Durante sessão no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), corte da qual é presidente, o ministro Alexandre de Moraes fez um balanço do segundo turno das eleições presidenciais e para o governo de alguns estados. Moraes reafirmou o que já disse no dia 30 de outubro, alegando que as eleições teriam ocorrido tranquilamente, sem qualquer tentativa flagrante de interferência no processo. Isto é, mesmo havendo provas contundentes de que a Polícia Rodoviária Federal, associada ao presidente ilegítimo Jair Bolsonaro (PL), tenha impedido prováveis eleitores de Lula de chegarem às sessões eleitorais e, com isso, aumentado a abstenção em cidades-chave para a vitória do petista.
Moraes foi além. Criticou duramente as manifestações de apoiadores de Bolsonaro que, passados cinco dias da disputa, seguem nas ruas contestando o resultado da eleição. Os manifestantes, que, em um primeiro momento, eram todos caminhoneiros, não apresentam uma reivindicação única e bem-definida, sendo comum desde pessoas que pedem uma intervenção imediata das Forças Armadas no regime quanto pessoas demonstrando seu apoio ao candidato derrotado, que já sinalizou que reconhecerá o resultado das eleições e trabalhará para liderar a oposição ao governo Lula.
Alguns deles estiveram envolvidos em protestos que bloquearam vários trechos de rodovia, levando à histeria setores importantes da burguesia, preocupados com o abastecimento dos supermercados e a validade de seus produtos e estão sendo brutalmente reprimidos, que ordenaram a brutal repressão. Outros simplesmente se aglomeraram em pequenos grupos, vestindo verde e amarelo e gritando suas palavras de ordem.
Para o ministro, contudo, ambos os casos merecerão receber “a pena da lei”. Afinal, o problema não seria somente o “caos” gerado pelos caminhoneiros — tese direitista que também não justificaria a repressão do Estado e é frequentemente usada contra a esquerda —, mas o simples fato de criticar o processo eleitoral:
“Não há como se contestar um resultado democraticamente divulgado com movimentos ilícitos, com movimentos antidemocráticos, com movimentos criminosos que serão combatidos e os responsáveis, apurados e responsabilizados sob a pena da lei”.
O recado é claro: em nome da “democracia”, palavra que deve sair da boca de Alexandre de Moraes a cada cinco minutos (acompanhada de “criminoso”, “bandido”, “ordem” etc), está proibido falar qualquer coisa que vá de encontro aos interesses do Estado. É a definição perfeita de uma ditadura, como bem se viu na ditadura militar brasileira e nas ditaduras mussolinianas e hitlerianas: a liberdade de expressão é ilimitada, desde que não fira a versão oficial do regime sobre os fatos. Mesmo que o conteúdo dos protestos seja reacionário, a atitude de Moraes é ainda mais reacionária, pois põe nas mãos do Estado o poder de passar por cima dos direitos dos indivíduos por causa de suas opiniões.