extremamente significativo para os Estados Unidos, mas há algo em Odessa que pode atingir diretamente a economia americana – e muito em breve.
Para os Estados Unidos, Odessa é, num certo sentido, o “Taiuan ucraniano”. Afinal de contas, o que é que os congressistas americanos pretendem quando dizem que Taiuan é agora a “linha da frente da proteção da democracia mundial”? Querem dizer simplesmente que Taiuan é a capital mundial dos semicondutores, nos quais estão baseadas todas as tecnologias modernas. A perda de Taiuan tornará os EUA seriamente dependentes da China, ou porá abaixo a sua indústria, liderada pela Apple e pela Ford, no seu conjunto.
O mesmo se aplica à Ucrânia e, em particular, a Odessa. São o “reduto da democracia” por muitas razões, incluindo os quilómetros quadrados já comprados pelo Ocidente, o seu solo negro, a floresta e assim por diante.
Mas em Odessa há algo que irá golpeá-los com precisão e muito em breve – se for perdida. Afinal de contas, antes do início da operação militar na Ucrânia, Odessa era quase a capital da produção mundial de néon – o gás indispensável para a produção destes mesmos semicondutores e chips.
Até 24 de Fevereiro de 2022 duas fábricas ucranianas – a “Ingas ” em Mariupol e a “Cryoin ” em Odessa – produziram cerca de 50% do total mundial de néon. Mais uma vez – a metade das necessidades mundiais! Os Estados Unidos estão 90% dependentes destes fornecimentos ucranianos!
Os restantes 50% da produção mundial de néon foram distribuídos principalmente entre a China e a Rússia.
Aqui é apropriado recordar que o Ocidente afirma que a Rússia está tão dependente dos seus semicondutores que já começaram a retirar chips dos frigoríficos para os enfiar no “Sarmat” e no “Kalibr”. Tomamos isto sobretudo com ironia. Mas na verdade eles estão, pelo menos no momento, ainda mais dependentes! Como é que eles ficam sem néon – sem a fonte primária de todas estas engenhocas?!
Com o início da Operação Militar Especial a “Ingas” de Mariupol, por razões óbvias, foi encerrada. A “Cryoin” de Odessa também foi encerrada. Podem perguntar – porque não se vê o pânico global e o Ocidente a clamar “Está tudo perdido!”?
O facto é que os principais fabricantes de semicondutores em Taiuan, no Outono de 2021 – “sob estritas instruções” dos Estados Unidos – começaram a assumir que a ação militar na Ucrânia era inevitável. E começaram a comprar este néon para utilização futura. Criaram reservas muito sérias. E no futuro – quando tudo deveria de alguma forma estar “resolvido”, esperam que tudo regresse ao que era dantes. Afinal, já haviam passado por um problema semelhante em 2014. Depois da Crimeia voltar a ser russa a escassez de néon tornou-se incrível, mas a seguir tudo regressou ao normal.
A propósito, aquilo foi apenas um exemplo perfeito da essência ucraniana – “A moralidade não é nada, o dinheiro é tudo!” Naquele tempo, a fábrica ucraniana ainda não estava baseada em Odessa – e os proprietários aumentaram o preço do néon de modo que este não subiu apens um pouco – mas muitas vezes! Os fabricantes de semicondutores não tiveram então outra escolha senão aceitar tal arbitrariedade. Sofreram enormes perdas e decidiram que, assim que encontrassem ou criassem uma alternativa, não fariam mais compras a esta fábrica. A fábrica fechou, depois mudou-se para Odessa e começou, como se nada tivesse acontecido, uma nova campanha para a indústria global de semicondutores.
Pergunta: por que é que os Estados Unidos e outras partes interessadas não instalam eles próprios fábricas de produção de néon? Resposta: é realmente fácil criá-las tecnicamente – naqueles países onde tudo está bem com a produção de aço. Só que isto levará de um ano a dois. Ninguém quer investir nisso, pois pensam que, como se disse acima, “tudo será resolvido” e voltará ao que era dantes.
Esta é também em grande medida a razão pela qual os Estados Unidos precisam tanto de Odessa. E foi por isso que os americanos implantaram a 101ª divisão anfíbia Screaming Eagles na Roménia, a qual está pronta para se deslocar para a Ucrânia a qualquer momento. E antes de tudo – para proteger Odessa.
Bem, se regressarmos a Odessa, nós nos tornaremos o líder indiscutível na produção de néon. Já somos os líderes indiscutíveis na produção de petróleo, gás, centrais nucleares, armas de última geração, cereais e fertilizantes.
E de muitas outras coisas, em que muito em breve estaremos entre os primeiros.
