A esquerda moralista

Contra Bolsonaro, vale até defender institutos de pesquisa

No afã de combater Bolsonaro, a esquerda acaba defendendo justamente aqueles que levaram Bolsonaro ao poder e acaba abrindo mão de seus princípios.

Jair Bolsonaro não sabe, mas pode dizimar boa parte da esquerda brasileira num piscar de olhos. Para isso, basta declarar que tomar veneno não faz mal á saúde e no minuto seguinte haverá uma legião tentando desmenti-lo.

É isso, vivemos em um mundo invertido. Não importa o que Bolsonaro diga e a verdade será justamente o contrário. Os queridinhos da vez, para a esquerda, por terem sido criticados, são os institutos de pesquisa.

O governo partiu para cima dos institutos e quer que PF os investigue por fraude, seja porque números entre institutos estejam muito parecidos, seja porque suas projeções ficaram muito fora da margem de erro. Parte da esquerda crítica os bolsonaristas e defende Alexandre de Moraes, ministro do STF/TSE, por este ter determinado a suspensão das investigações. Pior, Moraes quer que a Corregedoria-Geral Eleitoral e a Procuradoria-Geral Eleitoral investiguem o pedido de investigação.

Outra crítica, um tanto insólita, acusa Bolsonaro de tentar mudar o regime por dentro do próprio regime. Se for assim, por que defendem o STF, que faz o que bem entende com a Constituição? O Supremo legisla, passa por cima das leis, investiga, censura, interfere em outros Poderes e deveria ser questionado.

Há aqueles que alegam que os modernos governos ‘fascistas e neofascistas’ chegam ao poder, não por meio de golpes, mas “pelos mecanismos democráticos tradicionais, como eleições e plebiscitos”. Estarão reclamando da democracia? Não se sabe. E afirmam que, “uma vez no poder, não necessitam dar autogolpes. Basta mudar o regime político utilizando-se das ferramentas do próprio regime”. Desde quando isso é marca registrada do fascismo? Ora, é do regime, por exemplo, convocar-se uma Constituinte e com ela mudar o próprio regime.

E mais: “As perseguições impetradas contra opositores não aparecem como perseguições políticas ou ideológicas, mas sim como mero combate a “crimes comuns”. Tal é o modus operandi do bolsonarismo (…)”. Ora, quem foi que levou adiante o Mensalão e a Operação Lava jato que a esquerda apoiou, aplaudiu, e agora esconde a mão? Isso não foi obra de Bolsonaro, mas daqueles que o pariram e que hoje recebem o nome pomposo de ‘campo democrático’, ‘civilizatório’.

Errado a priori

É ridículo, mas boa parte da esquerda demoniza Bolsonaro e não consegue racionalizar qualquer coisa que ele diga.

Bolsonaro reclama do STF? A imprensa independente e a esquerda passam a apoiar essa corte que colocou Lula na cadeia e abriu caminho para a eleição de Bolsonaro. Alexandre de Moraes, que por acaso votou pela prisão de Lula, foi alçado à condição de paladino da democracia porque se desentendeu com o atual presidente. Curiosamente, o mesmo Moraes censurou Lula, impediu-o de abordar determinado tema (pedofilia) no debate do dia 16 de outubro, o que favoreceu Bolsonaro.

Trump mostrou afinidade política com Bolsonaro. O que a esquerda fez? Apoiou Joe Biden e festejou sua vitória nos EUA. Hoje, o mundo está à beira de uma guerra mundial porque o ‘democrata’ é aquilo que sempre dissemos: um funcionário do setor armamentista e do grande capital financeiro.

Bolsonaro desconfiou das urnas eletrônicas? Pronto, o Brasil passa a ser o único país no mundo que teria conseguido inventar um sistema eletrônico inviolável. Estamos bem, se exportarmos essa tecnologia ganharemos montanhas de dinheiro.

Por conta dessa política non sense, de ter que contrariar Jair Bolsonaro não importando assunto, a esquerda já defendeu a jornalista e golpista raivosa Vera Magalhães; e, como se não bastasse, até a Rede Globo, o grupo que é um dos principais inimigos do povo no Brasil.

Quem te viu, quem te vê

A esquerda, que sempre duvidou, com razão, dos institutos de pesquisa, passa agora a defender essas verdadeiras usinas de manipulação e de notícias falsas. Vejamos um exemplo: quando Luiza Erundina foi eleita prefeita de São Paulo com 36,78% dos votos válidos, em 1988, aparecia muito atrás nas pesquisas e sem qualquer chance de vitória.

A cara de pau dos institutos foi tão grande que fizeram uma pesquisa para ‘medir’ como os eleitores reagiram à vitória da petista. 51% ficaram muito surpresos e 23%, ficaram surpresos “mas não muito”. Ou seja 74% do eleitorado se surpreendeu de alguma forma com o resultado. Quem não ficaria?

Após as eleições, os institutos trataram de explicar que na última semana a curva de tendência de Erundina teria subido muito acentuadamente e não divulgaram os dados porque pareceria uma distorção nos dados e blá-blá-blá.

A verdade é que a petista tinha muito mais votos do que aqueles que as urnas mostraram. O falso quinto lugar de Erundina desanimou inúmeros eleitores que votaram em outro candidato para não ‘perder’ o voto.

Coincidentemente, para quem acredita em coincidências, Fernando Haddad ter passado para o segundo turno e vencido a disputa para a Prefeitura de São Paulo também causou surpresa. Nada que uma boa desculpa esfarrapada não dê jeito.

Esquerda moralista

O problema da esquerda é que faz um combate moral, e não político, a Bolsonaro. Como a mentira é um defeito moral, e Jair Bolsonaro é tido como um concentrado de todos os defeitos morais da humanidade, só pode se tratar também de um mentiroso. Logo, não se deve acreditar em suas palavras. O problema é que pode acontecer de Bolsonaro estar certo.

O resultado desse tipo de oposição, é que a esquerda fica sem uma política própria, vive de reações, fica esperando Bolsonaro se manifestar para então reagir. É a direita que tradicionalmente faz política por meio de ataques morais e não podemos nos confundir com ela. O papel da esquerda é aumentar a consciência, o discernimento, da classe trabalhadora, pois é assim que se cria um movimento consistente para lutar contra a burguesia. Caso contrário, estaremos apenas contribuindo para que o ambiente político fique cada vez mais reacionário, o que só pode favorecer os direitistas.

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