Nas palavras do próprio Rei Pelé, foi “a defesa foi uma das melhores que já vi, na vida real e em todos os milhares de jogos que assisti desde então. Quando você é um jogador de futebol, você sabe exatamente quão bem tem que acertar a bola. Eu acertei a cabeçada exatamente como eu esperava. Ela foi onde eu queria que fosse. E já estava pronto para comemorar. Mas então este homem, Banks, apareceu como um fantasma azul, como o descrevi. Ele veio do nada e fez o que eu não achava ser possível. Ele puxou a bola, de alguma forma, para cima e para fora do campo. E eu não pude acreditar no que eu vi. Até hoje, quando assisto, não acredito. Não acredito como conseguiu se mover de tão longe e tão rápido”.

O lance foi espetacular, Jairzinho dispara pela direta com o zagueiro Terry Cooper (camisa 3) no seu encalço, vai até a linha de fundo e cruza para trás. A bola cruza a área a 75 km/h percorrendo 25 metros, passa três metros da marca do pênalti quando, quase parando no ar, Pelé desfere uma cabeçada certeira em direção ao chão. Apesar de ter 1,75 de altura, o marcador inglês, Thomas Wright (14), subiu 50 cm no salto, enquanto o nosso craque, dois centímetros menor, saltou 70 cm do chão.
Gordon Banks teve de se antecipar, pois tudo isso durou pouco mais de meio segundo, foram 0,6 s entre a cabeçada, o quicar da bola no chão e a defesa assombrosa. A bola saiu da cabeça de Pelé a 45 km/h e, depois de quicar, levou apenas 2 décimos de segundo até mão de Banks aparecer no caminho.
Naquele 7 de junho, no Estádio Jalisco, no México, segundo Emerson Leão, goleiro reserva da Seleção, houve um momento de silêncio geral com aquela defesa, logo seguido de merecidos aplausos.
Eram os campeões
A Inglaterra vinha de ser campeã mundial, em 66, Copa que Pelé não pôde jogar, pois foi vítima da deslealdade dos jogadores das seleções portuguesa e búlgara. Nosso craque se contundiu com gravidade e ficou fora do mundial.
Apesar disso, o time inglês mostrou que não era isso tudo, perdeu nas quartas de final para a Alemanha e foi despachado.
Gordon Banks ficou conhecido como o goleiro das defesas impossíveis. Nesse jogo contra o Brasil, acabou sendo vazado por Jairzinho, que recebeu uma assistência de Pelé, muito parecida com aquela a Carlos Alberto Torres, na final contra a Itália.
Esse é mais um dos gols antológicos que não foram marcados por Pelé. O único jogador que ficou famoso pelos gols que fez e também pelos que não fez, pois as jogadas foram espetaculares, como a tentativa antes do meio do campo contra a Tchecoslováquia e o drible desconcertante em Mazurkiewicz, goleiro do Uruguai.
É preciso lembrar que essas jogadas acabaram influenciando gerações futuras de jogadores. Inúmeros dribles fantásticos saíram dos pés de Pelé, e aqueles que não criou acabou aperfeiçoando, como o famoso gol de bicicleta.
Felizmente, muitos dos lances de Pelé estão eternizados em gravações. Muitas se perderam ou sequer foram registrados. Então, podemos apenas imaginar a enormidade de lances incríveis que esse gênio inalcançável da bola criou.