O portal na internet do grupo Nova Resistência publicou uma nota oficial sobre resultado da eleição presidencial, assinada por Raphael Machado, em 30 de outubro.
A nota começa falando da polarização no País: “É difícil falar que ‘o povo brasileiro’ se decidiu por Lula precisamente por quão próxima foi a votação. Evidência da extrema polarização e, verdadeiramente, da fratura que rachou o Brasil.” Concordamos com a nota quando diz que a votação próxima demonstra que o país está rachado no meio. Esse fato é importante pois, diferente do que a esquerda pequeno-burguesa tem feito, não dá para considerar os 58 milhões que votaram em Bolsonaro como “gados”, “fascistas” etc. E uma parte considerável do povo, como dito, quase metade. Essa parcela da população, que votou em Bolsonaro por “n” motivos, deve ser considerada.
Como diz a nota, “é necessário dialogar com os bolsonaristas populares que repudiam o neoliberalismo”. Não é exatamente de “diálogo” que precisam os setores populares que votaram em Bolsonaro. É necessária uma política que mostre para esse povo que é a esquerda que defende seus interesses reais. Nesse caso, o governo Lula precisa de uma política econômica que atenda aos interesses da população, dos trabalhadores.
Não é fato, no entanto, que Lula não foi escolhido pelo povo. Essa é uma interpretação equivocada da nota. O correto é dizer que Lula é tão popular que ganhou, apesar das condições adversas. A maior parte da burguesia apoiou Bolsonaro. Latifundiários apoiaram Bolsonaro. A máquina eleitoral nos rincões do País estava nas mãos dos bolsonaristas. Foram inúmeras as denúncias de patrões pressionando e ameaçando trabalhadores.
A ação de setores da burguesia, como a Rede Globo, que por interesses econômicos imediatos estava contra Bolsonaro, e políticos burgueses individuais que apoiaram Lula, não transformam Lula no candidato do imperialismo. Bolsonaro recebeu quase 100 bilhões de reais de doações de empresários, e Lula recebeu cerca de três bilhões. Onde esteva o apoio do imperialismo a Lula onde este mais precisava, ou seja, no financiamento?
O mais correto, inclusive, seria dizer que o segundo turno com Lula e Bolsonaro não agradou os setores mais importantes da burguesia. Mesmo assim, confrontada por essa situação, a maior parte da burguesia foi de Bolsonaro, basta ver o número de doações de campanha no segundo turno muito superior para o candidato da direita.
Lula ganhou a eleição, apesar do golpe, apesar da campanha de calúnias, apesar de sua prisão, conseguiu ganhar, mostrando sua enorme popularidade.
“Bolsonaro, tudo indica, foi derrotado por causa do neoliberalismo econômico de Paulo Guedes”. Vejam que a própria nota admite isso. A maioria do povo votou em Lula porque reconhece no neoliberalismo de Bolsonaro uma política de devastação. Lula era o candidato do povo e Bolsonaro o candidato da burguesia, do neoliberalismo. Machado e a Nova Resistência, assim, entram em uma contradição que não pode ser resolvida. Se a política econômica de Bolsonaro era neoliberal, e o neoliberalismo é precisamente a política oficial imposta pelo imperialismo ao redor do mundo, e, também, o povo votou contra essa política a favor de Lula, como Lula poderia ter sido o candidato do imperialismo?
A nota da Nova Resistência acusa Lula de estabelecer uma frente ampla e ter feito um acordo com o imperialismo para ser solto e para se eleger. Afirma a nota: “Lula foi solto não por ‘pressão popular’ e não teve suas condenações anuladas pela “voz das ruas”, mas por acordos feitos em corredores por personagens que viam um Lula castrado como opção mais segura do que um Bolsonaro instável.”
Como dissemos acima, essa é uma confusão. Se é verdade que setores da burguesia e do imperialismo, diante da difícil situação entre dois candidatos não alinhados com ele, não é verdade que Lula agrada o imperialismo.
A situação atual na equipe de transição é a prova disso. Há uma revolta da burguesia, vista pelos editoriais golpistas e declarações de políticos da chamada terceira via. Lula é um político conciliador, nesse sentido, vai sinalizar para todos os lados, mas sua política está desagradando. Em seus discursos, disse que não vai respeitar o teto de gastos e foi acusado de irresponsável.
A política conciliadora de Lula não deve confundir. Ele não agrada o dito “mercado”, ele não é o homem do imperialismo. O máximo que vai acontecer é que o imperialismo vai tentar contemporizar, ao menos por enquanto. Mas isso não significa que futuramente a burguesia não assuma novamente um papel golpista ─ aliás, pelos ataques a Lula devido às suas declarações sobre os especuladores, pela queda da bolsa e subida do dólar e pelas manchetes do PIB, esse golpe já pode estar começando.
Essa análise é importante pois ajuda a entender como os trabalhadores devem se portar no governo Lula. É preciso empurrar o governo para a esquerda através de mobilização. Se fosse um governo pró-imperialista, a política seria oposta: a de lutar por sua queda.