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Governo da burguesia?

Uma interpretação absolutamente torta do caráter do governo Lula

O governo Lula não é um governo dependente da burguesia, mas um governo em disputa. A posição independente dos trabalhadores deve ser de ataque à burguesia, não ao governo

Entre os setores da esquerda pequeno-burguesa, vemos basicamente duas posições contraditórias em relação ao que virá pela frente em um terceiro governo Lula. A primeira posição é a do “oba oba”, da crença de que Lula está angariando o apoio de amplas parcelas do aparato do Estado, do centrão, da imprensa golpista e do “mercado”. E por isso Lula teria a governabilidade garantida para aplicar seus programas de reformas sociais em benefício do povo brasileiro, como se a burguesia estivesse disposta a permitir tais programas.

A segunda posição é a de que esses supostos apoios que Lula estaria angariando comprovariam que ele é um candidato dos capitalistas e do imperialismo e que, apesar de a derrota de Bolsonaro ter sido uma vitória dos trabalhadores, Lula já se comprometeu a aplicar o exato programa exigido pelos banqueiros.

Esta última posição é compartilhada pela Esquerda Marxista. “A candidatura de Lula, aliás, aliando-se a vários elementos da velha política, apareceu mais do que a candidatura de Bolsonaro como sendo a representante do velho sistema”, escreve.

Ora, se Lula foi o candidato do “velho sistema”, ou seja, do sistema, do regime político, da burguesia e do imperialismo, por qual motivo o agrupamento que se reivindica trotskista o apoiou? Afinal de contas, é uma questão de princípios políticos para uma organização marxista apoiar somente as candidaturas representativas da classe operária e não votar nas candidaturas da burguesia e do imperialismo. Isso significa que a Esquerda Marxista teria apoiado uma candidatura do “velho sistema”, uma traição da política revolucionária.

A Esquerda Marxista utiliza alguns argumentos que indicariam como Lula foi um candidato burguês nas eleições e será um fantoche da burguesia em seu governo.

“A campanha de Lula enterrou qualquer reivindicação popular com que tinha coqueteado no começo da trajetória. Na campanha do 2º turno, ampliaram-se as alianças com a burguesia. Ao invés da laicidade do Estado, Lula passou a citar ‘Deus’ a todo momento, tentando parecer mais religioso que Bolsonaro. Colocou-se pessoalmente contra o aborto, sem explicar a necessidade de legalizar o direito das mulheres ao aborto. Lançou a ‘Carta ao Brasil do Amanhã’ que, assim como a ‘Carta ao Povo Brasileiro’ de 2002, foi um compromisso com o capital financeiro de manutenção da ‘responsabilidade fiscal’, leia-se: pagar a dívida pública em primeiro lugar, mesmo que para isso tenha que cortar orçamento de qualquer área essencial. Só a partir da reta final do 1º turno, a campanha de Lula convocou comícios de massa. No geral, o que vimos foi uma campanha centrada na internet, com ataques despolitizados ao adversário, ao invés de uma campanha que impulsionasse a organização e mobilização a partir de comitês de base, nos bairros e cidades, dialogando com as necessidades concretas do proletariado.”

O grupo não entendeu. Acredita que o aspecto direitista e conservador da campanha de Lula se sobrepõe ao aspecto esquerdista e progressista. Isso não é verdade. Tanto é assim que Lula se elegeu. Se o aspecto direitista e conservador de sua campanha tivesse se sobreposto, ele não teria vencido a eleição.

Os acordos feitos por Lula com a terceira via e setores capitalistas não são o fundamental. Eles não são acordos com o conjunto e nem mesmo com a ala principal da burguesia e do imperialismo, mas com uma “sombra da burguesia”, como caracterizou Trótski a frente popular de 1936 na França, ou no máximo com setores falidos da burguesia. A burguesia de conjunto lutou até o final para impedir a vitória de Lula, com coação patronal, financiamento cerca de cinquenta vezes maior da campanha de Bolsonaro em relação à campanha de Lula e utilização da máquina do Estado para comprar votos e impedir eleitores de irem votar.

Com relação às propostas, mesmo que rebaixadas, elas não são o que a burguesia esperava, como é o caso da “Carta ao Brasil do Amanhã”, criticada pelo mercado financeiro. A burguesia e o imperialismo não aceitam reformas sociais no Brasil e as negociações com o “centrão” para que o novo Auxílio Brasil ─ ou Bolsa Família ─ seja incluído no Orçamento de 2023 mostram isso (para os banqueiros, não pode haver nem um gasto a mais do que foi feito por Bolsonaro, que já eram gastos considerados negativos).

A Esquerda Marxista acha que propostas, discursos e acordos são o mais relevante na situação política. Isso é não levar em conta a luta de classes. Apesar de toda a sua moderação, Lula foi pressionado pelas bases para ir à esquerda e o que se viu no segundo turno foi uma imensa mobilização de massas, até mesmo relativamente radicalizada. No final das contas, o final da campanha foi a expressão concreta da luta de classes: a mobilização política do proletariado a favor de seu candidato contra a mobilização política da burguesia a favor do seu candidato.

Vai mais longe e, sob a farsa do caráter do governo Lula, indica qual será sua política a partir de 2023: “O governo Lula, sabemos, será um governo de União Nacional, um governo de um partido operário com a maioria da burguesia. A indicação de Geraldo Alckmin como o coordenador da transição mostra quem vai mandar no governo – a burguesia. Nós sabemos, só com a ruptura com a burguesia poderá haver o atendimento das reivindicações da classe trabalhadora e da juventude.”

Ou seja, se o governo Lula será um governo onde “quem vai mandar é a burguesia”, portanto o governo Lula será um inimigo dos trabalhadores. Esse é o início do caminho para tomar posições golpistas quando ocorrer uma crise do governo Lula com a burguesia e o imperialismo, tal como houve com Dilma Rousseff a partir de 2014. Motivada por uma avaliação absolutamente torta da eleição e do novo governo Lula, a Esquerda Marxista e demais grupos supostamente radicais da esquerda tende, com essa política, a ficar a reboque do imperialismo caso este tente um novo golpe de Estado contra o PT ─ possibilidade que não é nada descartável.

A posição correta a ser adotada no terceiro governo Lula é não participar do governo nem mesmo apoiar a política do governo de modo geral ─ como nós não apoiamos a política do PT ─, mas também não fazer oposição ao governo. O PCO vai manter o critério que sempre adotou: vai apoiar o governo do PT contra a direita naquilo que for uma medida democrática e naquilo que favorecer os interesses dos trabalhadores o PCO vai apoiar criticamente. Naquilo que for contra os interesses dos trabalhadores, o PCO irá criticar o governo Lula.

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