O título desse texto é um referência explícita a um famoso ensaio que Walter Benjamin escreveu em 1921. Há ideias bastante interessantes no texto e, em uma delas, o autor diz o seguinte:
“No Ocidente, o capitalismo se desenvolveu como parasita do cristianismo – o que precisa ser demonstrado não só com base no calvinismo, mas também com base em todas as demais tendências cristãs ortodoxas -, de tal forma que, no final das contas, sua história é essencialmente a história de seu parasita, ou seja, do capitalismo”.
O texto de Benjamin é uma série de apontamentos que provavelmente ele iria desenvolver com mais profundidade, mas não deixam de mostrar caminhos relevantes e muito interessantes de serem explorados, como esse exemplo do parasitismo capitalista.
Recentemente, assisti a um filme de Luis Buñuel chamado A Via Lactea ou O Estranho Caminho de Santiago (La Voi Lactée, de 1969). No enredo, dois peregrinos rumam a pé da França a Compostela, na Espanha. Em sua andança, encontram personagens de diversas épocas que duelam e se matam por questões heréticas, abstratas e sem importância.
O surrealismo de Buñuel e a frase de Benjamin ajudam na compreensão materialista da obra que, de outra maneira, seria vista apenas como uma crítica severa ao catolicismo (o que não deixa de ser também).
Continuando nessa chave, assisti essa semana a uma interessante entrevista do professor da UFRJ Muniz Sodré. Ele é um estudioso da questão racial brasileira e um crítico da teoria do “racismo estrutural”, que ele diz que não existe no Brasil. Para ele, existe um “racismo institucional” (não vou entrar no mérito, apenas cito seu contraponto).
Para refutar o conceito que já virou senso comum, Sodré faz uma ampla abordagem do termo estrutura na filosofia e utiliza Marx para expor a fragilidade da questão. Para ele, a escravidão era estrutural, pois fazia parte da estrutura do sistema econômico (faltou apontar: capitalista e parasita) e da estrutura do Estado brasileiro.
Portanto, o racismo atual não é estrutural no sentido que Marx dá à questão da infraestrutura e da superestrutura. Ele ressalta que o uso da palavra “estrutural” em “racismo estrutural” vem da filosofia, ora vejam, americana. É “americanismo”, diz ele na entrevista.
Voltando à questão de Benjamin, lembro que um dos dogmas atuais, do racismo estrutural, é a conversão de todos à ideia de que, no Brasil, nascemos racistas. Isso significa que nascemos com uma versão atualizada do pecado original.
Nada mais cristão. Nada mais capitalista.