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Evaporação do centro

Polarização: Brasil está se transformando em uma Itália

O cenário político brasileiro lembra o mesmo fenômeno que ocorre na Itália com a evaporação do centro político

O primeiro turno das eleições gerais de 2022 expressaram a tendência de um aprofundamento da polarização política no Brasil. A direita tradicional, que era uma espécie de centro de gravidade do regime político, evaporou. Para se ter uma ideia, o PSDB não tem mais nem 20 deputados e, pela primeira vez em 30 anos, não governará mais o estado de São Paulo. Nas eleições para o Senado, os bolsonaristas ganharam na imensa maioria dos estados.

O cenário é de uma migração da burguesia nacional para o bolsonarismo, com um esvaziamento do centro político, um fortalecimento da extrema-direita e uma tendência à radicalização dos trabalhadores, expressa no apoio a Lula. A vitória esmagadora de Bolsonaro nas eleições para o Congresso e para o governo demonstra isso, bem como o bom desempenho dos candidatos do PT nos poucos lugares o partido lançou candidato próprio para o governo e também na eleição presidencial – em que, mesmo sem fazer uma campanha popular, estando em completa paralisia, conseguiu ir para o segundo turno em primeiro lugar.

A vitória avassaladora de Bolsonaro pelo país – que a manipulação das pesquisas tentou evitar – gera um grande problema para o bloco principal da burguesia imperialista. Bolsonaro tem, agora, uma força política muito grande – tem o suficiente no Senado para aprovar o impeachment de qualquer ministro do STF, tem na Câmara apoio suficiente para aprovar qualquer PEC, etc. Para o imperialismo, todo esse poder nas mãos de uma única pessoa, ainda mais de uma pessoa que não possui sua plena confiança, é um grande problema.

Se o Lula ganhar as eleições – coisa que está longe de estar definida e que, inclusive, será difícil de se concretizar se o PT mantiver a mesma postura que manteve durante toda a campanha eleitoral –, não conseguirá governar com este Congresso, afinal trata-se do Congresso Nacional mais de direita desde a Constituição de 1988. Na hipótese de ganhar a eleição nacional, para Lula poder se manter no governo e para poder efetivamente governar, terá de fazer um governo efetivamente popular, com grandes greves, com grandes mobilizações e com plebiscitos para aprovar os projetos mais essenciais.

No cenário internacional, a crise se assemelha ao que está acontecendo na Itália. Nesse país, o centro político também evaporou e deu lugar a uma intensa polarização do povo. Por lá, o antigo partido comunista, atual Partido Democrata, virou uma espécie de centro improvisado; o Parlamento foi controlado por ampla maioria pela coligação dos partidos de extrema-direita fascista.

A coligação vencedora das eleições italianas foi encabeçada pelo Fratelli d’Italia (“Irmãos da Itália” em tradução livre), liderado por Giorgia Meloni; os partidos direitistas Forza Italia (em português, “Força, Itália”) de Silvio Berlusconi – político que representaria a ala mais direitista do antigo centro político – e La Lega (“A Liga”, em tradução livre) de Matteo Salvini também compuseram a coligação de extrema-direita.

Tanto na Itália, quanto no Brasil, houve a completa falência do regime político e a polarização se acirrou. E é muito difícil resolver a polarização com uma saída ao centro, voltando à estabilidade política anterior: em geral, ou ganha a classe trabalhadora, ou a burguesia.

No Brasil, existe a possibilidade de Lula ganhar, mas isso está longe de pôr fim à polarização ou ao golpe de Estado. Muito pelo contrário, o golpe de Estado entraria numa nova etapa, tendo de derrotar o governo Lula, numa situação em que o Congresso seria profundamente direitista e o governo teria que recorrer para a mobilização do povo. Não há como, do ponto de vista institucional, o possível governo Lula se manter.

Na hipótese de uma vitória de Bolsonaro, o imperialismo estaria em uma crise aguda, confrontando-se com um domínio total de Bolsonaro sobre o país. Bolsonaro se tornaria uma espécie de Hugo Chávez de direita, com amplos poderes e colocando a burguesia imperialista numa situação muito complicada. A esquerda se veria numa situação de crise, causada pela sua própria política equivocada de frente ampla. Também nesta hipótese, só seria possível se opor verdadeiramente ao governo Bolsonaro com amplas mobilizações dos trabalhadores. 

De todo modo, a esquerda – e o PT, em especial – precisa abandonar por completo esta política de bom mocismo, de “amor vencendo o ódio” que adotou na campanha eleitoral. Além disso, também precisa abandonar os inimigos do povo de que se cercou na campanha eleitoral. Tais estratégias que o PT levou adiante na campanha são profundamente impopulares e foram responsáveis por o PT ter se aproveitado muito pouco da polarização.

Ora, com a polarização, a extrema-direita cresce, mas a esquerda também deveria crescer. E havia uma tendência de o PT crescer, tanto é que, apesar de tudo, conseguiu o primeiro lugar nas eleições presidenciais e, nos estados onde lançou candidato, teve bom desempenho. O desempenho só não foi capaz de confrontar o bolsonarismo, porque, em primeiro lugar, o PT não lançou candidatos em vários estados, preferindo apoiar picaretas direitistas – como no Rio, em que apoiou Marcelo Freixo, e em Minas, onde apoiou Kalil. Além disso, com a recusa a mobilizar o povo durante a campanha eleitoral, levando apenas uma política que encontrava apoio na pequeno-burguesia, o PT também deixou, de um ponto de vista eleitoral, de aproveitar a tendência de radicalização das massas.

Com tudo isso, o PT obteve um ganho muito pequeno e muito menor do que tinha capacidade de obter nas eleições estaduais. Já Bolsonaro, que aproveitou bem o clima de polarização, obteve uma vitória avassaladora em todo o país. Portanto, Lula deve abandonar completamente os amigos da onça de que se cercou, pôr na lata de lixo a política de “amor” que é aprazível para a pequeno-burguesia e recorrer ao ódio revolucionário que os trabalhadores têm contra os patrões e contra o regime político do golpe de Estado. É preciso dar à reta final de campanha eleitoral um caráter verdadeiramente operário e popular, chamar o povo às ruas para garantir a eleição de Lula. E, se ganhar, o governo deve se basear na mobilização das massas operárias, sem nenhuma ilusão nas instituições burguesas: tal é a única forma de o PT obter um proveito positivo da polarização política, que já é bem explorada por Bolsonaro e que precisa ser bem explorada pela esquerda. É, pois, preciso chutar para longe o centro político morto e radicalizar o povo à esquerda. 

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