Com os resultados do primeiro turno das eleições de 2022, observou-se o desmantelamento completo do centro político brasileiro, representado, principalmente, pelo PSDB e pelo MDB. Ao mesmo tempo, em um processo mais explosivo do que o anterior, viu-se que, em todo o País, o bolsonarismo ganhou uma força impressionante nas urnas. Afinal, os aliados de Bolsonaro se consolidaram como a principal força da direita nacional. Foi ele, o atual presidente, o verdadeiro vencedor do pleito deste ano.
Entretanto, além do resultado eleitoral que, apesar das fraudulentas pesquisas eleitorais, foi de se espantar, o bolsonarismo também cresceu, visivelmente, nas ruas. Um exemplo claro disso foram os atos realizados por Bolsonaro nas principais capitais do País no último dia 7 de setembro, data na qual se comemorou o bicentenário da Independência do Brasil. Na ocasião, a grandiosidade das manifestações mostraram que o bolsonarismo, acima de mera escatologia, se configura, atualmente, como força ideológica, política e, mais preocupante, popular.
Aqui, cabe a pergunta: como a situação saiu tanto do controle? Como passou, Bolsonaro, de um figurão da política brasileira para o líder de um dos principais movimentos políticos nacionais?
Um fenômeno mundial
Antes de qualquer coisa, é preciso entender o bolsonarismo não como uma peculiaridade nacional, mas sim, como um fenômeno que condiz com a evolução da luta política ao redor de todo mundo e, principalmente, nos países mais desenvolvidos do planeta.
Em primeiro lugar, fato é que o imperialismo está em crise, uma das maiores – senão a maior – de toda a sua história. Nesse sentido, como efeito da instabilidade econômica, as contradições de classe se acentuam, bem como a polarização. Em seguida, assim como foi visto no Brasil, observa-se uma clara dissolução do centro político que, por definição, é o mais atrelado ao imperialismo e à sua política. Sobra, então, os extremos e, na atual etapa da história, principalmente, a extrema-direita.
Ora, mas por que a direita seria mais suscetível à polarização? Não é! Por que a esquerda não poderia surfar nessa mesma onda? Pode e deve! O grande problema, assim como assinalou Trótski, é a crise das direções e, em especial, das direções do movimento operário mundial.
Imbuídos em uma grave confusão política, a esquerda, na ausência de princípios, fica à reboque das decadentes posições do imperialismo. Por isso, não consegue expressar a polarização. O ponto é que a polarização não acaba com isso, enquanto que a esquerda torna-se refém da política reacionária de que seria preciso pôr um fim na polarização ao presenciar o crescimento da extrema-direita.
A extrema-direita se aproveita dessa polarização justamente porque “rejeita” as posições do imperialismo e se apresenta como uma força antissistema, ou seja, avessa ao regime que massacra os trabalhadores.
Decerto que sua posição não representa, verdadeiramente, uma defesa da classe operária, pois, no final, a direita é inimiga do povo. Antes, é uma demagogia que, na ausência de uma posição de esquerda, que apresente uma alternativa progressista ao sofrimento dos trabalhadores, acaba captando sua atenção. Cresce, então, a extrema-direita.
Além da mera teoria que, apoiada no marxismo, esclarece bem a situação, temos a experiência prática para comprovar tal avaliação. A França, a Suécia, a Itália e os Estados Unidos, para citar alguns países, todos possuem uma coisa em comum: estão sendo, cada vez mais, controlados por forças políticas de extrema-direita.
A esquerda brasileira deve romper com o imperialismo
Levando em consideração o quadro internacional, é imprescindível que a esquerda brasileira rompa completamente com os partidos tradicionais do regime político falido. Antes, deve mostrar que Bolsonaro é o candidato da burguesia, e não um elemento contra o sistema.
Ao mesmo tempo, a própria esquerda precisa radicalizar, mostrar que é contra o regime vigente, e não adaptar-se a ele. Por esse ângulo, Lula e, de maneira geral, todas as forças progressistas nacionais, precisam se radicalizar e acompanhar a polarização que, desde 2016, com o golpe, só aumenta no Brasil. É a única maneira viável de acompanhar o crescimento da extrema-direita, tirando proveito da situação social que, neste momento, está cada vez mais explosiva.
Bolsonaro conseguiu fazer isso: se colocou contra o STF, pela liberdade de expressão, contra as urnas eletrônicas, contra o “centrão”, pelo armamento do povo. Enfim, defendeu reivindicações que são, na realidade, parte do programa da esquerda revolucionária. Com isso, mesmo que, em todas as ocasiões, tenha defendido tais posições por puro oportunismo, conseguiu capitalizar o apoio do povo e cresceu sua base política.
Essa é a forma de derrotar o bolsonarismo de maneira política, se desvencilhando completamente do regime político burguês e de sua reacionária ideologia para, então, defender os verdadeiros interesses do povo. No fim, a radicalização à esquerda, a luta contra o imperialismo, é absolutamente popular, pois são os trabalhadores que experimentam, na prática, a repressão do grande capital. A esquerda, como porta-voz da luta dos oprimidos, da classe operária, deve adotar isso de maneira definitiva.