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Roberto França

Militante do Partido da Causa Operária. Professor de Geografia da Unila. Redator e colunista do Diário Causa Operária e membro do Blog Internacionalismo.

Rússia - África

Não existem dois imperialismos

Só existem dois imperialismos para quem quer que os Estados Unidos, Reino Unido, Bélgica e França reinem na África.

Nas recentes insurgências africanas que culminaram com a expulsão dos imperialistas franceses, também se notou um elemento relativamente novo nas ruas de diversos países da África Ocidental: muitas pessoas portando a bandeira da Rússia. A partir dessa questão sucedeu uma série de análises criticando a forma de tomada de poder por parte dos líderes insurgentes, bem como a relação feita com a Rússia.

Diante dessa questão, direita e esquerda se somam na tentativa de desmoralização dos movimentos insurgentes. A direita tenta colar a pecha de que os insurgentes são autoritários, e que deram um golpe militar; a esquerda endossa essa afirmação dizendo que os africanos ocidentais estão cambiando de um “imperialismo a outro”, ou seja, que estão expulsando franceses para abraçarem os russos.

Nada disso tem o menor sentido. Na realidade o que faz sentido é dizer que a África Ocidental está adotando uma linha de independência e pragmatismo geopolítico, cada vez mais alinhada à China e Rússia, que por sua vez se equilibram entre sanções, ameaças de guerras, golpes de estados em territórios de fronteira e propagandas difamatórias.

No caso russo, como parte da estratégia de defesa, o Kremlin atua dentro de um soft power que considera demandas coletivas com países parceiros. O Kremlin tem demonstrado ao mundo como fazer política externa de modo estratégico, ou seja, pensando no longo prazo. Em geral, países atrasados dificilmente conseguem estabelecer até mesmo políticas de curto prazo, mas a Rússia desenvolve sua indústria no sentido do crescimento deste setor, de modo que a própria indústria retroalimenta a política de defesa.

Nas próximas décadas a África terá sua presença fortalecida internacionalmente. As Nações Unidas preveem que a população africana dobrará para 1,1 bilhão até 2050, impulsionada pela rápida urbanização e nova etapa de desenvolvimento da indústria de mineração, com novas jazidas sendo descobertas e atuação dos trabalhadores no sentido de apoiar governos nacionalistas, ao mesmo tempo que haverá um impulsionamento por mercados em expansão, recursos naturais abundantes, trabalhadores da cidade e ligações marítimas estratégicas com outros continentes.

A guinada russa na África

Em 2022, Sergey Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação Russa, indicou que “nestes tempos difíceis e cruciais, a parceria estratégica com África tornou-se uma prioridade da política externa da Rússia. A Rússia aprecia muito a prontidão dos africanos para intensificar ainda mais a cooperação econômica.

Lavrov disse: “É do interesse de nossos povos trabalhar juntos para preservar e expandir os laços comerciais e de investimento mutuamente benéficos sob essas novas condições. É importante facilitar o acesso mútuo dos operadores econômicos russos e africanos aos mercados uns dos outros e incentivar a sua participação em projetos de infraestruturas de grande escala. Os acordos assinados e os resultados serão consolidados na próxima segunda cimeira Rússia-África.”

O envolvimento da Rússia com a África, entretanto, vai mais além. O país acumulou  vasta experiência no desenvolvimento de projetos durante os tempos soviéticos como a construção de centrais elétricas e barragens, além de institutos tecnológicos. Esse desenvolvimento foi interrompido durante o governo Yeltsin, mas retomado no governo Putin, tendo aprofundamento a partir de 2013, com a presença de empresas como a Rosatom e ALROSA.

Durante a última década, relatórios oficiais, incluindo discursos em conferências, cúpulas e reuniões de alto nível, indicaram que há projetos sendo implementados na África por empresas russas líderes como Rosneft, Lukoil, Rosgeo, Gazprom, Alrosa, Vi Holding, GPB Global Resources e Renova. Além disso, é preciso reiterar que a Rússia sempre esteve ao lado da África na luta contra o imperialismo. 

Sochi, o ponto de aprofundamento das relações Rússia-África

Em outubro de 2019 ocorreu a cúpula Rússia-África sob o lema “Pela paz, segurança e desenvolvimento”. Foi a primeira vez na história da Rússia moderna que tal evento foi realizado, estabelecendo um precedente nas relações russo-africanas. No evento foram traçadas as áreas prioritárias de cooperação econômicas para os anos seguintes e onde se revelou o elevado interesse do Kremlin no cenário africano. 

Apesar da venda de armas ser a principal troca entre a Rússia e a África, outros tipos de alianças começam a tomar forma. O Kremlin anuncia que a Rússia estava de volta ao continente africano após uma longa ausência, especificamente desde a dissolução da União Soviética em 1991. No entanto, a Rússia está ciente das limitações frente Estados Unidos e Europa, além da presença militar e econômica cada vez maior da China e Índia desde os anos 2000, porém, a Rússia tenta demarcar outra forma de relação, muito mais cooperativa que estes últimos, e não imperialista como os primeiros. 

As relações entre o continente africano e a Rússia visa tão somente posicionar essas nações num alto nível que possa favorecer ambos. As cúpulas desde Sochi servem para organizar de fato uma frente de nações que eliminem a dominação imperialista, e para isso demanda um nível de poder e força que compita com a guerra que provavelmente se avizinha, seja do ponto de vista bélico ou na forma de guerra econômica. 

A esquerda pequeno-burguesa não compreende os meandros das relações entre países, a sua geografia e potencialidades, por isso lançam suas fichas em análises que colocam a África como não tendo capacidade de decisão de seu destino. Pensam que a autodeterminação vem com isolacionismo e por isso não pensam estrategicamente com quem nações oprimidas devam orientar e projetar seu poder, suas potencialidades. 

Não há dois imperialismos vigorando na África. Existe o poder do imperialismo e seu condomínio baseado na Europa Ocidental, que tentam tutelar o destino do povo africano e minar a Rússia, como parte da geopolítica desenhada por Spykman durante a Segunda Guerra Mundial, e que influenciou Zbigniew Brzezinski e vigora até os dias de hoje. A política de estabelecimento de um cordão sanitário entre a Rússia e o mundo, de modo a tomá-la de assalto.

O desconhecimento das intenções concretas dos Estados Unidos, e a crença na ideologia norte-americana como a mais pura intenção e desejo de democracia, coloca a esquerda pequeno-burguesa, de partidos como PSOL, UP e PCB, além de grupos como o MRT, como uma esquerda a serviço do imperialismo. A pregação decolonial, em certo sentido, vai se revelando e deixando claro que a intenção “decolonial” e de impedir com que os países desenvolvam forças políticas emancipatórias, como é o caso dos militares que expulsaram os franceses da África Ocidental.

Por isso precisam demonizar militares nacionalistas, Vladimir Putin, o Partido Comunista Chinês, o Hamas, o Talibã e qualquer representação política real na rota  de colisão com o imperialismo. O discurso fácil de que o poder de grupos de libertação nacional são grupos opressores, serve como folha de parreira para o imperialismo se reproduzir também nas fileiras de esquerda. 

É preciso apoiar a libertação da África Ocidental como os grupos que conseguiram a proeza de expulsar os franceses, assim como é preciso apoiar a Rússia, que avança para uma relação com a África, sem a usurpação imperialista. Também é preciso combater a esquerda pequeno-burguesa, cada vez mais instrumento do imperialismo, um verdadeiros títeres e lacaios.

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