Desde que tomou posse, a relação de Lula com o Congresso Nacional tem sido, no mínimo, turbulenta. A composição da casa faz com que qualquer projeto do governo mais à esquerda, no quesito econômico, seja prontamente rejeitado pelos parlamentares, e recentes declarações de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, comprovam isso.
Nesta quarta-feira (08), o Estadão publicou um editorial intitulado A fragilidade do governo no Congresso. No texto, o jornal burguês repercute fala de Lira, que afirma que “o presidente Lula da Silva não tem uma base consistente para aprovar projetos de sua agenda econômica no Congresso”.
No dia anterior, a Folha de S. Paulo, em seu editorial Lira, Lula e Juscelino, afirma o mesmo, destacando que a não aderência do União Brasil à base do governo no Congresso e no Senado fazem com que Lula não tenha força suficiente para levar adiante os seus projetos nas casas.
Comentando fala de Lira, a Folha afirma:
“O petista [Lula], disse, não dispõe de votos garantidos nem para projetos que exigem maioria simples, que dirá para reformas constitucionais […] Trata-se de um governo de centro-esquerda que terá de lidar com um Legislativo que se tornou mais liberal neste ano, conforme sua descrição — um tanto benevolente, diga-se, com a expansão do reacionarismo bolsonarista e do fisiologismo do centrão, do qual Lira é um dos expoentes.”
O diagnóstico de ambos os jornais, ou seja, do setor da burguesia mais ligado ao imperialismo, está absolutamente correto. Fato é que Lula não dispõe de uma base adequada no Congresso, basta relembrarmos o exemplo da PEC de Transição, aprovada – em grande medida feito de Lira – com uma série de cortes essenciais à proposta original do PT.
Além disso, a articulação de Lula com o União Brasil não estão lhe rendendo frutos, uma vez que, como destaca a Folha, o partido ainda não definiu sua posição em relação ao governo. Sem ele, Lula teria apenas 223 deputados, ou 43,5% da Câmara.
Vale ressaltar que, muito provavelmente, o União deve juntar-se abertamente à oposição, uma vez que, na prática, já joga contra o governo. Algo natural, considerando que o partido, filho de uma fusão entre o PSL e o DEM, teve papel central no golpe de Estado contra Dilma e na prisão de Lula.
Decerto que, com esse panorama, Lula não conseguirá governar. Pelo menos não por meio do Congresso Nacional e das alianças que está fazendo nos ministérios e no próprio legislativo. Isso se mostra ainda mais grave quando levamos em consideração que o governo está sendo fortemente pressionado pela burguesia nacional e internacional que, futuramente, pode até mesmo abrir um processo de impeachment contra o petista.
Nesse sentido, Lula não deve ter o Congresso como o pilar de sustentação do governo, pois, como visto acima, não é o caso. Acima de qualquer coisa, deve convocar o povo a tomar as ruas para lutar por suas próprias reivindicações, como a reversão da reforma trabalhista e da reforma da previdência que, a depender da Câmara, não serão aprovadas.
Os golpistas querem impedi-lo de levar adiante um governo economicamente progressista, só o povo pode combater isso e garantir que o governo que ele elegeu seja, de fato, um governo dos trabalhadores, e não dos patrões.