Lula não foi eleito no primeiro turno como pregavam setores da esquerda pequeno-burguesa. A insossa campanha do “amor” contra o “ódio”, apoiada na defesa cega das instituições burguesas, obteve um resultado bastante previsível. Com abstenção de mais de 32 milhões de eleitores, faltaram cerca de 2 milhões de votos para que Lula fosse eleito já no último domingo. O bom-mocismo não empolgou o povo, que também não foi chamado para construir essa campanha.
Na segunda-feira, o presidente da Nicarágua, o ex-guerrilheiro Daniel Ortega saldou a vitória de Lula no primeiro turno, em carta enviada de Manágua. A imprensa burguesa e a extrema-direita aproveitaram para explorar o episódio resgatando o arsenal da propaganda imperialista contra os líderes nacionalistas do continente, chamados de “ditadores” pelos monopólios das comunicações. Ao lado de Ortega, o imperialismo norte-americano tem colocado no “paredão” da sua imprensa os governantes da Venezuela, Nicolás Maduro, e de Cuba, Miguel Díaz-Canel.
Trata-se justamente de uma característica dos governos petistas que o imperialismo mais levanta resistência, a relativa independência política que emerge do apoio popular aglutinado em torno da figura de Lula. Uma vitória do petista criaria em certa medida um importante ponto de apoio para esses governos que tentam agir com alguma autonomia na região, o que obviamente atrapalha o interminável saque operado pelo imperialismo nos países atrasados.
Nesse sentido, a direita de conjunto está pressionando Lula a se afastar de Ortega, Maduro e Díaz-Canel. Gostariam de um esquerdista no estilo de Boric no Chile, que por trás de uma roupagem esquerdista trabalha para isolar os governos nacionalistas da América Latina. Por mais que consigam influenciar Lula, não é razoável acreditar que tenham a capacidade de deslocar o petista tanto assim para a direita. Longe de ser um problema para a campanha eleitoral de Lula, essa é justamente uma força a ser explorada.
Ao invés de se cercar de todo tipo de oportunistas e figuras desmoralizadas da direita, Lula precisa mostrar para o povo que está do lado oposto à burguesia. Se os patrões e a Globo estão de um lado, o natural é Lula deixar bem claro para o povo que está do outro. Assim como Ortega, deve agir com o apoio do povo para combater a infiltração do imperialismo na política nacional e defender a autonomia do próprio governo.
O Lula “paz e amor”, o Lula amordaçado pelos marqueteiros, não empolga, não sinaliza uma mudança concreta na situação crítica da maioria da população. Para vencer e para conseguir fazer alguma coisa de relevante no governo, Lula tem que ser agressivo com os golpistas, que colocaram o país na crise atual. Precisa bater de frente com a direita, jogar para sua base, ser quem ele de fato é, um líder da classe operária, forjado no fogo da luta política.