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Roberto França

Militante do Partido da Causa Operária. Professor de Geografia da Unila. Redator e colunista do Diário Causa Operária e membro do Blog Internacionalismo.

Vitória russa

15 anos da vitória na Guerra Russo-Georgiana

Há 15 anos atrás iniciava a guerra russo-georgiana, uma guerra que consolidou a política moderna de defesa russa.

Em 8 de agosto de 2008, o então presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, decidiu copiar Adolf Hitler, no que ficou conhecido como a ‘Guerra relâmpago contra os ossetas’. Junto com a Abkházia, a Ossétia do Sul declarou independência e a defendeu em combate no início dos anos 1990, quando o governo de extrema-direita da Geórgia tentou pela “limpar” o país de todas as minorias étnicas.

Desde 1991, após o colapso da União Soviética, a CIA e a OTAN aprofundaram o trabalho na região do Cáucaso com a finalidade de organizar grupos militares que lutassem ao lado dos EUA na promoção da guerra de desgaste contra a Rússia. Ao longo de décadas a OTAN treinou grupos armados na Geórgia, que acumularam experiência durante a invasão do seu suserano, os EUA, no Iraque. O plano de Washington foi efetivado em parte, pois alguns territórios foram rapidamente incorporados – como foi o caso da Geórgia, território privilegiado da extrema-direita-, enquanto outros territórios resistiram à pressão de Washington, como é o caso da Ossétia do Sul. 

No primeiro dia da guerra, que durou 5 dias, os soldados de Mikheil Saakashvili, líder georgiano, começaram a vencer a pequena milícia osseta, atacando civis de “sangue impuro”. No mesmo dia, o presidente da Rússia, Dmitry Medvedev, ofereceu ajuda para impedir o plano de Saakashvili, enviando tropas para defender os ossetas. Com força no poder terrestre e total superioridade no poder aéreo, a aliança russo-osseta derrotou a Geórgia.

Geórgia e a Revolução Rosa

Como etapa da marcha do imperialismo para o leste, a Geórgia foi instigada a orientar sua política aos interesses da OTAN em 2003, com a Revolução Rosa. Desde 1994, o governo americano deu início à política de expansão da OTAN, absorvendo doze países da Europa Central e Oriental. Em 2003, a Geórgia organizou sua revolução e, em 2004, a OTAN incorporou os bálticos. 

Geórgia e Ucrânia – que tinha feito a revolução laranja – estavam fazendo a lição da OTAN, até que 2008, uma declaração da reunião da Cúpula da OTAN dava boas-vindas aos dois países, sinalizando ingresso como membros efetivos, porém sem data prevista para o início de suas atuações no bloco militar. 

Financiados pela organização não governamental norte-americana Soros Foundation, ativistas georgianos visitaram Belgrado, Sérvia, onde receberam treinamento do grupo Otpor poucos meses antes da queda de Shevardnadze, em 2003. Ao retornar à Geórgia, os ativistas georgianos formaram o grupo Kmara (Basta), que tinha como objetivo lutar contra a “corrupção” do governo de Shevardnadze, e “promover a democracia”, por meio da estratégia de mudança de regime expressa pela Revolução Rosa, e integrá-la ao Ocidente política e economicamente, mediante cooperação com a União Europeia.

Para fortalecer os laços com a União Europeia e a OTAN, e ser incorporado como fantoche do imperialismo, a Geórgia fez sua versão da ‘guerra relâmpago’ para incorporar o território da Ossétia do Sul, tentando dar fim ao regime autônomo da república caucasiana aliada à Rússia. Mil soldados americanos, durante a operação Immediate Response, próximo à capital da Geórgia, Tibílisi, treinaram as forças de Armênia, Azerbaijão, Geórgia e Ucrânia. Outras operações também foram realizadas para refinar o ataque à Ossétia. 

O Cáucaso é fundamental geoestrategicamente, pois através da Geórgia e Azerbaijão pode-se desviar da Rússia e Irã. Trata-se de um entroncamento entre dos mares, o Cáspio e o Negro, além de ligar Europa e Ásia Central.

Questões atuais

O conflito deixou um saldo de 162 mortos, 2500 edifícios residenciais destruídos e 34 mil ossetas refugiados, além 17 mil georgianos. 

Em 2022 seria realizado um referendo para levar a república que tem 30 anos de independência da Geórgia, fazer parte da Federação Russa, porém as eleições presidenciais acabaram promovendo o adiamento. Entre os ossetas, mantém a tradição da língua russa, diferentemente da Geórgia – conforme imagem extraída da imprensa estatal do país – e as boas relações com a Rússia, primeiro país que reconheceu a independência do país. 

