O jornal Estado de S. Paulo publicou, no último dia 15 de junho, um editorial chamado “A inacreditável ‘TV PT’”.
A primeira pergunta que já deveria ser feita é para o próprio título do artigo: “por que inacreditável”? Por que um partido político, ou seja, uma representação da sociedade, não poderia ter direito a uma concessão de rádio e TV? E aqui a pergunta cabe a qualquer partido, de qualquer tamanho e de qualquer ideologia. Mas é sempre bom ressaltar que o PT é o maior partido do País.
A resposta é simples. Para o Estadão “inacreditável” não é meia dúzia de famílias, que ninguém sabe porque, nem como, terem o monopólio total das concessões de TV. Isso não seria inacreditável porque o Estadão está defendendo os seus amigos desse monopólio, sendo o próprio Estadão parte dele, ainda que não tenha diretamente o controle de um canal de TV.
É um cinismo incrível, seria inacreditável se já não fosse do conhecimento dos brasileiros o comportamento vil e canalha do monopólio da imprensa brasileira.
O Estadão afirma que “Lula pode posar de democrata, mas a natureza antirrepublicana do lulopetismo sempre fala mais alto.” Se existisse um medidor de cinismo, essa frase iria danificar o marcador. Parece que o conceito de republicanismo e democracia se inverte quando o interesse do magnatas da comunicação estão em jogo. Vejam só, antirrepublicano e antidemocrático não é meia dúzia de famílias controlando as concessões de TV, mas o PT querer ter uma TV e uma rádio. Uma só!
O cinismo continua:
“Em qualquer democracia saudável, todas as siglas que representam as ideologias e os múltiplos interesses dos cidadãos, preenchidos os requisitos legais para sua criação, devem ter paridade de armas na conquista de eleitores. Como nem todos os partidos políticos no Brasil – mesmo entre os que estão representados no Congresso – haverão de ter um canal de TV para chamar de seu, o PT teria à disposição um poderoso instrumento de comunicação que desequilibraria a seu favor a disputa democrática pelo poder.”
O Estadão está preocupado com a isonomia entre os partidos, não é lindo isso? Ele só se esquece de dizer, por exemplo, que não há nenhuma paridade entre os partido. Os partidos não ganham o mesmo montante de dinheiro nas eleições, não têm o mesmo tempo de TV (alguns nem tempo têm). Sem contar que os grandes partidos da burguesia têm toda a cobertura na grande imprensa, como o Estadão, enquanto outros, quando aparecem, é para sr achincalhados e caluniados.
O Estadão não tem nenhuma autoridade moral para falar em isonomia. Mas esse problema levantado pelo editorial é bem simples de resolver. Que todos os partidos tenham o direito a ter um canal de TV, mais ainda, que todas as organizações populares possam ter esse canal. Olha que belo princípio de isonomia.
Mas como o Estadão quer, na verdade, manter os privilégios dos seus, ele diz:
“Mas admitamos, num exercício de reductio ad absurdum, que os parlamentares cheguem à conclusão de que não só o PT, mas todos os partidos deveriam ter seus canais de rádio e TV. Caberia, então, ao Supremo declarar a inconstitucionalidade da medida por violação do princípio da moralidade, sem falar no descumprimento da Lei de Licitações – ou seria aberta concorrência pública para cada uma das frequências pretendidas pelas legendas?”
Na hipótese de os parlamentares democraticamente decidirem que todos os partidos devem ter direito a um canal de TV, o Estadão, de tão democrático, chama o STF para passar por cima da democracia e anular uma votação. Um verdadeiro exemplo de democracia.
O Estadão é capaz de qualquer coisa para manter os privilégios absurdos e inacreditáveis dos monopólios de comunicação do qual ele faz parte.
Para nós, não é apenas um problema de acabar com esse privilégio dando direitos para os partidos e outras organizações. É preciso retirar as concessões de rádio e TV para as poucas famílias que as têm. Mas certamente a proposta do PT já é um importante avanço, assim como foi acertada a decisão de Lula de realizar um podcast, o que também deixou os privilegiados indignados.