O golpe de estado que está, neste momento, se consolidando no Peru ensina importantes lições para o Brasil. O presidente deposto pelo golpe, Pedro Castillo, foi eleito numa espécie de improvisação da esquerda. O partido Peru Livre lançou-o candidato, mesmo ele não tendo muita ligação com a legenda. Sua escolha foi devido à sua popularidade como sindicalista.
As eleições foram acirradas contra Keiko Fujimori, candidata de uma direita neo-liberal e inimiga do povo. Ela é filha de Alberto Fujimori, ditador peruano conhecido por sua brutalidade e pelos duros ataques contra a população.
Logo que foi empossado, Castillo já aplicou políticas que claramente iam contra o que defendia o partido pelo qual foi eleito. Indicou ministros de direita para os cargos mais importantes do governo, rachando com seu partido, Peru Livre. Além disso, se posicionou ao lado do imperialismo, atacando as eleições na Nicarágua e em outras questões também.
Castillo fez isso por acreditar que, dessa forma, o imperialismo e a direita o ajudariam a se manter no governo. No entanto, o que ocorreu foi o oposto: a burguesia aproveitou a impopularidade de suas medidas e articulou a sua derrubada por meio de processo de impeachment.
Ao ser derrubado, ele tenta dar um golpe de estado para se manter no poder, ordenando o fechamento do Congresso, da Suprema Corte e um toque de recolher no país. No entanto, faz isso sem apoio dos militares, o que obviamente não dá certo. Castillo é destituído e assume uma vice, que agora reprime duramente a população. Já são mais de 20 mortos nas manifestações contra o golpe peruano.
Castillo demonstrou ser um político bastante simplório e com pouca visão política. Evidentemente que aqui no Brasil, tendo já passado por um golpe e por outros dois mandatos presidenciais, Lula não cometerá tantos erros. Isso já fica demonstrado por algumas de suas indicações ministeriais.
No entanto, o erro fundamental de Pedro Castillo foi justamente o fato de ele não ter feito nenhuma aliança com o povo. Quando sua queda estava colocada, ele poderia ter convocado a população para sair às ruas e defender seu governo, afinal, foi o povo que o elegeu. O que mostra o fato de que o povo estaria disposto a sair às ruas para defendê-lo é que agora, após a quase consolidação do golpe, o povo sai às ruas, sendo, inclusive, duramente reprimido pelo novo governo golpista.
No Brasil, a burguesia dá indícios de que combaterá com vigor a política econômica e social de Lula. No momento atual, antes mesmo de tomar posse, já há toda uma campanha da imprensa contra boa parte de suas indicações e contra a sua política de reindustrialização do país e de crescimento econômico.
Para conseguir levar adiante essa política contra a vontade da burguesia e do imperialismo, Lula precisará necessariamente convocar a classe trabalhadora e a população pobre em geral, para apoiá-lo. Isso pode ser feito sem muita dificuldade, considerando que o PT está no controle da CUT e do MST. Basta mobilizar essas organizações de massas, que o povo estará mais do que disposto a sair às ruas para defender as medidas do governo quando estas corresponderem aos seus interesses.