
"Fora Macron!"
França: trabalhadores se recusam a pagar pela crise
Presidente encarna Luís Bonaparte, passa por cima da opinião popular e do Parlamento e impõe reforma da previdência que tira o dinheiro do povo para dar aos bancos

- Operários protestam contra Macron na quinta
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- Foto: Reprodução
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Emmanuel Macron teve um dia de Luís Bonaparte na última quinta-feira (16). Contra todo o clamor popular nas ruas de Paris e de outras cidades, e também sem consultar o Parlamento, o presidente francês impôs a odiada e antioperária reforma da previdência.
Ele recorreu ao Artigo 49.3 da constituição francesa, passando por cima dos deputados, para atender à exigência dos banqueiros franceses. A idade de aposentadoria passou de 62 para 64 anos, o que, na prática, é um roubo dos trabalhadores para atender diretamente ao capital financeiro.
Macron agiu como um ditador. Não porque tenha ignorado a Assembleia Nacional. Afinal, se tivesse feito isso porque os deputados estariam sabotando um projeto exigido por ampla parcela da população, seria na verdade uma medida democrática – o atendimento direto aos anseios do povo. Mas ele impôs uma medida repudiada pelo povo. Nem mesmo dentro do Parlamento Macron tinha esse apoio. Só recebeu o respaldo dos banqueiros, e foi pela pressão desse 0,01% da população que ele aplicou tal medida.
Os trabalhadores franceses estavam nas ruas contra a reforma de Macron. Realizaram grandes manifestações e dias de greves gerais. Macron ignorou o seu apelo e cuspiu na sua cara. Eles voltaram a se revoltar quando a medida foi anunciada e exigiram a saída de Macron da presidência. “Macron démission” (Fora Macron), gritavam. Sindicatos como a Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT) anunciaram novas greves. Dentro do Parlamento, a primeira-ministra Elisabeth Borne foi vaiada por muitos membros ao anunciar a adoção da reforma.
Quem tem prestado apoio aos protestos populares não é a esquerda, infelizmente. A extrema-direita tem participado em peso, com seus partidos e deputados, tanto nos protestos contra políticas internas quanto nas manifestações contrárias à política externa francesa. Eles exigem a saída da França da OTAN e queimam bandeiras da União Europeia. Demonstram apoio à Rússia na guerra contra o imperialismo.
A esquerda, por sua vez, tem sido um entrave. As direções dos partidos como PS e França Insubmissa, quando não apoiam diretamente o governo de Macron, acabam indicando que ele seria melhor do que a extrema-direita, caindo na propaganda imperialista do “mal menor”, com medo do espantalho. As direções dos sindicatos ainda estão atreladas a essa burocracia pelega e dependente da burguesia. Nem mesmo a CGT tem realizado um verdadeiro combate a Macron. Essa política da esquerda é a principal responsável pela popularidade da extrema-direita.
Devido à crise econômica aprofundada com a intervenção russa na guerra da Ucrânia, que levou o imperialismo a impor uma série de sanções a Moscou e à posterior retaliação russa com o corte de fornecimento de gás, a situação na França tende apenas a piorar. As tarifas estão caríssimas, a inflação galopante. Os trabalhadores são os grandes prejudicados por isso. E Macron, para pisar ainda mais na dignidade dos franceses, ainda por cima implementa um ataque tão acintoso ao direito de aposentadoria.
Trata-se de um governo controlado 100% pelos banqueiros. Mas a França não pode ir na contramão do que ocorre nos outros países europeus. Itália, Inglaterra, Alemanha, Áustria, República Tcheca, Suécia e outros países viram a queda de seus governantes neoliberais recentemente. A crise capitalista deixou a Europa refém de um efeito dominó em que os governos que aplicam a política integral dos bancos estão caindo um por um.
Macron é, podemos dizer, o “último dos moicanos” neoliberais. Essa imposição da reforma da previdência pode até mesmo passar uma impressão de força, mas na verdade é apenas um sintoma de sua fragilidade. Teve de recorrer a uma medida arbitrária e antidemocrática porque nem o povo, nem o Parlamento, o apoiam. Os trabalhadores tendem a aumentar as mobilizações. A esquerda precisa tomar a liderança e organizar a classe operária, caso contrário também será esmagada pelo efeito dominó.