As eleições presidenciais acabaram no dia 30 de outubro, após o segundo turno, que consagrou Lula como o futuro presidente do Brasil. Diferente do primeiro turno, a campanha de Lula deu um verdadeiro giro de 180 graus na reta final, abandonando a estética e o caráter frente-amplista da primeira etapa e se desenvolvendo numa mobilização dos trabalhadores em vários pontos do País. Foram comícios diários, vermelhos, que levaram às ruas multidões operárias, tanto nos centros como nas zonas mais pobres, de concentração do setor mais explorado da classe trabalhadora. Por fim, a mobilização teve sucesso e consagrou Lula como presidente do Brasil.
Agora, passado o pleito, os setores que no primeiro turno se colocaram como verdadeiros sabotadores, carrapatos que buscaram se recuperar politicamente da falência total pelo golpe de Estado de 2016 ao se agarrarem a Lula, cobram cargos e ministérios no governo eleito apesar deles. A imprensa leva adiante essa campanha, chamando por um governo de frente ampla, frente essa composta pelos piores abutres da política nacional em nome da vitória eleitoral, e que conseguiu apenas rebaixar a campanha de Lula durante o primeiro turno.
Pérsio Arida, homem dos bancos
Nomes como Pérsio Arida, economista dos banqueiros, um vampiro neoliberal tal qual Michel Temer, apareceram nos últimos períodos. Arida foi um dos idealizadores do Plano Real e presidente do Banco Central no governo de destruição nacional de Fernando Henrique Cardoso, além de ter desempenhado funções de destaque no Unibanco, Itaú, Pactual, no banco suíço UBS AG, e de ter fundado o BTG e sido acionista do BTG Pactual até 2017. Um homem dos banqueiros, propagandeado pela imprensa burguesa como o homem ideal para o Ministério da Fazenda, o qual foi indicado para Fernando Haddad (PT), de confiança de Lula.
Simone Tebet, algoz dos trabalhadores
Além de Pérsio Arida, outro nome que tem ocupado posição de destaque nos diários da burguesia é Simone Tebet (MDB), principal candidata à presidência pela terceira via durante as eleições. Durante sua campanha, a demagogia identitária foi central. Após a derrota no primeiro turno, Tebet buscou mais ao final do segundo turno aparecer ao lado de Lula, sem jamais defender qualquer política do petista ou das bases trabalhadoras.
Fora a demagogia identitária e o discurso da imprensa golpista de que ela seria “preparada”, o passado da candidata não é nada positivo. Como já noticiado neste Diário, Simone Tebet foi uma das senadoras, ainda em 2016, que teve a oportunidade de dar seu voto para o golpe que ocorreu naquele ano, e o fez. Apesar da atual demagogia, Tebet compôs o golpe que derrubou a primeira presidenta eleita do Brasil e impôs um regime de destruição nacional e massacre do povo.
Nesse sentido, a participação de Simone não parou com o golpe, ou mesmo no ano de 2016. No ano seguinte, 2017, a senadora do golpista MDB votou a aprovação da Reforma Trabalhista. A medida acabou com uma série de direitos, inclusive com o direito do trabalhador de utilizar da justiça do trabalho, por risco de multa em caso de processo por “má fé”, algo definido pelos juízes da burguesia. A Reforma impôs ainda a negociação do trabalhador direto com o patrão, e a colocou acima da lei. Em outras palavras, direitos estabelecidos passaram a ser “negociados” com o patrão, ou seja, perdidos.
Algumas outras flexibilizações da Reforma Trabalhista aprovadas por essa que foi a candidata da Globo na última eleição: parcelamento das férias, flexibilização da jornada, participação nos lucros e resultados, intervalo de almoço, plano de cargos e salários, banco de horas, grau de insalubridade do trabalho, prorrogação de jornada em ambientes insalubres, sem licença prévia do Ministério do Trabalho, remuneração por produtividade.
A candidata, supostamente importante para a vitória de Lula mas que não agregou nada à campanha e buscou se agarrar ao líder popular para recuperar alguma credibilidade, ainda é uma latifundiária. No Mato Grosso do Sul, na região de Simone Tebet, os indígenas vêm sendo massacrados, sofrendo assassinatos e todo tipo de violência, o que encerra o quadro macabro representado por essa figura grotesca.
Por um governo dos trabalhadores
Lula venceu a eleição, de fato, quando a campanha adotou um caráter popular, de colocar para escanteio os oportunistas de todo tipo e foi ao povo trabalhador. O governo, portanto, ainda frente à onda de golpes na América Latina, com os exemplos do último mês com a perseguição a Kirchner na Argentina e o golpe no Peru, demonstram que um governo que não esteja dedicado a massacrar os trabalhadores precisará se apoiar neles, e o máximo que puder.
De modo a garantir o Bolsa Família, mas muito mais que ele, para tirar a população da situação de total miserabilidade em que se encontra, apenas o movimento operário poderá fazer o governo avançar. A burguesia busca travar cada passo de um governo eleito, mas nem ainda empossado, e é preciso garantir não apenas o mínimo, mas levar o governo adiante e atropelar as travas impostas pelo imperialismo e seus serviçais.