Valter Pomar publicou, no último dia 16 de junho, no portal Brasil 247, coluna intitulada “Focus sem foco”, onde debate com a posição da revista Focus, da Fundação Perseu Abramo, sobre as chamadas “jornadas de junho de 2013”.
As críticas feitas por Pomar, estão corretas no fundamental. O primeiro ponto apresentado por ele é a tese de que junho de 2013 teria sido o “ovo da serpente” do fascismo no Brasil e, segundo a revista, teria sido aberto “o caminho para o impeachment, a República de Curitiba, a ascensão de extremistas e a prisão de Lula”. Valter Pomar discorda disso.
De fato, a tese é absurda. Colocar a culpa no golpe de Estado e da ascensão da extrema-direita no País a uma mobilização popular é ignorar toda a articulação golpista que já estava acontecendo no País, inclusive antes de 2013. O golpe foi organizado nos escritórios dos Estados Unidos, começou com a farsa do julgamento do mensalão em 2012.
Outra crítica correta de Pomar é a de que tal análise serve como pretexto para setores do PT e da esquerda não chamarem mobilização. Ele afirma que:
“O debate sobre 2013 tem relação com a linha política que o Partido deve adotar em 2023.
“Isto fica claro quando, no citado editorial, se afirma o seguinte: ‘Lembrar e deplorar os acontecimentos de junho de 2013 ser virá de alerta para que as forças populares não voltem a cair no ‘canto da sereia’ de aprendizes de feiticeiro da política que para posarem de modernos venham atrapalhar a caminhada vitoriosa do governo de Lula em sua luta diária pela união e reconstrução do Brasil’.
“Traduzindo: nada de convocar mobilizações, nada de ocupar as ruas para apoiar o governo.”
Ou seja, ignora-se toda a articulação golpista feita pelo Judiciário, no Congresso, pela imprensa, pela CIA etc e atribui a culpa do golpe às manifestações. Se acreditarmos nisso, novamente a esquerda levará um golpe com a mesma facilidade que levou em 2016. Segundo esse raciocínio, deixemos Arthur Lira chantagear o governo à vontade que tudo vai se resolver, o povo pode ficar esperando sentado.
Se podemos apontar um ponto onde a crítica de Pomar é falha é quando afirma que “a partir de 2013, a direita passou a disputar as ruas contra nós.” Isso é em partes correto, mas há uma lacuna aí que precisa ser explicada.
É fato que a direita, tremendo perder o controle da situação política e notando o potencial explosivo da mobilização, sequestrou o movimento. A partir daí, colocando agentes infiltrados dentro da manifestação, passou a “disputar as ruas” com a esquerda.
Mas a direita, naquele momento, ainda não tinha força real nas ruas. Uma posição clara da esquerda seria o suficiente para retomar as ruas. Depois que a onda das manifestações de 2013 abaixou, a direita saiu das ruas.
As grandes manifestações da direita, que é preciso ser dito claramente, foram impulsionadas pelo PSDB – o bolsonarismo sequer existia na época – só começaram em 2015. Para ser justo, no final de 2014, somente após a derrota eleitoral de Aécio Neves, houve manifestações da direita, mas que ainda não eram significativas.
O que houve, então, entre o fim da onda de manifestações de 2013 e o final de 2014? Não houve disputa das ruas, o que houve foi o “Não vai ter Copa”, um conveniente movimento, financiado pelo imperialismo (para os desinformados isso hoje está comprovado), mas que tinha um esquerdista à frente – ou um suposto esquerdista – que servia perfeitamente aos interesses da direita golpista.
Guilherme Boulos serviu aos interesses da direita golpista e esta nem precisou se preocupar em organizar nenhum movimento de rua, mesmo porque ela não teria essa força. Por isso Guilherme Boulos tinha todo o destaque na imprensa golpista, coluna exclusiva na Folha, as manifestações do “não vai ter Copa” eram apresentadas como grandes atos contra o governo inclusive no exterior.
Faltou apenas preencher essa lacuna. A esquerda poderia ter facilmente retomado as ruas completamente após 2013. Isso não aconteceu justamente pela ação desastrosa de um setor da esquerda que não entendeu – e ainda não entende – o que aconteceu e pela ação sabotadora de outro setor da “esquerda” que saiu na rua porque considerava o governo Dilma “indefensável”.