Por quê estou vendo anúncios no DCO?

Morte de policial em SP

Direito ao armamento também serve para se defender da polícia

Articulista do Brasil 247 defende medida reacionária a partir de caso que nada tem a ver com a realidade

Para o esquerdista pequeno burguês, a teoria não deve servir para explicar o mundo, mas sim o mundo que deveria se encaixar em seus esquemas mentais abstratos. E assim Aquiles Lins, articulista do Brasil 247, tenta justificar sua defesa do desarmamento civil a partir de um caso que teria acontecido no Jardins, região rica da cidade de São Paulo, em seu artigo “Armamentismo desenfreado de Bolsonaro já mata os bons policiais”.

Lins conta que uma policial civil, de nome Milene Bagalho Estevam, teria ido requisitar imagens da câmera de segurança de uma residência, quando foi assassinada a tiros de pistola calibre 45 por seu proprietário, o empresário Rogério Saladino, de 56 anos. Saladino ainda teria usado outra pistola, de calibre 380, para atirar contra os policiais, que responderam e acabaram assassinando o empresário. Segundo o articulista do 247, Saladino havia confundido a ação de Milene Estevam com “um golpe”. Segundo o portal G1, em reportagem sobre o caso, o empresário e o seu vigilante, que também acabou sendo assassinado, “confundiram os policiais com ladrões”.

Que houve a tragédia, é um fato. Mas o que é suspeito da atividade de Aquiles como jornalista é não ter feito perguntas elementares. Primeiro de tudo: as armas de Rogério Saladino eram registradas? Se sim, quando foram registradas? Segundo o próprio articulista do Brasil 247, “a Polícia Civil paulista não confirmou se as pistolas usadas por ele na troca de tiros estavam registradas”. Assim sendo, já não seria factível vincular o acontecimento ao decreto do ex-presidente Jair Bolsonaro, que diminuiu um pouco a montanha burocrática que o cidadão brasileiro precisa escalar para conseguir ter uma arma legalizada.

Segunda pergunta: a policial estava fardada? Ela se identificou como tal e pediu acesso às câmeras? Não: ela utilizava trajes civis e estavam em uma viatura descaracterizada. Os fatos postos à mesa, aquilo que é pintado como um grande escândalo aparece, no final das contas, como um acidente, como uma fatalidade que poderia ter ocorrido independentemente de Rogério Saladino ter armas registradas ou não, ser bolsonarista ou não, gostar de policial ou não.

O apego de Aquiles Lins ao caso está no fato de que ele envolve a morte de um policial. Sua lógica é a seguinte: mostrar que o decreto de Bolsonaro seria tão “selvagem” que seria negativo até mesmo para aqueles que o apoiam. Trata-se de uma tentativa ingênua de cooptar uma parte dos policiais, que são quase todos bolsonaristas, para uma posição de tipo pacifista, desarmamentista. É óbvio que tal política está fadada ao fracasso: muito mais concreto que a pregação pacifista de Aquiles Lins é, para os policiais, a política que Bolsonaro defende para a corporação: a licença para matar a população pobre e sair impune de seus crimes – inclusive de crimes comuns, como a corrupção.

Consideremos, então, que o objetivo de Aquiles Lins não é “tocar o coração” dos brucutus da polícia, mas sim para a esquerda. Diz ele no próprio título: o armamento estaria causando a morte dos “bons policiais”. O articulista ainda complementa afirmando que “Milene Bagalho Estevam era uma policial competente e respeitadíssima no Departamento Estadual de Investigações Criminais, o Deic. Tida como referência por sua eficácia na resolução de crimes como homicídios e latrocínios”.

Ignoramos quem seja Milene Bagalho Estevam – isto é, se seria uma “boa” ou uma “má” policial. No entanto, a lógica de Aquiles Lins não leva em conta o caráter do policial. Ora, o problema do armamento, para Lins, é que pessoas como Rogério Saladino, que não seriam profissionais do manuseio de armas de fogo, hoje podem atirar contra a polícia, que deveria ter o monopólio das armas de fogo. A única conclusão à que podemos chegar, se levarmos a sério o que pensa o articulista do Brasil 247, é que a única forma de evitar a morte de policiais é garantindo que só os policiais tenham acesso às armas de fogo!

Essa ideia fica clara no seguinte trecho:

“Tragédias lamentáveis como esta reforçam a importância das decisões tomadas pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que reverteram parte das facilidades para adquirir armas de fogo no Brasil. Tarcísio se manifestou contra as medidas. Além de grande parte das armas adquiridas irem parar nas mãos do crime organizado, a posse de revólveres, pistolas, fuzis e outras armas de grosso calibre estão em posse de ditos “cidadãos de bem” que, munidos de qualquer interpretação equivocada de um evento, não hesitam em abrir fogo e tirar a vida de outra pessoa, colocando a sua própria vida em risco”.

Antes de tudo, é preciso destacar: Aquiles Lins sequer provou que a morte da policial neste caso ocorreu devido à flexibilização do acesso às armas. Ainda que fosse este o caso, não é o caso de muitas mortes policiais que ocorrem Brasil afora. O próprio Aquiles Lins cita “o massacre realizado pela Polícia Militar na periferia da cidade de Guarujá em reação à morte do soldado Patrick Bastos Reis, de 30 anos”. Não há qualquer indício que essa morte também tenha sido causada por armas registradas.

Mas suponhamos, momentaneamente, que os policiais brasileiros só morrem por projéteis disparados por amas registradas. Seria preciso, ainda, perguntar: o que seria efetivamente democrático, impedir que toda a população brasileira tenha acesso a armas de fogo e, assim, supostamente impedir a morte de policiais, ou permitir o armamento de população?

É óbvio que o democrático seria a segunda opção. Em primeiro lugar, vamos aos números: apenas em 2022, os policiais mataram 6.430 pessoas. Ao mesmo tempo, morreram apenas 143 policiais. Em segundo lugar, é preciso se perguntar: por que a polícia mata tanta gente? Todo mundo sabe. A polícia atua como se fosse uma máquina de guerra contra a população, matando indiscriminadamente, como se fosse, ao mesmo tempo, promotor, juiz e carrasco, aplicando diariamente penas de morte em um País em que tal coisa é proibida. A Operação Escudo, na cidade do Guarujá, citada por Aquiles Lins, é comprovação disso: a polícia agiu por vingança e matou e torturou 28 pessoas, sem que essas pessoas sequer fossem julgadas.

Defender que a população ande desarmada e a polícia, armada até os dentes, é defender que, em uma guerra do aparato de repressão do Estado contra o povo, a polícia esteja em franca vantagem. Nesse sentido, se um policial tiver efetivamente morrido em razão do decreto do armamento, isto só mostra que a política de armar a população é algo democrático – embora que muito ineficiente, uma vez que o correto seria legalizar integralmente o direito às armas. Assim, se a polícia também pode levar tiro, isso significa que o cidadão também pode se defender dos abusos do Estado. O direito ao armamento é, no final das contas, o direito do povo a não ser escravizado pelo Estado.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.