Carla Dórea Bartz

Jornalista, com 30 anos de experiência (boa parte deles em comunicação corporativa). Graduada em Letras e doutora pela USP. Filiou-se ao PCO em 2022.

Cinema e Política

O cinema como arma da plutocracia norte-americana

Filme é estética vazia que torna atraente a barbárie e o genocídio

O uso do cinema como propaganda não é novo e faz parte da história centenária dessa forma de arte. É assim em Hollywood, foi assim na Alemanha do Terceiro Reich e na União Soviética do Stalinismo. 

Na última semana, no entanto, uma forte polêmica surgiu em torno do filme Oppenheimer, dirigido por Christopher Nolan, uma biografia sobre o físico que criou a bomba atômica.

A recepção ao filme obrigou o presidente do PCO, Rui Costa Pimenta, a tecer comentários sobre ele no último sábado, na Análise Política da Semana. A película virou assunto, hype.

Por que a dúvida em se posicionar diante de uma obra como essa? Qual a dificuldade de vê-la como um produto de massas reacionário? É isso que tentaremos explorar, rapidamente, nas próximas linhas.

No caso desse filme, especificamente, conhecer a filmografia do diretor Christopher Nolan ajuda a entender seu posicionamento político e a prever a abordagem que ele dá aos temas que escolhe. O cineasta é notoriamente de direita e sua tendência é sempre optar pela glorificação da sociedade “ocidental”.

Nolan nasceu na Inglaterra em 1970 e tem em seu currículo 18 filmes, em sua maioria, grandes sucessos do cinema. Seu nome ficou conhecido pela adaptação que fez, em 2005, do herói dos quadrinhos Batman. 

É possível dizer que ele ajudou a criar a febre dos filmes de super-heróis que temos hoje em dia ao mostrar uma versão “séria” e “dramática” do personagem que, em outras adaptações, era entretenimento cômico. Na verdade, ele ajudou a estabelecer, no atual momento histórico, o mito do bilionário, herói, justiceiro e caçador de bandidos de uma maneira bastante conservadora.

Mas é em Interestelar, de 2014, que esta face reacionária se torna explícita. É impossível deixar de notar o quanto o filme faz, literalmente, apologia ao genocídio. Embalado em um tema de ficção científica que tem viagem espacial e lapsos temporais em seu enredo, a obra teve todo o dinheiro do mundo para torná-la um espetáculo de primeiro nível de Hollywood, com todos os efeitos especiais e atores do primeiro time.

Mas o fato é que se trata de uma película muito reacionária. Naquela época, outros filmes americanos também apontavam, como solução para os problemas ecológicos atuais, o extermínio de boa parte da população mundial. O ápice está na solução Thanos, de Os Vingadores. É como se o cinema americano fizesse o trabalho de educar o público sobre o tema. 

Depois de Interestelar, Christopher Nolan dirigiu o muito aclamado Dunkirk (2017), sobre uma batalha da II Guerra Mundial. Neste filme, o interessante é perceber o quanto Nolan esvazia o conteúdo histórico em nome do espetáculo. Em nenhum momento o nome nazismo é falado. Em nenhum momento, a Alemanha é citada.

Lembro que a experiência de assisti-lo foi a mesma de assistir a um filme sobre um ataque alienígena em uma ficção científica.  O inimigo já está declarado pelas convenções e pelo senso comum: é uma terrível manipulação de um acontecimento completamente esvaziado de seu significado histórico para as atuais gerações.

Agora, temos Oppenheimer, que também é uma manipulação explícita e um revisionismo histórico. Como Nolan faz isso? Evidentemente, ele tem uma agenda política de direita que se manifesta em seus filmes. Essa agenda é estimulada por grandes somas de dinheiro que ele ganha e pelo sucesso na forma de prêmios e reconhecimentos da crítica de cinema internacional, incluindo no Brasil.

Obviamente que ele escolhe, por convicção e interesse financeiro, fazer filmes reacionários. E não está sozinho: há todo um ecossistema junto dele, inclusive governamental. O problema está no fato de que a maioria das pessoas, incluindo muita gente de esquerda, como cinéfilos, críticos e acadêmicos, varre esse problema para baixo de um tapete pseudo-intelectual.

Nolan, e muitos dos seus pares na indústria de cinema norte-americana, usa uma receita que ajuda no disfarce. Em primeiro lugar, ele é um mestre da forma hollywoodiana clássica, um nome para o conjunto de técnicas de contar histórias no cinema que disfarçam a ideologia por meio de um falso naturalismo que nada mais é do que a projeção do ponto de vista da classe dominante sobre a realidade.

É o ponto de vista da classe dominante sobre como salvar o capitalismo que vemos em filmes como Interestelar, Dunkirk e Oppenheimer. É por isso que eles são tão sinistros, como apontou Rui Costa Pimenta em sua análise.

Tudo fica muito disfarçado pelo espetáculo, pelo personagem do herói, que é representado de maneira “complexa”, pela pretensão de seriedade, de cinema autoral, e um monte de jargões simplistas que a crítica adora usar. Crítica essa que é essencial para que o filme se torne assunto, polêmica, verdade. É uma máscara. Um círculo vicioso da mesma máquina de propaganda que vende para nós que Cuba é uma ditadura.

As escolhas formais do cineasta são essenciais para sabermos para onde a banda toca quando assistimos a um filme.

Por fim, a análise de conjuntura em que o filme se insere é outro ponto absolutamente relevante para o entendimento do mesmo. Nesse ponto, a análise de Rui Costa Pimenta é precisa.

Colocando em perspectiva, já temos 10 anos – desde Interestelar – que o público vem sendo preparado para aceitar soluções que, até pouco tempo, eram inimagináveis. Agora, a bomba atômica volta ao centro dos debates.

Seja como for, Oppenheimer com certeza não será o último da série. A plutocracia norte-americana tem suas próprias ideias sobre como salvar o capitalismo e sua pele diante da crise catastrófica e distópica na qual nos encontramos hoje. Ao menos, não podemos dizer que não estamos avisados.

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