Em meio à campanha de pressão da imprensa burguesa contra o presidente eleito Lula, antes mesmo de ele tomar posse, está inserida uma tentativa de infiltrar o governo, levando para dentro a pressão por uma política neoliberal, ou seja, privatista e anti nacional. Ao passo em que o Partido da Imprensa Golpista – PIG ataca os setores progressistas mais próximos a Lula, exalta a ala mais à direita de seu entorno. A manobra da imprensa não tem rendido todos os frutos esperados, mas a pressão burguesa está aumentando, e não demonstra sinais de diminuir ou ceder em ponto algum.
O ex-ministro da Fazenda no governo Dilma Rousseff, Guido Mantega, com um perfil desenvolvimentista, foi duramente atacado pela imprensa. Não só isso, Mantega foi atacado pelo judiciário durante o golpe de 2016, que o incluiu no processo das chamadas pedaladas fiscais. Ele está impedido de assumir qualquer função pública até 2030. O ex-ministro compunha a equipe de transição de governo, em caráter voluntário, sem receber, até a última quinta-feira (17), quando anunciou sua saída.
Pressão golpista
Mantega foi utilizado como exemplo pelo PIG e por empresários do setor financeiro de “pior caso” para um possível ministro da Economia ou do Planejamento no governo Lula. Ele apresentou justamente a campanha da imprensa burguesa e golpista como a razão para se afastar, classificando-a como algo para “tumultuar a transição e criar dificuldades para o novo governo”.
Ao mesmo tempo, a imprensa marrom da burguesia tem buscado trazer atenção a burocratas, golpistas infiltrados, e direitistas na campanha e na equipe de transição governamental. O vice-presidente “ex”-tucano Geraldo Alckmin (PSB), e Aloizio Mercadante, da burocracia do PT, por exemplo, receberam destaque n’O Globo, ao defenderem o fim de subsídios como forma de cortar gastos. A política de incentivos fiscais é uma forma de o Estado nacional incentivar o desenvolvimento econômico do país, apesar de nem sempre ser utilizado para tal. Ainda assim, encará-lo como forma de corte de gastos nada mais é que uma expressão da política neoliberal.
Em entrevista à jornalista golpista e reacionária Míriam Leitão, o vice-presidente ainda falou que “não há hipótese de haver irresponsabilidade fiscal”. Na mesma entrevista, afirmou que os planos são, após a posse e garantido o orçamento inicial acima do teto, de modificar a “âncora fiscal”. O compromisso com a chamada responsabilidade fiscal, na linguagem da imprensa burguesa, significa o compromisso em não gastar com a população e garantir os lucros de banqueiros, além da submissão econômica ao imperialismo, sem investimento na indústria nacional. A dita âncora fiscal, em termos de pessoas normais, é uma medida estabelecida em lei para impedir que o governo realize investimentos ou gastos tanto nas áreas sociais como no desenvolvimento econômico.
Golpista, gênero neutro
A candidata oficial da terceira via à presidência durante a eleição, Simone Tebet (MDB), em entrevista à golpista Istoé, declarou, em meio a críticas ao PT e a Lula, que seria necessário realizar reformas administrativa e tributária, sem indicar o teor de cada uma. Até agora, a reforma administrativa era uma proposta para destruir o serviço público, com demissões e cortes de direitos em todas as áreas.
Não só, Tebet defendeu o mercado, dizendo que a flutuação especulativa do dólar e da bolsa contra as declarações de Lula, que tiveram claro sentido de chantagem, não seriam pelas declarações do petista sobre o teto de gastos e a garantia de assistência à população ao invés de aos especuladores, mas pelo contexto da fala, quando Lula questionou: “por que as pessoas são levadas a sofrer por conta de garantir a tal da estabilidade fiscal nesse país”. Segundo Tebet: “Lula estava em um discurso político para os seus. Talvez o equívoco tenha sido a reunião aberta — ela poderia ter sido fechada”. Em outras palavras, a senadora colocou que Lula não deveria falar isso publicamente, e o mercado estaria certo em chantageá-lo para que não dê declarações que ponham em dúvida as políticas de ataque ao povo. A senadora também reforçou uma suposta necessidade de outra âncora fiscal, além de reproduzir o discurso do PIG sobre ser prioritária e urgente a indicação de um ministro da Fazenda “para que ele traduza o discurso político ao mercado”, isso é, para que seja uma pressão do mercado sobre o discurso do presidente.
A golpista buscou se renovar durante a campanha eleitoral, mas seu caráter de serviçal do imperialismo permanece o mesmo. Tebet, tal qual Alckmin, representou uma infiltração na campanha de Lula da terceira via, e agora é alavanca da burguesia para pressionar por uma política contra os trabalhadores. Tais figuras devem ser secundarizadas e, com o apoio de um movimento popular organizado, retiradas do novo governo. Fora todos os golpistas! Lula presidente, por um governo dos trabalhadores!