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Eduardo Afonso Vasconcelos

Jornalista e produtor. Militante do PCO. Participou da formação dos Comitês de Luta Contra o Golpe no estado de Alagoas e do movimento em favor das vítimas da mineração na cidade de Maceió

Coluna

ESG: o esgoto da política mundial

Propaganda neoliberal desmorona e primeiros a cair serão carreiristas

Quem já conversou com um carreirista da sustentabilidade teve a chance de comprovar que a arrogância e a estupidez são algumas das características mais proeminentes da classe média. O ESG é atualmente a menina dos olhos do mercado financeiro capitalista e também de uma corja de oportunistas que viu nessa onda demagógica um meio de ganhar status e encher o bolso. Acontece que o lóbi climático já desmorona — ao lado da cultura woke e de ideologias equivalentes — e não vai demorar até que os ativistas de butique do ESG sejam varridos do mapa.

Uma operação de reciclagem do neoliberalismo

O rosto que o mercado financeiro assume hoje, tentando sobreviver à profunda crise econômica em que se viu instalado a partir de 2008, encontra significado no inglês em três letras: ESG. Se, por um lado, a sigla é um mero aperfeiçoamento da demagogia ecológica caquética que pinta de verde os crimes e todo o estrume da alta burguesia de países como EUA, França e Inglaterra, por outro, tenta um salto mais ambicioso ao se propor como instrumento de controle econômico mundial. Ela, porém, é uma expressão agonizante da crise e já nasceu fadada ao fracasso.

Para permanecer em desenvolvimento após 2008, o mercado financeiro precisou aprofundar a política parasitária do neoliberalismo. No Brasil, e de maneira ainda pior nos países mais atrasados, assistimos a golpes de estado, revogação de direitos trabalhistas, privatização de setores-chave da economia a preços risíveis e uma falência da indústria nacional. Ao passo que isso escancarou caminhos para o completo domínio desses mercados pelas mãos dos banqueiros e monopolistas, instituiu a decadência total da qualidade de vida da população nesses lugares.

A campanha ESG é a nova maquiagem dessa destruição neoliberal. Mas ela não só cria uma aparência de justiça social que serve de propaganda para o regime monopolista como também dá a ele condições de orientar a pauta política  —  ”ambiental, social e de governança”  — em todo o planeta. Sua real utilidade está, por exemplo, em levar concorrentes à falência sob o juízo ecológico, ou impor restrições e embargos econômicos a certos países sob pretextos éticos oportunos. 

ESG é tão somente uma operação de reciclagem de ideias puídas e malcheirosas cuja defesa os capitalistas não têm mais força para realizar sem disfarce.

A alegoria ESG desmorona ao redor do mundo

Os encontros anuais do Fórum Econômico Mundial (o WEF), em Davos, na Suíça, são a bússola da agenda ESG. Aliás, desde a Conferência de Estocolmo, feita pela ONU em 1972, boa parte das principais mentiras contadas neste e no outro século nasceram em reuniões globais de sustentabilidade. Na liderança do WEF, estão os maiores tubarões capitalistas: cerca de mil empresas cuja receita anual é de pelo menos cinco bilhões de dólares. Com aval da ONU, da União Europeia e do Banco Mundial, elas sustentam um gigantesco lóbi que pressiona diferentes estados a adequar seus mercados internos às métricas proclamadas por elas.

Durante a pandemia, através de seu fundador Klaus Schwab, o WEF publicou a ideia — que, por si só, já soa estranha — do “grande reinício”, facilmente desmoralizada pela extrema-direita norte-americana e rapidamente substituída pelo “capitalismo de stakeholders”. Objetivamente, a empreitada visa divulgar uma face mais humana e mais palatável dos vampiros que são membros do WEF. ESG, no entanto, já está em visível naufrágio, pois o mundo vem percebendo que aceitar as normas vindas de Davos é confiar não em leis sérias, mas nos interesses circunstanciais do bloco das empresas mais poderosas do mundo.

