Em reunião realizada há algumas poucas semanas atrás, o Conselho de Direitos Humanos da ONU apresentou uma declaração onde denunciava os supostos crimes de Daniel Ortega, classificado pelo organismo como “ditador da Nicarágua”. Na ocasião, cinquenta e cinco países, a maioria deles alinhados à política criminosa do imperialismo norte-americano, onde se destaca a Alemanha, França, Canadá e Austrália, chancelaram o documento, que ainda contou com a adesão de países do continente latino-americano, como Chile, Peru e Colômbia, não por acaso – à exceção do Peru, que vive um golpe de Estado – governado por “esquerdistas” pró-imperialistas, ao estilo de Gabriel Boric (Chile) e Gustavo Petro (Colômbia).
O que se vê, no entanto, é que muito distante de representar qualquer preocupação com as supostas violações de direitos humanos por parte do regime sandinista, o que vem causando “dor de cabeça” ao imperialismo (em particular aos EUA) não são questões ou elementos ligados à pauta democrática(os norte-americanos são os maiores violadores dos direitos humanos em todo o mundo),mas sim o acordo de cooperação sino-nicaraguense – já em vias de ser firmado – para a construção do canal interoceânico que cortará a Nicarágua em direção ao oceano pacífico, que permitirá ampliar a competitividade dos produtos chineses na América devido à diminuição dos custos de transporte.
Se de fato for construído, o canal nicaraguense vai cortar o Lago da Nicarágua e terá três vezes a extensão do Canal do Panamá, que mede cerca de 80 quilômetros. Uma obra não só monumental, mas que vem colocando em alerta os adversários da China, sobretudo a Casa Branca, que trava uma guerra comercial aberta com o gigante asiático.
Segundo analistas, a decisão da China em investir pesado na América Latina “é uma resposta ao que faz Washington, ao estabelecer alianças” na região vizinha ao país asiático. “É como um xadrez. A China diz: vocês procuram construir um muro de contenção na nossa vizinhança, então nós podemos fazer o mesmo com Costa Rica, México e agora a Nicarágua”.
A perda de influência e poderio militar do imperialismo em todo o mundo, associada ao recente cataclisma dos bancos em importantes praças do mundo capitalista (EUA, Suiça), sinaliza claramente para uma nova etapa de crise na qual irá, inevitavelmente, mergulhar o capitalismo, já despedaçado pela determinada ofensiva econômica dos chineses e pela decisão dos russos em reagir às investidas militares-expansionistas dos EUA e seus aliados ocidentais agrupados na OTAN.
Portanto, a chegada dos chineses ao continente latino é não somente uma jogada comercial ousada, como desafia abertamente a já combalida hegemonia norte-americana em seu próprio “quintal”.