O primeiro turno das eleições de 2022 produziu um saldo no mínimo inesperado para a esquerda pequeno-burguesa que, cega pela política do “já ganhou”, acreditava que Lula venceria o pleito sem a necessidade de uma segunda votação. Entretanto, muito pelo contrário, o ex-presidente, apesar de permanecer em primeiro lugar, terminou a corrida com 48,43% dos votos. Enquanto isso, o segundo lugar, Bolsonaro, angariou 43,20% dos eleitores que compareceram às urnas.
Ou seja, Lula não só não ganhou, como recebeu uma votação muito similar à de Bolsonaro. Resultado que, diga-se de passagem, desbancou a imensa maioria das pesquisas eleitorais da imprensa burguesa que, para desmobilizar o PT, apontavam à vitória de Lula no primeiro turno.
A esquerda pequeno-burguesa, seguindo sua “tradição” dos últimos 4 anos, continuou a chamar os eleitores e, de maneira geral, a base de Bolsonaro de “gado”. Uma alusão ao entendimento equivocado de que trata-se de um grupo facilmente manipulável, tal qual um bando de animais.
Fato é que, se traduzirmos a porcentagem de votos que Bolsonaro recebeu para um número de eleitores, temos que o atual presidente obteve 51.072.345 votos, cifra que representa cerca de 25% da população brasileira e 32% do eleitorado nacional. Uma parcela que, consequentemente, não pode ser simplesmente ignorada.
Caso contrário, a esquerda estaria abandonando uma parte muito expressiva da classe operária brasileira. E que tipo de política progressista é essa que desconsidera um quarto da população? Simplesmente não condiz com uma conduta que diz defender os interesses dos trabalhadores.
Nesse sentido, todos aqueles que votaram em Bolsonaro, seja agora, seja no passado, não podem ser chamados de “gado” e, consequentemente, excluídos de qualquer tipo de luta política da esquerda. Afinal, apoiam Bolsonaro em decorrência de um fenômeno político, e não de algum tipo de idiotice, tal qual aponta a esquerda.
Acima de qualquer julgamento moral, é uma parcela da população que deve ser disputada e efetivamente ganha para o lado de Lula. São trabalhadores, em sua maioria, como qualquer outros. O único problema é que foram abandonados pela esquerda e, negando a política da direita democrática – leia-se imperialismo -, encontraram-se nos braços de Bolsonaro.
Para realizar esse resgate, entretanto, é preciso disputar o voto de Bolsonaro da maneira correta, ou seja, tratando das questões que verdadeiramente têm importância para a classe operária: fome, melhorias salariais, emprego, privatizações, liberdade de expressão, moradia, terra etc.
Finalmente, Bolsonaro, apesar do discurso demagógico, é um inimigo dos trabalhadores que, durante seu governo, trabalhou para retirar-lhes cada vez mais direitos. Basta, portanto, provar e convencer seus eleitores que essa caracterização está correta. Que, ao invés de Bolsonaro, devem apoiar Lula, o candidato que verdadeiramente representa os interesses da classe operária no Brasil.