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Fábio Picchi

Militante do Partido da Causa Operária (PCO). Membro do Blog Internacionalismo e do Coletivo de Tecnologia do Partido da Causa Operária. Programador.

Coluna

Novas tecnologias serão decisivas em 2024

Inteligência artificial, crise capitalista e mais de meio mundo nas urnas: o que pode dar errado?

Quem acompanha essa coluna sobre tecnologia já deve ter notado que temos um certo ceticismo em relação ao uso de inteligência artificial, que inclusive preferimos chamar por seu nome tradicional, aprendizagem de máquina ou, simplesmente, estatística. A quantidade de dados analisados e a complexidade do modelo não transformam predição estatística em inteligência, mas esse não será o tom de nosso penúltimo artigo do ano. Já tivemos o ano todo para reclamar.

Apesar das críticas que fiz ao longo do ano, tenho que confessar que me surpreendi com o avanço tecnológico que observamos em 2023. As ideias já circulavam na academia há um bom tempo, mas uma combinação de avanços tanto em engenharia de hardware como de software permitiram que computações antes inimagináveis pudessem ser realizadas quase que em tempo real. A capacidade de geração de texto do GPT-4, assim como a de geradores de imagem, em particular o MidJourney, é impressionante. As imagens quase realistas ainda me causam certo incômodo, assim como o estilo excessivamente polido e prolixo do GPT. Acredito que meu cérebro foi treinado para reconhecer conteúdo gerado por esses modelos e, infelizmente, a internet agora está cheio deles enterrando os bons resultados de busca na obscura segunda página de resultados do Google.

E, finalmente, no apagar das luzes do ano, vejo um uso excepcional dessas tecnologias. Estava impressionado, mas a aplicação quase que exclusiva em memes e conteúdo perceptivelmente falso me fazia questionar se havia retorno para uma empresa como a OpenAI dado o enorme gasto de eletricidade para treinar e executar seus modelos. Eis que esta semana, a equipe de propaganda do partido paquistanês Movimento Paquistanês pela Justiça (PTI, na sigla em inglês) montou uma peça de propaganda com um discurso de seu líder, em ex-primeiro-ministro Imran Khan, valendo-se de inteligência artificial. Sua imagem e sua voz foram geradas artificialmente.

Por quê? Simplesmente porque Khan está preso desde agosto, ocasião em que sofreu um golpe militar. Khan, uma espécie de mistura de Lula e Pelé (o político foi capitão do time de críquete paquistanês de 1992, que venceu a Copa do Mundo sobre a Inglaterra em feito histórico), é uma figura muito popular no Paquistão. Mobilizações gigantescas ocorreram ao longo de quase um ano contra a perseguição do primeiro-ministro, de tal forma que os militares tiveram que cozinhar a situação até um momento de refluxo para prendê-lo.

Eis que Khan então escreve um discurso da prisão, discurso veiculado a seus apoiadores diretamente por ele num vídeo que jamais poderia acontecer porque o político está preso e seu acesso a outras pessoas está restrito apenas a breves visitas. Deixaremos a crítica ao discurso, que simplesmente convoca a população a comparecer em peso nas urnas no próximo dia 8 de fevereiro, a outros articulistas deste Diário, mas, apesar do conteúdo, somos obrigados a reconhecer a qualidade do resultado. O impacto do vídeo é tremendo porque além de convincente (há alguns problemas na qualidade do som), escancara que Khan está preso. Achei uma peça de propaganda absolutamente genial.

Imaginem se algo do gênero tivesse surgido em 2018, nas eleições em que Lula foi arbitraria e ilegalmente removido das urnas e preso. Tal artifício poderia ser utilizado até mesmo na campanha pela liberdade de Julian Assange, preso há mais de uma década pelo imperialismo.

A propaganda do PTI foi ao ar na penúltima semana de 2023. No próximo ano, mais de 3,7 bilhões de pessoas irão às urnas. Há eleições em Taiwan, no Paquistão, na Índia, na Rússia e, até mesmo, nos Estados Unidos. A crise capitalista, a fragilidade do imperialismo e avanços tecnológicos me fazem pensar em outros momentos parecidos ao longo da história com a invenção da imprensa, do rádio (muito bem utilizado pelos bolcheviques) e da televisão. Todas esses meios técnicos foram limitados em seu uso pela burguesia, devido a seu potencial revolucionário. O mesmo acontece com as redes sociais hoje em dia.

Ainda assim, no momento de sua criação, antes de serem amordaçadas pelos donos do mundo, essas tecnologias sempre causaram uma grande tormenta.

Entramos em 2024 com duas derrotas imperialistas em desenvolvimento: na Ucrânia e no Oriente Médio. Soma-se a isso os cada vez mais turbulentos processos eleitorais e a ascensão de novos modelos de aprendizagem de máquina. Certamente veremos usos tão ou mais criativos como o do PTI no ano que vem que será tudo, menos chato.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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