Juca Simonard

Editor da revista Na Zona do Agrião e redator do Dossiê Causa Operária

A trajetória do samba

Do Partido-Alto ao Pagode

A história do surgimento do Partido-Alto, desenvolvimento e alterações

O Partido-Alto é um dos subgêneros mais populares do samba. Sua história acompanha a trajetória do próprio gênero musical tipicamente brasileiro. Surgiu no início do Século XX, nas rodas de sambistas que se reuniam na chamada “Pequena África”, no centro do Rio de Janeiro, então capital do País. Ao final do Século XIX, o “samba” existia, mas ainda não era um gênero musical próprio. Era uma manifestação cultural da população negra, que se assemelhava às exibições artísticas do continente africano — notadamente a umbigada angolana, uma das fontes de toda a cultura popular do Brasil.

A música erudita tocada na capital se desenvolvia, tornando-se cada vez mais brasileira, com músicos como Ernesto Nazareth, que incorporava ritmos africanos, como o lundu, à música de origem europeia — polca, marcha, etc. A modinha portuguesa sofria modificações, assemelhada pelos negros brasileiros. Esse processo de miscigenação levaria ao surgimento de um ritmo novo com Chiquinha Gonzaga, considerada pioneira no choro, um dos primeiros gêneros musicais propriamente brasileiro — num momento em que o Brasil vivia um processo de industrialização através do café.

O samba, propriamente dito, surge no Rio de Janeiro, por uma miscigenação de manifestações culturais africanas e europeias, principalmente de Portugal. O fim da escravidão levou a uma migração intensa dos negros para a capital, onde a cultura erudita era mais forte. As rodas de samba da Bahia exerceriam influência no local, enquanto vinham do Vale do Paraíba, com a crise da cafeicultura na virada para o Século XX, um tipo de música rural que se assemelhava à modinha portuguesa. Na capital, a mistura destes ritmos, somada ao desenvolvimento brasileiro, que popularizaria no país instrumentos modernos da Europa, levaria ao surgimento do samba. Inicialmente, o gênero era repleto de manifestações africanas, conforme visto no maxixe.

O Partido-Alto

As rodas de samba organizadas na “Pequena África” e, depois, repetidas nos morros cariocas permitiriam o surgimento do Partido-Alto. “Samba de partido-alto é um gênero do samba surgido no início do século XX conciliando formas antigas (o partido-alto baiano, por exemplo) e modernas do samba-dança-batuque, desde os versos improvisados à tendência de estruturação em forma fixa de canção, e que era cultivado inicialmente apenas por velhos conhecedores dos segredos do samba-dança mais antigo, o que explica o próprio nome do partido-alto (equivalente da expressão moderna ‘alto-gabarito’)”, diz a Enciclopédia da Música Brasileira (Marcos Antônio Marcondes, 1977).

A improvisação, um dos aspectos centrais do Partido-Alto, é uma característica típica da cultura africana. Por isso, aparece em toda a música popular de raízes negras na América, desde o samba, passando pela embolada nordestina, até o jazz e o blues dos Estados Unidos. Os primeiros sambistas se reuniam em rodas e cantavam repetidamente um refrão, que se parecia com os cantos de trabalho dos escravos, enquanto isso era regado de batuques e danças improvisadas. A modernização do samba levaria à que esta tendência fosse superada pelo samba-canção e o samba-sincopado, cantado nas rádios a partir da década de 1930, fruto da ascensão da classe operária industrial e da Revolução de 1930.

No entanto, nos morros cariocas, a tradição se manteve, alterando-se no estilo. O destaque saiu da dança para focar nos partideiros, que improvisavam versos entre as repetições do refrão. Os partideiros lutavam entre si e o melhor improvisador ganhava a “batalha”, conquistando reputação no meio do samba. Como afirma a Enciclopédia da Música Brasileira, “inicialmente caracterizado por longas estrofes ou estâncias de seis e mais versos, apoiados em refrões curtos, o samba de partido-alto ressurge a partir da década de 1940, cultivado pelos moradores dos morros cariocas, mas já agora não incluindo necessariamente a roda de dança e reduzido à improvisação individual, pelos participantes, de quadras cantadas a intervalos de estribilhos geralmente conhecido de todos”. Pela sua dificuldade, o Partido-Alto moderno era uma espécie de “elite” entre os sambistas. Era comum, por exemplo, para poder ingressar nas escolas de samba, que os compositores tivessem de provar o seu valor, competindo na improvisação contra outros versadores.

O surgimento do Pagode

Na década de 1960, a partir do movimento de recuperação do samba tradicional, após as profundas alterações sofridas nas décadas anteriores, o Partido-Alto ascendeu entre os sambistas. Diversos discos de Partido-Alto foram gravados, num movimento que reuniria uma nova geração, como Martinho da Vila e Candeia, e sambistas antigos das escolas de samba tradicionais, como Geraldo Babão, Xangô da Mangueira, Cabana, etc.

No final da década de 1970, o Partido-Alto sofreu importantes modificações. Principal estilo das rodas de samba realizadas nos bairros operários — conhecidas como pagode —, os pagodeiros manteriam a estrutura musical dos partidos, incorporando instrumentos como o banjo e o tantã, e dando menos destaque à improvisação. Na década de 1980, com a popularização do gênero, por artistas e grupos como Fundo de Quintal, Beth Carvalho, Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, entre outros, o pagode se tornaria a vertente mais comercializada do samba, dominando o meio até hoje.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Rolar para cima

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.