O jornal O Estado de S. Paulo que apoiou tanto a ditadura semi-fascista do Estado Novo quanto a ditadura fascista de 1964 reclama que o perfil da equipe de transição de Lula é de “homens, brancos, petistas e paulistas”.
O jornal não chega a dizer abertamente, mas está pavimentando o caminho para críticas identitárias ao futuro governo, como a da falta de um “gabinete paritário”, algo que a Folha de S. Paulo já colocado durante a campanha eleitoral.
A crítica pretensamente esquerdista terá um papel importante para a burguesia contra o novo governo Lula, afinal a crítica mais abertamente direitista teria uma tendência de fortalecer o bolsonarismo e de repetir a polarização das últimas duas eleições. A burguesia busca criar uma alternativa que tenha uma aparência socialmente liberal, ou até esquerdista, e uma política ferozmente neoliberal no quesito econômico. O projeto tem como principal protótipo a senadora pelo Mato Grosso do Sul, Simone Tebet (MDB), ela foi candidata à presidência este ano e teve apenas 4,16% dos votos.
Ainda no artigo, o “Estadão” apresenta a tese de que o governo falta pluralidade por ter nomes demais do PT (Partido dos Trabalhadores). A reclamação é bastante sui-generis afinal se trata aqui de um governo petista, dizem ainda que isso é um sinal de que Lula teria quebrado sua promessa de fazer um “governo de centro”, algo que o presidente-eleito nunca disse que iria fazer.
As diversas queixas da burguesia, e sua imprensa, sobre a composição do governo visam pressionar Lula a capitular e colocar figuras do PSDB, do MDB e políticos dos banqueiros no governo. Após perder as eleições, os poderosos tentam sequestrar o governo que foi eleito, atribuindo a ele promessas nunca feitas e deveres descabidos.
Uma vez que essa política fracasse de forma definitiva, os capitalistas usaram estas mesmas críticas para embasar uma ampla campanha de ataques contra o novo governo, podendo, inclusive, descambar para uma ação abertamente golpista.
Os trabalhadores, estudantes e todos os explorados precisam se manter atentos em relação a estas manobras, exigir que o governo seja composto de reais representantes dos trabalhadores, que tenha um programa abertamente contra os capitalistas e a favor dos trabalhadores, bem como exigir a derrubada de qualquer ministro golpista ou direitista, os próximos dias e semanas serão bastante importantes ao revelar qual será a composição inicial do governo e qual será a correlação de forças dentro dele.