O pensador francês René Guénon, em seu livro A Crise do Mundo Moderno, acertou em cheio quando disse que o Ocidente inventou para si mesmo uma “missão civilizatória” pela qual se arroga o dever de invadir militar e culturalmente outras civilizações e de impor sua barbárie a elas, e que o Oriente apenas procura defender suas tradições e modos de vida, sem enfiá-las goela abaixo de ninguém.
A atual edição da Copa do Mundo ilustra bastante isso. O Catar nunca importunou o Ocidente para forçar os seus costumes e valores, mas o Ocidente molesta o Catar por ele não se curvar aos dogmas ocidentais dos “direitos humanos” e do diversitarismo transumanista.
Incapaz de entender a cultura e a tradição alheias, o Ocidente, em nome da tolerância e da diversidade, pratica um festival politicamente correto de racismo e xenofobia contra o Catar e os muçulmanos em geral, mostrando que o seu “humanismo” só abrange aqueles que pensam igual, pois coloca em posição subhumana ou não-humana quem pertence a outros modos coletivos de ser e de viver.
O multiculturalismo que as plutocracias ocidentais querem impor dentro de casa, à revelia de sua própria população, ela não reconhece no plano internacional, pois quer unificar o mundo à imagem e semelhança dos seus feudos metropolitanos cosmopolitas. Que “civilização”, porém, o Ocidente tem a ensinar ao Catar e a quem quer que seja, se vive toda uma epidemia de drogas, de depressão, de suicídio e de criminalidade, se a sua política virou arbítrio e a sua economia jogatina, se substitui a carne por insetos e a realidade pelo metaverso? Antes de “civilizar” os outros povos, o Ocidente deve civilizar a si próprio, porque, ao esquecer os seus fundamentos éticos e espirituais e submergir nas trevas do materialismo, do mercantilismo e do niilismo, barbarizou-se a tal ponto que caminha passiva e dolorosamente para a sua própria extinção.