Um dos mitos mais presentes entre a esquerda pequeno-burguesa, sobretudo durante a eleição, é o de que Lula foi eleito pela burguesia, e não pelos trabalhadores. Esse argumento pode ser desmentido pelo simples fato de que a terceira-via, ou seja, a representante nata da burguesia nas eleições, foi quase completamente incinerada do cenário político, tendo perdido uma série de cargos importantes, sobretudo para o bolsonarismo.
Após isso, a burguesia passou a apoiar, de fato, o bolsonarismo, no segundo turno, contra Lula. Isso fica evidente na medida em que a votação foi muito apertada e que Lula, assim como parlamentares e governadores do PT, ganharam em poucos estados. Os empresários coagiram os funcionários a votarem em Bolsonaro, que recebeu quase 100 bilhões de reais de doações de capitalistas no segundo turno. Lula recebeu cerca de 3 milhões apenas.
O fato é que Lula só foi eleito por conta da mobilização popular e do intenso apoio do povo à sua candidatura — e é por isso, inclusive, que ele recebeu o mandato: para governar para a população. Não para os banqueiros, não para os empresários, não para o imperialismo, mas sim, para o povo. Não interessa o quanto a imprensa ataque, quantas cartas um grupo de banqueiros escreva ou quantas milhares de vezes seu nome será citado no Jornal Nacional por irresponsabilidade econômica, política e social, Lula deve seu mandato ao povo, e apenas ao povo.
Também é por esse motivo que Lula deve ignorar toda a pressão da burguesia para cumprir suas políticas. Um exemplo gritante desse fator é a recente “polêmica” levantada pela burguesia com a questão do furo do teto de gastos — tal medida, que rompe os limites do investimento em saúde, educação e auxílio para população brasileira, afeta também o bolso da burguesia, dos banqueiros e empresários, porque querem o dinheiro público só para eles e que, portanto, realizam uma campanha intensa contra a medida, alegando que as ações “irresponsáveis” de Lula na economia ferem a responsabilidade fiscal e irão transformar o Brasil num inferno na terra — mais do que ele já é com o governo Bolsonaro.
Lula deve sua terceira passagem pela presidência aos trabalhadores. A burguesia de nada tem a ver com isso: muito pelo contrário, são os pais de Bolsonaro e aqueles que o impulsionaram até o último momento que agora cobram Lula de tudo aquilo que ele não prometeu.
Lula não disse que ia servir aos bancos, não disse que ia servir à burguesia nem ao imperialismo. Se propôs, entretanto, a lutar pelos trabalhadores, pela população brasileira. Se propôs a defender a soberania do Brasil e, por mais que tudo isso seja ainda por meio de reformas e outras medidas de conciliação, se propôs a não baixar a cabeça para nenhum inimigo do povo.