O 59º Congresso a União Nacional dos Estudantes foi um verdadeiro show de horrores. A esquerda golpista de princípio era o que mais chamava atenção, diversas organizações atacando o governo Lula, chegaram até a vaiar o presidente em sua fala no Estádio Nilson Nelson. Contudo, um aspecto foi pouco divulgado, a própria organização ditatorial de todo evento, que toda a esquerda pequeno burguesa respeita de uma forma ou de outra. Apesar de os verdadeiros responsáveis pela ditadura serem o PCdoB, que controla a UNE há mais de 30 anos.
A ideia de um Congresso de organizações de esquerda, para os que não conhecem a realidade, é de um evento democrático em que há uma quantidade enorme de debates sobre diversas importantes questões políticas. Para os que estiveram presentes na III Conferência Nacional dos Comitês de Luta, ela pode ser usada como modelo para esse tipo de evento. Contudo, isso passa muito longe do que existe no Congresso da UNE. Lá acontece o extremo oposto, toda uma estrutura voltada para impedir qualquer tipo de debate.
É impressionante que a burocracia do PCdoB somada ao direitismo da esquerda pequeno burguesa consiga quase que anular todo o debate em um evento que reúne 5mil pessoas. Para ter uma noção, são milhares de estudantes universitários de todo o Brasil reunidos por 5 dias. Mas o que existe na prática é que quase a totalidade desses está presente com alguma das organizações da juventude, e aqui está o ponto principal: as organizações não dialogam entre si, e orientam os estudantes fazer o mesmo.
Isso significa que quando algum militante de alguma organização está tentando panfletar para os estudantes, é comum que o dirigente da outra retire fisicamente os jovens de perto da panfletagem ou até remova o panfleto da mão do estudante. O mesmo acontece quando alguém está olhando a banca, é comum que um estudante seja puxado pelo dirigente para fora da banca. Ou seja, o estudante fica horas ou até dias viajando ao congresso para não debater nada, apenas votar na tese de sua organização. O Congresso, portanto, é quase uma formalidade.
Vale também descrever o processo de votação. O estádio onde acontece a “plenária” é totalmente dividido entre as organizações. A UJS tem o piso, o PT e o Levante tem um lado da arquibancada, a esquerda golpista tem o outro. Ninguém se mistura. Cada organização tem direito há alguns minutos de fala, quando a fala acontece apenas a própria organização aplaude. Depois vem a votação, cada organização vota apenas na sua própria tese. A tese do MRT, tem apenas os votos do MRT, a da UJC, apenas os votos da UJC, a da UJS/PT/Levante apenas os votos da UJS/PT/Levante e assim por diante. Como espectador de todo o show até se levanta o questionamento da necessidade das votações.
Após 5 dias de reunião de 5 mil pessoas, o desenvolvimento da consciência dos estudantes é muito pequeno. A burocracia que domina a UNE é disputada por outras burocracias estudantis e todas estão em uma frente única contra o debate, e sem debate, sem polêmica, não há avanço na política. É por isso que é possível considerar o evento como quase um anti-Congresso. Tudo que há de positivo existe, apesar da burocracia. O lado positivo é que a ditadura imposta pela burocracia é, na verdade, uma demonstração de sua fraqueza. A juventude trabalhadora não parece estar disposta a aturar muito mais tempo tamanho reacionarismo, não só na UNE, mas em toda a sociedade.