Para atingir Lula, a revista Veja lançou uma matéria com o título “Sem negros na transição? O que é isso, companheiro?” que, como se imagina pelo título, é uma tentativa de colocar os negros contra o governo Lula – que ainda nem começou.
É válido lembrar, desde já, que a transição não é o governo. O gabinete de transição, liderado pelo também golpista Geraldo Alckmin, é apenas uma equipe indicada pelo futuro governo para levantar dados e fazer alguns acordos – por isso a indicação do eterno PSDBista, inclusive -, mas não significa que será exatamente o que o governo pretende fazer.
Em certo momento, a matéria menciona que “Lula e o PT sempre denunciaram o racismo e a exclusão do negro da política”, em tom de crítica, por apontar que, com a equipe de transição atual, seria como se Lula tivesse “mudado”. Uma concepção equivocada, de fato, porque quando analisamos o que realmente incomodou a revista Veja e os demais golpistas, entendemos o porquê da imprensa capitalista tentar jogar os negros e as demais pessoas contra o presidente eleito.
Em seus discursos atuais, já eleito, Lula está tomando posições extremamente à esquerda, como quando defende que não venderá nem um dedo da Petrobrás, critica todas as demais privatizações, o Teto de Gastos e a Reforma da Previdência, por exemplo. Está se abrindo uma crise entre a burguesia e a política de Lula, o que, diga-se de passagem, é muito bom para os trabalhadores. Entender que a burguesia não está do nosso lado é fundamental para a compreensão política da situação. Mas o que há de mais relevante aqui é o fator prático: quando Lula entra em confronto com o imperialismo, como está fazendo em todas as suas falas e ações dos últimos dias, ele está entrando em contradição com o maior inimigo dos negros, que é o próprio imperialismo.
Lula representa um Brasil soberano, um Brasil que negocie por si e não de acordo com o que os tentáculos imperialistas indiquem que devemos fazer. Por isso, e apenas isso, que a imprensa burguesa não consegue aceitar seu mandato. Nem pelos negros e nem pelas mulheres, já que esses grupos estão dentre os oprimidos diuturnamente pelo sistema capitalista. O que incomoda é o confronto gerado sobretudo nos posicionamentos econômicos de Lula, que se alinham à esquerda e fazem com que a arma do identitarismo precise ser usada pela direita mais uma vez.
No fim, a matéria da revista golpista traz a seguinte afirmação: “Se não havia negros no hotel e na foto oficial onde se comemorou a vitória de Lula e se não há negros na Comissão de Transição, haverá nos ministérios e nos demais cargos de prestígio?”. O teor político de tal questionamento, assim como do resto da matéria, é nulo. São palavras jogadas ao vento que, organizadas, continuam jogadas ao vento, em demonstração que não passam de insinuação ou intriga.
A abordagem do identitarismo tem por característica fundamental não querer realmente um mundo melhor para os negros e todas as pessoas. Consiste numa manobra da burguesia: fazer com que o discurso seja vazio, a política de aparências, e que sejam defendidas cada vez mais reformas que não mexam na base do sistema capitalista, como se ele não fosse o próprio problema. O imperialismo deve ser combatido e toda sua política junto. Por fim, por não apresentar nenhuma política séria, a matéria, como de praxe da imprensa capitalista, só serve para abrir uma tentativa de cisão golpista do movimento negro contra o governo do presidente Lula.