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Antônio Vicente Pietroforte

Professor Titular da USP (Universidade de São Paulo). Possui graduação em Letras pela Universidade de São Paulo (1989), mestrado em Linguística pela Universidade de São Paulo (1997) e doutorado em Linguística pela Universidade de São Paulo (2001).

História em quadrinhos

O erotismo na história em quadrinhos – 2ª parte

Gays e lésbicas na história em quadrinhos

            A internet, certamente, é meio de comunicação eficiente para emancipação das minorias sexuais; antes dela, porém, as histórias em quadrinhos, talvez pela marginalidade sofrida nas origens, acolheram tais minorias antes do rádio ou da televisão. Atualmente, a série “As Destemidas Defensoras”, da Marvel, é praticamente destinada ao público feminino; diferentemente dos homens – Capitão América, Thor, Homem de Ferro, Hulk, Homem Aranha e Demolidor –, dominantes nas primeiras publicações da Marvel, as páginas de “As Destemidas Defensoras” são povoadas por mulheres. Alguns homens, quando aparecem, são namorados ou ex-namorados; na 3ª parte da HQ “Defensores sem Medo” nº 2, Hércules, Jack Russel – o Lobisomem –, Doutor Estranho e Punhos de Ferro, entre outros, têm de se haver com as respectivas namoradas Hipólita, Elsa Bloodstone, Clea, Misty Night. No início, “Os Defensores” eram homens solitários: Namor, Hulk, Surfista Prateado e Doutor Estranho; a Valquíria entrou no grupo depois e, atualmente, ela é a única, da equipe original, permanecente no grupo. Na HQ, praticamente só há personagens femininas: vilãs, super-heroínas… entre elas, lésbicas assumidas, por exemplo, a arqueóloga Dra. Annabelle Riggs.

              No que diz respeito à presença de minorias sexuais, talvez o melhor exemplo entre grupos de super-heróis seja “Os Invisíveis”, de Grant Morrison. Grupos de super-heróis, tais quais os X-Men, da Marvel, buscam conciliar diferenças nacionais, incluindo canadenses – Wolverine –, alemães – Noturno –, russos – Colossus – ou africanos – Tempestade –; trata-se de heróis criados para reforçar a noção burguesa de nação, além de defenderem o domínio do imperialismo estadunidense. Não se deve esquecer da escola do professor Xavier ser sediada nos EUA e dirigida por um milionário nascido lá, em que mutantes podem explorar suas habilidades, fato impossível nos lugares de origem, seja por ignorância de populações provincianas – a Alemanha Oriental, pátria de Noturno –, seja por pertencerem a tribos supersticiosas – a tribo africana de Tempestade –. Contrariamente, entre “Os Invisíveis”, há travestis, menores de rua, casais fetichistas etc., fazendo, do grupo, os super-heróis das minorias sexuais, cujos inimigos são, em regra, organizações declaradamente fascistas.

              Fora do universo dos super-heróis, há outros modos de discutir a homossexualidade. Em “Fun home”, de Alison Bechdel, o lesbianismo é discutido além das aventuras de super-heroínas assumindo sexualidades e do gênero erótico, no qual mulheres são retratadas, predominantemente, em cenas de sexo. Em “Fun home”, há mais cenas com livros do que cenas de sexo; cheguei a contar apenas duas cenas de sexo e, pelo menos, trinta e seis cenas com livros; inclusive em uma das cenas de sexo, a referência aos livros aparece explicitamente.

              Na temática gay, Tom Of Finland é, sem dúvida, representante criativo na história em quadrinhos; em suas HQs, marinheiros, bombeiros, policiais vivem aventuras gays sempre divertidas. No mundo de Tom Of Finland, a felicidade e o fetiche são a resistência contra o moralismo; em sua utopia gay, até para as mulheres, quase sempre rejeitadas pelos namorados, os finais são felizes. Em uma história, por exemplo, quando a namorada é preterida, pois o namorado marinheiro prefere fazer sexo com outro rapaz, chama pela polícia; entretanto, o guarda, em vez de autuar o novo casal, junta-se a eles e a moça, em lugar de reclamar, não deixa por menos, recorrendo ao cassetete do policial para se masturbar. No fim, todos têm prazer.

              Quadrinhos semelhantes a “As Destemidas Defensoras” e “Os Invisíveis” são dos dias atuais; o mesmo, dando-se com “Fun Home”, de 2006. Tom Of Finland, porém, é da década de 60 do século passado, fazendo dele contemporâneo dos primórdios da televisão, bem antes da internet. Se hoje a homossexualidade está incorporada à boa parte da cultura ocidental, nem sempre foi assim; Tom Of Finland está entre os pioneiros da emancipação da cultura gay e ele fez isso por meio da história em quadrinhos e do erotismo, ainda hoje, fácil e erroneamente identificado com pornografia.

              Eis os trechos das HQs citadas anteriormente:

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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