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Ascânio Rubi

Ascânio Rubi é um trabalhador autodidata, que gosta de ler e de pensar. Os amigos me dizem que sou fisicamente parecido com certo “velho barbudo” de quem tomo emprestada a foto ao lado.

Coluna

Política identitária: caixa-preta ou buraco negro?

O inglês (ainda) não é língua oficial do Brasil, mas, se depender dos identitários, logo será

Há cerca de dois anos, as cartilhas identitárias de “letramento racial” foram uma verdadeira febre. Dia sim, outro também, a imprensa burguesa publicava matérias sobre o “racismo estrutural”, ensinando o que se podia falar e, principalmente, o que estava vetado. Os pioneiros guias antirracistas, escritos por quem dizia ter “lugar de fala”, logo inspiraram panfletos de igual teor sobre homofobia, capacitismo etc. O passo seguinte foi a aprovação da lei da injúria racial, já em 2023, depois estendida para a população LGBT e letras mais, que vinha mostrar que a coisa não era brincadeira.

Temos visto nos últimos anos muita discussão nas redes sociais e na imprensa, mas pouca gente séria tem coragem de confrontar as novas interpretações, geralmente fantasiosas, do significado das palavras e de sua história. Houve quem se dispusesse a explicar que “denegrir” é um termo oriundo do latim, que nada tem que ver com pessoas de pele negra (denegrir é manchar, escurecer um tecido, e, no próprio latim, adquiriu a ideia de “manchar reputação” – nada a ver com a escravidão dos negros no Brasil!), e que “criado-mudo” nunca foi um “escravo escravizado” que passava as noites à cabeceira da cama dos nobres brancos para servi-los em caso de terem o sono interrompido. O buraco, no entanto, sempre foi mais embaixo. Os identitários nunca quiseram saber se suas historietas eram verdadeiras ou falsas – era suficiente que servissem para criar algum tipo de mobilização.

A esta altura, porém, soam ridículas demais certas declarações, emanadas de ministros do governo, como o suposto racismo contido nas expressões “buraco negro”, da física, e “caixa-preta” (do inglês “black box”), ligada à aeronáutica. Esta última saiu da boca da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, quando tentava escapar de uma pergunta na CPI das ONGs; aquela foi declaração da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, que não tinha nada mais interessante a dizer enquanto o mundo assistia a uma tentativa de limpeza étnica na Faixa de Gaza. Se essas expressões são racistas, podemos esperar que físicos e aviadores logo venham a enfrentar os tribunais, mas não se trata disso.

Ninguém, em sã consciência, pode levar isso a sério, mas esse tipo de coisa cria, diuturnamente, uma predisposição negativa em relação à língua portuguesa. É como se, a cada dia, descobríssemos uma nova palavra “preconceituosa”, que devemos extirpar da língua, essa língua de malditos brancos escravocratas etc. e tal. Quem sabe a solução seja abandonar essa língua indecorosa, racista, capacitista, herança infeliz do colonizador.

O recente episódio da retirada do busto do Padre António Vieira, um dos maiores escritores da língua portuguesa, de um jardim de universidade sob alegação de ser ele defensor da escravidão ilustra o caráter do movimento identitário-decolonial. Vieira nunca foi escravagista, mas isso importa tanto quanto a origem de “criado-mudo” (que, aliás, vem do inglês) e o significado de caixa-preta. Não se trata de trazer a lume uma verdade encoberta; trata-se, isto sim, de inventar histórias que justifiquem determinadas políticas.

Nesse ambiente de depreciação da cultura brasileira, cujo único valor estaria nas contribuições dos negros e dos indígenas, que, afinal, foram oprimidos, fica muito fácil abrir as portas para o novo colonizador. Ninguém se queixou do RG escrito em português e inglês, mesmo sendo um documento de validade apenas em território nacional. O inglês (ainda) não é língua oficial do Brasil, mas, com certeza, é a língua das ONGs da Amazônia.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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