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Fábio Picchi

Militante do Partido da Causa Operária (PCO). Membro do Blog Internacionalismo e do Coletivo de Tecnologia do Partido da Causa Operária. Programador.

Robotizados

Atividades que jamais imaginaria sendo realizadas por AI

Numa sociedade em que professores e até mesmo padres podem ser substituídos por robôs, reina a pergunta: estariam as máquinas cada vez mais humanas ou nós cada vez mais robóticos?

Numa sociedade em que professores e até mesmo padres podem ser substituídos por robôs, reina a pergunta: estariam as máquinas cada vez mais humanas ou nós cada vez mais robóticos?

Sob risco de tornarmo-nos repetitivos, esse domingo discutiremos mais uma vez as tais “inteligências artificiais”. Como quem acompanha essa coluna já sabe, coloco o termo devidamente entre aspas para trazer um pouco de humildade aos “cientistas de dados” que precisariam antes entender a definição da inteligência natural, humana, antes de proclamar a invenção de seu homólogo digital. As aspas recaem sobre os técnicos que criam esses grandes modelos estatísticos, com bilhões, senão trilhões de variáveis, porque acredito que a base de uma ciência seja a compreensão dos fatos e não o mero ajuste de hiperparâmetros até que o maquinário estatístico, opaco a seus criados, entregue resultados plausíveis.

Nosso objetivo aqui não é obscurantista. Não queremos nos opor ao avanço tecnológico. Apenas buscamos conter o entusiasmo descabido ao redor de um campo que avança razoavelmente linearmente desde os anos 1960 e que parece agora estar no centro das atenções mais em benefício de especuladores do mercado financeiro do que da sociedade de conjunto que poderia. Eis que chegamos ao tema deste domingo: ao final de junho, a celebrada universidade de Harvard anunciou que seu curso de introdução à ciência da computação será ministrado por um robô similar ao Chat GPT.

Já criticamos aqui a ideia de chatbots roubarão empregos de programadores ou que geradores de imagem acabem com o ganha-pão de artistas. Em ambos os casos, a robotização dos profissionais é o principal fator que contribui para a surpresa de todos quando os modelos de aprendizagem de máquina simplesmente executam com primor suas atividades. Mas a substituição de um professor universitário? Se nossa tese estiver correta, isso implica a robotização do ensino, mesmo superior, já está em curso há um bom tempo.

“Nossa esperança é que, através da I.A. (Inteligência Artificial), nós consigamos nos aproximar da proporção 1:1 entre estudantes e professores para cada aluno”, anunciou o professor David Malan à publicação interna da universidade The Harvard Crimson.

Outro exemplo trágico do uso de “inteligências artificiais” – trágico se não fosse cômico – foi a igreja evangélica alemã, da cidade de Fürth, que decidiu usar o Chat GPT para criar um sermão para seus fiéis. Os padres foram além de meramente gerar o texto com a ferramente e usaram um gerador de voz para entregar a “palavra de Deus” aos 300 presentes na igreja no último dia 9. Como ateu, sempre imaginei que a força da religião não estava no conteúdo de seus escritos, especialmente difícil de acreditar em sua totalidade no século XXI, mas na conexão humana e na providência de uma explicação, ainda que sobrenatural, para o suplício que é viver nessa sociedade bárbara. Parece que o ópio do povo agora está se transformando no crack do povo. 

Com o avanço das forças produtivas, seria de se esperar que o Homem, com mais tempo livre, pudesse dedicar-se às melhores coisas da vida: à ciência, à cultura e às relações humanas. O que vemos no capitalismo cada vez mais decadente, porém, é a mecanização desses elementos da existência humana, enquanto atividades essencialmente repetitivas continuam sendo realizadas por operários ao redor do mundo.

Vemos a automação de inúmeros trabalhos que deveríamos nos perguntar se deveriam existir em primeiro lugar, como os infindáveis publicitários que planejam a próxima campanha em favor de um produto que ninguém quer comprar. Ou os propagandistas de guerra e da política imperialista, vulgarmente chamados de jornalistas, nos grandes veículos de imprensa da burguesia mundial.

Finalmente, sobre a pergunta que lançamos no início da coluna, o movimento acontece nas duas direções. Os modelos de aprendizagem de máquina, possíveis graças aos avanços na miniaturização de transistores e no design de chips cada vez mais poderosos, aparentam ser mais humanos porque o nosso comportamento, guiado por um enorme aparato de propaganda mundial, é cada vez mais robótico e mecanizado. O obscurantismo diante do avanço tecnológico transparece em declarações dos barões do mundo da tecnologia, como o executivo do Google Mo Gawdat, que comparou os grandes modelos de linguagem natural a “Deus”, e o empresário Elon Musk, que os atribuiu um caráter “demoníaco”.

Chegamos a tal ponto que há uma grande parcela da sociedade que defende a censura estatal e o respeito máximo às autoridades, cada vez mais literalmente detentoras da verdade. Dessa forma, nos tornamos cada vez mais robóticos, propagadores da ideologia burguesa que é retroalimentada na sociedade por chatbots que apenas “compreendem” esta etapa social, a ditadura da burguesia imperialista. Nesse mundo ausente de críticas, de transmissão de conhecimento meramente técnico, talvez Harvard esteja certa: o professor humano pode transformar-se em peça de museu.

Mas para a nossa sorte, este não é o fim da História.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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