Nesta terça-feira (18), o ex-presidente Lula participou de uma entrevista no Flow Podcast, canal de podcasts no YouTube que foi alvo de polêmica após declaração de Monark, ex-apresentador no mesmo programa, viralizar na internet.
Na ocasião, o candidato à presidência comentou acerca de diversos temas, como economia, liberdade de expressão, corrupção, o golpe de Estado no País, a soberania nacional e muitos outros. Entretanto, suas declarações econômicas foram particularmente progressistas, quebrando parte de seu silêncio em relação ao tão requisitado – pela burguesia – plano econômico de sua campanha.
“Eu sou contra o teto de gastos […] Teto de gastos para garantir o quê? Que os banqueiros recebam o deles? E o povo pobre?”, questionou Lula. Ademais, ele afirmou que “Esse negócio do teto de gastos foi inventado para segurar para os banqueiros o que é deles”, defendendo, em contrapartida, que a educação não é “gasto, é investimento!”.
Lula, adiante, se posicionou contrário a uma questão que assombra o PT há décadas: a autocrítica. Desde meados do Mensalão, a imprensa burguesa procura impor sobre o partido a necessidade de criticar a sua própria atuação. Uma forma, na realidade, de implicar que o golpe teria sido culpa do PT, e não da burguesia.
Na contramão de suas posições anteriores, Lula ironizou com a noção de autocrítica, mostrando claramente que está do lado oposto ao do golpe:
“Eu acho muito engraçado as pessoas pedindo para o PT fazer autocrítica. Se eu fizer autocrítica todo dia, eu não preciso de oposição. A oposição é quem tem que me criticar, por que que eu mesmo tenho que me criticar?”
A constatação acima veio em resposta a uma indagação por parte do entrevistador acerca dos esquemas de corrupção dos quais Lula já foi acusado. A isso, ele denunciou, ao seu modo, o golpe, respondendo às acusações de corrupção com uma pergunta: “Você acha que a elite brasileira engoliu de graça o PT fazer uma lei que registrava a empregada doméstica em carteira, jornada de trabalho, direito a férias e descanso semanal? Você acha que a direita aceitou pacificamente isso?”
Ainda falando sobre golpe, um dos destaques da entrevista foi justamente Lula afirmando, com todas as letras, que a eleição de Bolsonaro foi o resultado de um golpe que culminou em sua prisão. Ao questionado sobre o assunto, ele disse:
“Ali, eu considero que a sacanagem que fizeram comigo, que me prenderam, fez com que ele ganhasse as eleições. Eu ganharia as eleições no primeiro turno, quando me prenderam, eu cresci 15 pontos […] Eu tive 13 horas de Jornal Nacional contra mim; tive 60 páginas de revistas contra mim; tive 680 primeiras páginas de jornal contra mim.”
Criticando a crise gerada pelo governo Bolsonaro nos últimos anos, Lula defendeu a soberania nacional, afirmando que “É preciso ser autossuficiente. O Brasil tem condições de ser autossuficiente”.
Enfim, Lula, mesmo que moderadamente, se colocou contrário ao Inquérito das Fake News do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmando que a discussão sobre o que é e o que não é uma notícia falsa deve ser levada ao povo, e não ficar nas mãos de um tribunal que agirá conforme seus próprios interesses.
É visível a radicalização
Desde o começo do segundo turno, a campanha de Lula demonstrou, na prática, que está dando uma guinada de 180° à esquerda, convocando grandes manifestações vermelhas em defesa de sua candidatura. Essa radicalização, com sua ida a bairros populares, favelas etc., obrigam ele, consequentemente, a tomar posições cada vez mais agressivas, mais progressistas. Nesse sentido, sua entrevista foi um claro reflexo de sua própria radicalização nesse segundo turno.
Fica cada vez mais claro, além disso, que Lula é o real candidato do povo e que, por isso, a burguesia fará de tudo para impedir a sua vitória. Suas declarações, consequentemente, devem servir de combustível para a militância de toda a esquerda que, com isso, deve dobrar os seus esforços para tomar as ruas, os bairros, os locais de trabalho e as universidades para elegê-lo presidente mais uma vez.
Por fim, a radicalização de Lula intensifica automaticamente seu compromisso com a classe operária. Afinal, uma vez que tenha declarado posições progressistas, o povo não deixará que volte atrás caso ganhe as eleições. Consequentemente, é preciso fazer a campanha pegar fogo nessa reta final e colocar todas as forças da militância nas ruas. Esse é o caminho para derrotar, com base na mobilização popular, o golpe de Estado imperialista no Brasil.