Embora a Ucrânia esteja desfrutando de um apoio ocidental sem precedentes, isso não impedirá Moscou de atingir seus objetivos de segurança nacional – assim como não ajudou a malfadada invasão da Ossétia do Sul pela Geórgia em 2008, disse o ex-presidente russo Dmitry Medvedev nesta terça-feira.

Via Telegram, Medvedev durante a recordação dos 15 anos do início do conflito de cinco dias entre Rússia e Geórgia, observou que Moscou “respondeu resolutamente ao ataque desprezível”, quando era presidente da Rússia. De acordo com o ex-presidente, o georgiano Mikhail Saakashvili tinha o apoio do “Ocidente coletivo, que mesmo assim estava tentando agitar a situação nas imediações das fronteiras da Rússia”. Por isso, continuou Medvedev, a Rússia teve que “punir severamente os nacionalistas [georgianos] impudentes”. Ao explicar o fracasso georgiano, o ex-presidente disse que “os EUA e seus vassalos claramente não tinham experiência suficiente na época”.

A Geórgia viu as palavras de Medvedev como provocação, o que servirá para o imperialismo forçar a Geórgia a pressionar a Rússia novamente, indício já descoberto desde o ano passado pela inteligência russa. Assim como a Ucrânia, um freguês que gosta da condição de vassalo. Medvedev foi taxativo em relação a isso: “Hoje eles estão mais uma vez travando uma guerra criminosa por procuração, tentando varrer a Rússia da face da terra”, acrescentou, referindo-se ao conflito na Ucrânia.

Medvedev, político radicalizado em relação a Putin, considera que “Todo o sistema da OTAN está a lutar contra nós praticamente a céu aberto. Temos forças suficientes para resolver todas as tarefas da operação militar especial. Tal como em Agosto de 2008, os nossos inimigos serão esmagados e a Rússia alcançará a paz nos seus próprios termos”.

Essa forma de paz não está dimensionada entre a esquerda atual, majoritariamente pequeno-burguesa, pois estão sob os manuais do imperialismo. Toda provocação na região euroasiática vem do imperialismo, seguindo a proposta de Spykman. No livro The Geography of the Peace são descritos em 66 páginas de coluna dupla – era então, e continua sendo hoje, uma poderosa análise da geopolítica global. 51 mapas retratam o globo a partir de várias projeções geográficas, mostram a distribuição de chuvas, agricultura, recursos energéticos e densidades populacionais e traçam rotas de transporte. Alguns dos mapas mostram as zonas de conflito da Segunda Guerra Mundial. 

Outros mapas mostram a distribuição do poder mundial conforme previsto por outros teóricos geopolíticos, incluindo Halford Mackinder e Karl Haushofer. Entre todos os mapas, chama a atenção os mapas onde define qual é a área Core do planeta e como conquistar. Esse é o definidor da política dos EUA até hoje.

Para Spykman é preciso exercer pressão sobre o território russo a partir de suas adjacências, estabelecendo o desgaste necessário para fazer com que a Rússia se renda, ou que pelo menos os territórios adjacentes se fortaleçam.

Igor Gielow e sua análise pró-imperialista

O analista de assuntos internacionais da Folha de S. Paulo, Igor Gielow, traz para o jornal análises prontas do imperialismo. Para o analista, a guerra russo-georgiana, teve a reação de Putin quando da invasão de Tiblisi, quando na realidade foi Medvedev. A reação russa se deveu à ameaça não apenas à Ossétia do Sul e Abcácia, mas às fronteiras da própria Rússia. Gielow, no entanto, tenta desqualificar a ação russa de defesa: “Na mentalidade russa, é preciso ter controle sobre o entorno estratégico do país para bloquear as rotas históricas de invasões: o oeste, pisoteado por botas suecas, napoleônicas e nazistas ao longo dos séculos, o sul ameaçado pelos turcos e os vastos vazios da Ásia”. “Para os críticos, isso não passava de paranoia imperialista, o que é uma forma de ver a coisa. Do ponto de vista russo, Putin apenas cumpriu o que prometeu. Logo após a cúpula da Otan em que foram prometidas vagas à Geórgia —no Cáucaso, a fronteira sul— e à Ucrânia —o grande corredor oeste—, foi à ação.”

Diante disso, Gielow propõe que o imperialismo observe essa ação, que no entender dele era um prenúncio para o que ocorre na Ucrânia: “Uma coisa é certa: se hoje o mundo se equilibra ante uma cenário aguda, não foi por falta de aviso, de um lado e do outro, que chegou a isso”. Esse jornalismo supostamente analítico promove a política de Spykman, não colaborando em nada para a crítica, tampouco para a paz.

Por isso, como bem coloca Medvedev, a Rússia deve buscar a paz ao seu próprio modo, pois é atacada por todos os lados, até pela imprensa de um país como o Brasil, que sofre ataques no nível de soft power, mas que no futuro pode ser ainda mais cercado de bases militares.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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