O PSTU afirma que o bolsonarismo é a expressão da decadência do capitalismo brasileiro, de que não se trata de um acidente histórico e, sim, de ‘um instrumento cego da classe dominante para destruir o país a serviço da pilhagem colonial’.
Se olharmos com cuidado, veremos que, se não foi um acidente, o bolsonarismo se tratou, pelo menos, de uma improvisação, um ‘plano B’, uma vez que o candidato majoritário da burguesia, Geraldo Alckmin, não conseguiu engatar em 2018. A burguesia teve de eleger Bolsonaro para impedir a volta do PT ao governo.
O bolsonarismo, isso sim, de uma força sem expressão, criou corpo e se solidificou, a ponto de atrair para si a direita e o ‘centro político’ brasileiro ─ ou seja, naquele momento recebeu o apoio do conjunto da burguesia. Com a polarização extrema que se formou, a burguesia tratou de tentar frear o monstro que ajudou a parir.
Quanto ao instrumento cego a serviço do colonialismo, onde estava o PSTU durante as gestões de FHC? Perto do ‘sociólogo dos príncipes’, Bolsonaro não passa de um aprendiz. O parque industrial brasileiro foi praticamente dizimado e o Brasil amarga, até hoje, os efeitos catastróficos de sua política neoliberal.
Não se pode colocar exclusivamente na conta do bolsonarismo a liquidação dos direitos trabalhistas. Foi o Golpe de 2016, que o PSTU apoiou, que tratou de passar um trator sobre a classe trabalhadora.
Em 2016, o PSTU afirmava que “Você não precisa escolher entre dois lados da mesma moeda! Fora todos eles!”. Esse grupo pregava que ficaria nas ruas até tirar ‘todos eles’ dos poder, mas nunca mais foi visto depois da saída de Dilma Rousseff.
O espantalho
Como a maioria da esquerda e imprensa independente, o PSTU trata Bolsonaro como uma espécie de monstro, ou derivação da política de Donald Trump, que incita o ódio aos negros, às mulheres, aos indígenas etc. Porém, essa é apenas a casca do problema, da qual o identitarismo se alimenta para parecer uma ideologia combativa e progressista, o que é falso.
O principal da ascensão da extrema-direita, é que ela se apresenta como antissistema, consegue canalizar o descontentamento popular que o neoliberalismo causou. No Brasil, na Europa e mesmo nos EUA, essa tendência também se apresenta como nacionalista em luta contra o ‘globalismo’. A extrema-direita passou a ocupar um espaço que sempre pertenceu à esquerda.
A extrema-direita tem uma base social, não se trata apenas de uma aberração. Nos Estados Unidos, por exemplo, Trump prometia reindustrializar o país, retirar dinheiro das guerras e aplicar em setores produtivos. No Brasil, Bolsonaro teve que correr para estancar a crise provocada pelo aumento dos combustíveis, grande parte de sua base eleitoral entrou em choque com os interesses do capital estrangeiro, que dolarizou o preço do gás e da gasolina para aumentar ainda mais os seus lucros.
PT é a social-democracia
A grande imprensa cobra que o PT se torne o novo PSDB ─ para o PSTU, isso já seria uma realidade. A visão de ambos se encontra nessa concepção, com a diferença de que a imprensa, porta-voz da direita, reconhece a base social petista, e vê isso como um entrave para exercer controle sobre esse partido.
A confusão se deve ao fato de ex-figurões tucanos, como Geraldo Alckmin, terem se aproximado do PT, o que, de fato, é um erro, pois essas figuras não têm expressão, são apenas zumbis políticos que conseguem uma sobrevida ao se aproximarem do PT. A vitória de Lula colocou de novo em cena esse ex-governador que foi derrotado dentro do próprio PSDB, um partido que foi destroçado pela extrema-direita que ajudou a criar.
A presença de Alckmin, apesar de direitista, não representa, necessariamente, um programa social-burguês; a candidatura de Lula não se rendeu ao sistema financeiro, que até agora pede uma posição do candidato eleito.
Foi o grande apoio popular que elegeu Lula. Sua votação foi majoritária nas camadas sociais mais pobres. É um equívoco dizer que a chapa Lula/Alckmin tem apoio do setor majoritário do imperialismo, pois foi esse setor que deu o golpe em 2016 e colocou Lula na cadeia.
Quem apoia quem?
Apesar de acusarem o PT de criar a base que deu à luz o bolsonarismo, o PSTU esteve sempre ao lado do imperialismo nos momentos mais importantes.
Apoiou o golpe no Egito. Saudou o golpe na Ucrânia, combateu o governo de Cuba e apoiou o golpe contra Dilma sob o disfarce da palavra de ordem “Fora todos”. Apenas para ficarmos em alguns exemplos.
Temos que criticar os governos petistas por sua timidez, por não ter feito mudanças estruturais. Poderia ter feito muito mais nos programas como o Bolsa Família, poderia ter peitado o latifúndio, um setor muito direitista da sociedade. O que é muito diferente de colocar o partido simplesmente como uma continuação do neoliberalismo.
O apoio do PSTU a Lula não é um apoio classista, mas oportunista, pois não reconhece o caráter da luta de classes. É apenas a derivação da velha política do ‘mal menor’. Às vésperas das eleições escreveu: “O que justifica votar em Lula no 2º turno, sem depositar a menor confiança no seu governo de unidade com a burguesia, é a possibilidade da classe trabalhadora poder se organizar para lutar melhor contra o capitalismo, contra o próprio governo Lula/Alckmin e se preparar em melhores condições para derrotar definitivamente o projeto autoritário, bonapartista e semifascista de Bolsonaro”.
Como não quer lutar contra o bolsonarismo, o PSTU chama a classe trabalhadora a lutar contra o governo Lula, para assim se reorganizar e acumular forças para depois enfrentar a extrema-direita. É um verdadeiro estelionato político.
Se não lutam agora, não vão lutar depois. O mesmo se deu em 2016, quando lutaram contra Dilma. Para seguir aquilo que prega, o PSTU deveria ter “se preparado” e reunido “melhores condições” para derrotar os golpistas. No entanto, sumiram das ruas após o impeachment, o que prova que nada mais fez que cumprir o papel de linha auxiliar do golpismo, ou melhor, do imperialismo, que arquitetou e conduziu o golpe.
Esquerdismos
Para esconder a sua conciliação com a burguesia, conforme demonstramos, o PSTU apela para o discurso vazio, de que nunca haverá democracia numa sociedade onde uma ínfima minoria explora a maioria; que é preciso romper com o sistema capitalista (melhor seria botá-lo abaixo); que é preciso a instauração de uma democracia direta; a criação de conselhos populares… Tudo muito bonito, mas de nada adianta se, na hora que a classe trabalhadora se une em torno de uma candidatura contra a burguesia, o PSTU boicote e pregue que se deva entrar em choque contra essa unidade que se formou, em vez de fazer evoluir a consciência dos trabalhadores na resolução das contradições que vão surgindo dentro da luta política.