O presidente Lula anunciou na última sexta-feira (9) os cinco primeiros ministros do seu novo governo. Dentre os indicados, Flávio Dino assumirá o Ministério da Justiça, Fernando Haddad comandará o futuro Ministério da Fazenda, José Múcio Monteiro comandará o Ministério da Defesa, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), será o ministro-chefe da Casa Civil, e o embaixador do Brasil na Croácia, Mauro Vieira, será o ministro das Relações Exteriores.
Comentando as nomeações, a jornalista Helena Chagas, do portal Brasil 247 e da TV 247, afirmou que o presidente eleito “anunciou uma espécie de núcleo duro de seu governo, tanto do ponto de vista da gestão como institucional”.
Quando se fala em “núcleo duro”, a ideia que se quer passar é que o governo se estruturará em torno desses nomes, desses ministérios; que Flávio Dino, Fernando Haddad, José Múcio Monteiro, Rui Costa e Mauro Vieira serão os pilares de sustentação do terceiro governo Lula, as pedras fundamentais do edifício governamental.
Nada poderia estar mais distante da realidade. Os nomes indicados tendem a gerar uma situação que vai no exato oposto de qualquer “núcleo duro”.
Com a possível exceção de Haddad, que é do PT e guarda alguma relação mais próxima com Lula, os demais indicados são, todos eles, figuras da direita, da burguesia, políticos da burguesia no sentido estrito do termo, indivíduos que não possuem a mais remota relação com as organizações da classe operária e das massas em geral, mas, antes, mantêm estreitas relações com os inimigos do povo, com os golpistas e com o aparato repressivo do Estado.
Diante das dificuldades reais na montagem do governo, Lula fez uma manobra. Entregou os anéis para não perder os dedos. Como a situação dentro das Forças Armadas está longe de ser das melhores, o presidente eleito entregou o Ministério da Defesa para um direitista, do PTB, para tentar acalmar os militares. José Múcio Monteiro esteve à frente do Tribunal de Contas da União quando do golpe contra Dilma Rousseff e chancelou a tese da “pedalada fiscal”. Trata-se de um integrante da direita golpista que, ademais, possui proximidade com o bloco bolsonarista. Esse seria um dos elementos do “núcleo duro” do governo Lula?
O Ministro das Relações Exteriores anunciado, Mauro Vieira, foi indicado por Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores dos governos anteriores de Lula. Ainda que não seja um direitista típico, Celso Amorim é um funcionário de carreira do Itamaraty, um burocrata do Estado burguês e, nesse sentido, um elemento da política burguesa. Levando-se em consideração que o governo Lula enfrentará uma situação turbulenta, de acirramento da luta de classes, não só na esfera interna, mas também na externa, é absolutamente preocupante colocar qualquer confiança numa figura que é, ao fim e ao cabo, uma incógnita.
Na chefia da Casa Civil o indicado foi Rui Costa, que dispensa comentários. Atual governador da Bahia, Rui Costa é um dos principais representantes da ala mais direitista dentro do PT. Seu governo na Bahia ficou conhecido pelas medidas de ataques contra os trabalhadores e o povo: privatizações, ataques ao funcionalismo, corte de salários, repressão policial aos trabalhadores e aos sem terra, e por aí vai. Se o novo governo Lula nasce com a necessidade de responder às demandas da população pobre e trabalhadora, Rui Costa, certamente, não tem nada a contribuir com isso. Muito pelo contrário: tem muitas armas para atrapalhar.
E, por fim, temos a pior indicação de todas: Flávio Dino para o Ministério da Defesa. O caso aqui é particularmente grave. Dino é ex-juiz e, como tal, tem profundas relações com a direita maranhense. Engana-se quem pensa que seja uma figura de esquerda. O máximo que se poderia dizer é que Dino pertence à ala da esquerda carcerária, da esquerda punitivista, aquela que morre de amores pela polícia e pela repressão. Dino é um fiel defensor da Polícia Militar, e não há nenhuma surpresa quando se vê que sua indicação foi fartamente elogiada pelos delegados da polícia federal e por figuras da direita golpista, como Tabata do Amaral. Ele é, antes de qualquer coisa, um elemento de confiança da direita dentro do governo Lula. Mais perigoso ainda, é um elemento que tende a fortalecer o monstruoso sistema judiciário brasileiro, algo que só poderá prejudicar a existência do próprio governo Lula que, mais do que nunca, precisa de um estado permanente de mobilização do povo para se manter e governar. O fortalecimento do aparato repressivo do Estado e o consequente ataque contra as liberdades democráticas do povo (liberdade de expressão, reunião, organização e manifestação, entre as principais) joga contra essa necessidade do governo.
Os primeiros nomes indicados por Lula para compor o seu gabinete ministerial não constituem o núcleo duro, mas sim o núcleo pelego do seu governo. Figura típica do movimento sindical, o pelego se caracteriza por não ser fiel a ninguém, a não ser a si mesmo. Uma hora está com o patrão, outra hora com os trabalhadores, ao sabor dos ventos e das marés. Os direitistas que agora foram anunciados não têm a menor condição de fornecer a base sólida, o ponto de apoio firme de que o futuro governo precisa para enfrentar os tremendos desafios que se avizinham.
As recentes movimentações golpistas na Argentina, e também no Peru, mostraram que ainda nos encontramos sob a égide dos golpes de Estado. A tão propalada “onda vermelha” não foi mais do que uma quimera. O Brasil não se encontra fora desse quadro. O governo Lula, certamente, irá se defrontar com a pressão imperialista, fonte do movimento golpista no continente, dentro do país e precisará responder à altura se quiser sobreviver. Não será a direita golpista, pró-imperialista e repressora que fornecerá as bases para a manutenção do governo Lula. Sem a mobilização popular permanente, constante e sistemática, dificilmente o governo conseguirá governar. Eis o núcleo duro do governo Lula: a mobilização da classe operária e das massas pobres e oprimidas.