O ato bolsonarista do dia 08 de janeiro, que terminou com a invasão do Congresso e do STF, foi mais um estímulo para crescimento de um dos maiores erros políticos da esquerda, que é a defesa da repressão do Estado burguês. O que começou com a repressão aos bolsonaristas, enquanto o presidente fascista ainda estava no governo, agora se ampliou com Lula presidente. Esse fato em si já revela qual é o grande erro da esquerda: acreditar que é Lula quem comanda a repressão, não a direita que encabeça esse aparato, a chamada 3ª via, o STF e todo o judiciário. Eles, nesse momento, se colocam contra os bolsonaristas, mas seu grande inimigo é a classe operária, e, portanto, o próprio presidente Lula.
Um dos setores que se colocou abertamente a favor da repressão foi a tendência petista Articulação de Esquerda, que publicou uma nota oficial no sítio do Brasil 247 intitulada “Prisão para os golpistas” em resposta às mobilizações bolsonaristas em Brasília. O texto começa afirmando: “O ataque da extrema-direita aos prédios do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, ataque ocorrido neste domingo, 8 de janeiro, não foi um ato espontâneo, nem inesperado.” O que é uma realidade visto que as mobilizações bolsonaristas estão nas ruas constantemente desde o dia seguinte ao da eleição de Lula.
Contudo, logo após descrever a situação a nota começa a afirmar sua política repressiva: “Frente aos acontecimentos, o presidente Lula decretou intervenção federal na segurança pública do governo do DF. Manifestamos nosso total apoio a esta medida, bem como a promessa de que os responsáveis serão punidos, o que inclui o governador e o secretário de segurança do Distrito Federal.” Aqui já se apresentam três grandes erros. O primeiro é que a intervenção federal não combate o bolsonarismo, as tropas colocadas nas ruas de Brasília não serão de militantes do MST armados, como seria com as milícias populares da Venezuela, mas soldados do Exército em sua maioria bolsonaristas.
Em segundo lugar, quem controla a intervenção federal é um homem ligado a Flávio Dino, um inimigo declarado dos trabalhadores, ligado ao PSDB. Ricardo Cappeli é o atual secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, uma espécie de braço direito de Dino. E é bom lembrar que foi o ministro da justiça de Dilma um dos principais artífices do golpe de Estado contra a presidenta. Se as tropas já não são confiáveis, a direção dessa intervenção é ainda menos. Os tucanos, nesse momento, estão em guerra contra o bolsonarismo para ganhar o espaço que perderam na direita; da parte deles não existe nenhum apoio a nenhuma democracia e muito menos apoio a Lula.
O terceiro, e maior erro de todos, é o apoio à punição do governador do DF, que aconteceu pouco após a publicação da nota. Alexandre de Moraes tomou a mais ditatorial de todas suas medidas, afastou um governador eleito há menos de 2 meses. Moraes já havia afastado um prefeito bolsonarista de seu cargo, também de deputados estaduais e federais e agora chegou ao próprio governo do estado. Abrir precedente para esse poder no STF é algo perigosíssimo. É preciso lembrar, novamente, que o STF apoiou o golpe contra a presidenta Dilma em 2016 e que nada mudou de lá pra cá, dois ministros se tornaram bolsonaristas apenas.
Depois, o texto continua definindo como se deve aumentar a repressão: “Ademais, é preciso processar, julgar e punir quem financia as caravanas e os acampamentos; quem, por ação ou omissão, facilitou o acesso da extrema direita à Esplanada; quem invadiu e depredou os três palácios.” e “Propomos, também, uma revisão completa dos protocolos de segurança e inteligência do governo federal”. A partir daqui se desenvolve o equívoco de apoiar a política repressiva. Punições, julgamentos, reformas no serviços de inteligência etc. Contudo, nada disso de fato servirá para enfraquecer a extrema-direita.
Explicação geral.
O aparato de repressão é uma ferramenta que o Estado utiliza para a burguesia para se manter no poder, ou seja, é uma ferramenta para reprimir os trabalhadores. Esse aparato é controlado pelo setor mais forte da burguesia e no Brasil é aquele que ligado ao imperialismo. Por isso mesmo com Trump ou Bolsonaro no poder ambos os presidentes e suas bases foram perseguidos pelo Estado, pois não basta ter o controle do governo para se controlar o Estado. Quando se pede o fortalecimento do aparato de repressão do Estado, portanto não necessariamente se fortalece o governo, principalmente se ele é ligado aos trabalhadores.
Isso já foi visto em 2022, o ataque de Alexandre de Moraes começou com os bolsonaristas; mas, no final, o mais violento ataque foi contra o PCO, que teve todas as suas redes censuradas. Agora, começa com um governador bolsonarista, mas o que impede o STF de derrubar o presidente Lula. A lei não existe mais, pois o tribunal atua acima da própria Constituição, mas para além disso foi aberto o precedente. Um grande setor da esquerda cegamente acredita que Moraes é um aliado, o mesmo era dito por Michel Temer quando foi escolhido para vice de Dilma. Esses falsos aliados são justamente os piores golpistas pois atuam de forma infiltrada, como quinta coluna. É o caso de Alckmin, Dino, Marina Silva e o ministro da defesa, Múcio.
O texto, no entanto, fecha apontando para a direção correta: “Embora seja necessário reprimir duramente a extrema-direita e embora seja indispensável julgar, condenar e punir os criminosos, nada disto é politicamente suficiente.” e “. É o povo nas ruas e nas praças que é capaz de defender as liberdades democráticas e defender o próprio povo. E a mobilização popular precisará ser intensa e permanente. Até porque a extrema-direita já está realizando e convocando novos atos, inclusive com cortes de estradas e avenidas.” Aqui, a Articulação de Esquerda acerta em cheio. Se não é o Estado que irá reprimir os bolsonaristas quem de fato pode combater esse movimento é a classe operária e suas organizações.
E é isso que resume o problema da repressão, ela se volta sempre mais violentamente contra a classe operária e suas organizações, ou seja, na hora de maior importância ela está ao lado da extrema-direita, ou da direita tradicional, para impedir que os trabalhadores possam governar. É preciso abandonar completamente essa política repressiva e focar completamente na organização da luta dos trabalhadores contra a extrema-direita e também contra a direita tradicional, infiltrada no governo Lula, que se prepara novamente para golpeá-lo por meio desse aparato de repressão.
