O jornal Esquerda Diário, órgão do Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT), um agrupamento da esquerda pequeno-burguesa oriundo do morenismo, que por anos lutou, sem sucesso, para entrar no PSOL, publicou recentemente a declaração da Liga dos Trabalhadores pelo Socialismo (LTS), organização irmã do MRT, sobre o caso Essequibo.
Não abordaremos aqui o artigo na sua totalidade, mas apenas uma das ideias contida nele. Trata-se, é bem verdade, de uma ideia essencial para o conjunto da posição adotada pela organização.
Questionando o caráter anti-imperialista da medida adotada por Maduro, a nota afirma que a reivindicação venezuelana não é “dirigida contra uma potência capitalista predatória, saqueando os povos, mas contra um pequeno país saqueado e empobrecido”. “O império britânico saqueou a Venezuela… mas a Guiana não é o Império Britânico,” nos explica a LTS.
Ou seja: Maduro, seguindo os desígnios da burguesia local, estaria espoliando um país atrasado. Não há qualquer traço de luta anti-imperialista no episódio. E, portanto, não há qualquer elemento que justifique um apoio à pretensão venezuelana. Eis, em resumo, a posição da organização morenista sobre a questão.
A posição é absurda. Na essência, consiste numa posição pró-imperialista.
As atuais fronteiras do Estado venezuelano resultam da ação do colonialismo britânico no século XIX, quando a Grã-Bretanha incentivou colonos a invadirem as terras a oeste do rio Essequibo. Nesse período, após um acordo com os Países Baixos, o Império Britânico colonizou a região guianense, especificamente Essequibo. A ocupação britânica teve como objetivo consolidar o território que hoje compreende a Guiana. Assim, a Grã-Bretanha anexou o território venezuelano sem consentimento da população local, que, na época, não pôde reagir devido à disparidade militar gritante entre os britânicos, maior exército do mundo à época, contra a Venezuela, um relativamente pequeno e novo país da América do Sul. Os britânicos finalmente conseguiram formalizar Essequibo como parte de seus domínios em 1899, quando o famigerado Laudo Arbitral de Paris, um documento diplomático que favoreceu a Grã-Bretanha, foi estabelecido. Tal documento revelou-se uma fraude completa, uma vez que a Venezuela foi representada nas negociações do acordo… por dois norte-americanos.
Rica em recursos minerais, em gás e petróleo, Essequibo é hoje um parque de diversões de monopólios imperialistas, como a Exxon Mobil. Essequibo, ao fim e ao cabo, é um território roubado da Venezuela pelo colonialismo britânico. Mais ainda, trata-se ainda hoje de um território explorado econômica e politicamente pelas grandes empresas do imperialismo mundial.
A Guiana é um exemplo típico daqueles países artificiais, criados quase que arbitrariamente pelas manobras do imperialismo. Seu governo é um governo-fantoche do imperialismo, uma espécie de departamento das grandes petroleiras norte-americanas e inglesas.
Diante disso tudo, como é possível que uma organização que se reivindica “revolucionária” e “marxista” não veja na ação do governo nacionalista de Nicolás Maduro um ataque frontal aos interesses do imperialismo na região? De marxista e revolucionária, a LST e o MRT não tem nada.
Mais recentemente, tais organizações já haviam adotado uma posição vergonhosa na questão palestina. Criticaram “os métodos e a estratégia do Hamas”, num claro alinhamento com as diretrizes do imperialismo. Agora, novamente, alinham-se ao imperialismo na questão da Guiana Essequibo. A guinada à direita parece ser a tendência de movimento desses grupos pequeno-burgueses que, diante da pressão dos acontecimentos da luta de classes, se dobram aos interesses das forças que dizem combater. A falência desses partidos encontra-se em estágio avançado.