O fracasso é tanto que um dos maiores entusiastas da agenda, Larry Fink, CEO da BlackRockjá evita defendê-la em público. Também este ano, a pontuação ESG aferida pela S&P Global parece ter sido usada num acerto de contas do mercado com Elon Musk, outro defensor deliberado da pauta, que revelou o óbvio após uma avaliação negativa da Tesla: a fraude dessas disputas pelos conglomerados financeiros. Em boa parte da Ásia, onde EUA e Europa vêm perdendo o controle de forma desastrosa, os mercados nacionais não cedem à política persecutória do ESG nem abrem mão de seu desenvolvimento interno em prol dos bancos e monopólios.

Não é caridade, é investimento em propaganda

É claro que, mesmo enfraquecido, o lóbi que propaga o ESG segue recebendo enormes investimentos dos membros do WEF. Uma fatia gorda desse orçamento vai para as chamadas think thanks, entidades do mercado financeiro que se instalam ao redor do mundo para fazer ecoar suas ideias — leia-se, impulsionar determinados intelectuais e publicações, comprar deputados e autoridades e formar uma base política de apoio. No Brasil, essas think thanks são abertamente financiadas por instituições como Fundação Ford, Open Society (que já foi proibida na Hungria, na Turquia e na Rússia) e o serviço de inteligência do governo estadunidense, a CIA.

Uma delas é o Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE), que se infiltrou no meio acadêmico brasileiro nas imediações do Golpe de 2016 e cuja atuação lembra muito a do Instituto de Ação Democrática (Ibad), criado anos antes da ditadura. Na universidade pública, o braço do mercado financeiro é o Movimento Empresa Júnior, financiado pelo NED (o Fundo Nacional para a Democracia), que é controlado pela CIA. Já dentro dos movimentos sociais, são as ONGs, amplamente sustentadas por um capital acostumado a investir em propaganda enquanto diz investir em filantropia, o principal motor dessas ideias.

Foi assim que o mercado financeiro conseguiu apoio para derrubar Dilma sob o pretexto de “responsabilidade fiscal”. Assim, criou a Operação Lava Jato — em que a atuação do FBI ficou comprovada — para conter empresas brasileiras que vinham dominando o mercado mundial. Fez uma reforma trabalhista no Governo Temer que liquidou direitos históricos. Impediu Lula de concorrer nas eleições de 2018 para garantir a vitória de Bolsonaro. Abocanhou a Eletrobras e parte da Petrobras a preço de banana. E, hoje, impede a exploração de petróleo na Amazônia, enquanto a norte-americana Exxon Mobil se lambuza livremente na Guiana.

O mercado empurra os carreiristas ESG para o abismo

Parte desse investimento milionário se traduz nos novíssimos cargos públicos de sustentabilidade, bolsas, editais e posições em ONGs e corporações, pelos quais se estapeia um bando de ratazanas da classe média saídos de universidades privadas e empresas júniores de todo o Brasil. Via de regra, gente gananciosa, estúpida e pobre de espírito crítico, que assimila o ESG mesmo que não faça ideia do que há por trás dele. Essas pessoas são como marionetes nas mãos do mercado financeiro, capazes de apoiar qualquer barbaridade embrulhada em papel reciclado.

Carreiristas desse tipo possuem a ilusão de que estão no poder, já que encontram, na grande imprensa mundial e nas organizações capitalistas, amplo coro para as ideias que defendem. A arrogância desses profissionais é notória, mas eles chegam facilmente a assumir uma conduta policialesca com seus opositores. Porém, quando a política ESG for esmagada pela reação crescente de países como China, Rússia, Índia e Irã, perderão o financiamento monopolista e estarão entregues à sorte, correndo o sério risco de liquidação completa pelo fato de terem se aliado aos agentes da destruição nacional.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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