A eleição de Lula, no último domingo (30), causou um grande descontentamento em setores bolsonaristas que, até o momento, se recusam a reconhecer o resultado da votação, afirmando tratar-se de um golpe contra o atual presidente ilegítimo. Frente a isso, caminhoneiros, ao lado de setores da pequeno-burguesia direitista, organizaram atos em todo o País, bloqueando rodovias com seus veículos. A repressão das forças policiais do Estado, no entanto, conseguiu, em grande medida, dispersar as obstruções.
Agora, a mobilização da extrema-direita adquiriu um novo caráter. Não são mais os caminhoneiros os principais elementos das manifestações, mas sim, a classe média de inclinação fascista. Diante de bases militares em todo o Brasil, esses setores reivindicam às forças armadas uma intervenção contra a eleição de Lula, não necessariamente defendendo Bolsonaro, mas sim, a saída do PT, que nem mesmo tomou posse ainda. Segundo noticia o G1, foram registrados atos em 24 estados, dentre eles, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Brasília.
Apesar de reduzidas, as manifestações em questão demonstram que existe uma tendência, expressada por parte da base de Bolsonaro, de impedir que Lula governe. Deve ficar claro que a importante vitória eleitoral de Lula, uma conquista da classe operária contra a burguesia golpista, representa a vitória de uma batalha, mas não de uma guerra. O golpe imperialista no País, ainda que muito enfraquecido agora, ainda existe e ainda significa uma ameaça à esquerda e, de maneira geral, aos trabalhadores.
É uma conclusão, finalmente, muito mais natural do que o contrário. O bolsonarismo consolidou-se além de um mero improviso da burguesia nos 45 do segundo tempo de 2018, é uma força política, ideológica e popular que, em grande medida, é independente do regime. Não será uma mera vitória eleitoral que enterrará um amplo movimento de extrema-direita, e o mesmo vale para o golpe.
Aqui, não podemos considerar o bolsonarismo como uma escatologia. Deve ser entendido como um movimento político e combatido como tal.
No fim, a única coisa que pode derrotar essas expressões de crise do imperialismo é a mobilização organizada dos trabalhadores. Afinal, apesar de toda a manipulação do Estado e da burguesia de conjunto contra Lula no segundo turno das eleições deste ano, ele ainda levou o pleito. Tudo graças ao povo que, prontamente, atendeu à orientação acertada de tomar as ruas vestindo o vermelho por Lula Presidente.
Em mais uma demonstração de pura confusão, a esquerda pequeno-burguesa defendeu que o Estado interviesse para reprimir os manifestantes bolsonaristas, seja por meio de multas, seja por meio da repressão decretada pelo ministro fascista do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Uma política seguida por esse setor, pelo menos, pelos últimos dois anos.
Aonde essa política a levou? Ao fortalecimento e à radicalização da base de Bolsonaro, o oposto de seu objetivo inicial. Foi mais que provado que a censura de Xandão nas redes sociais não derrota o bolsonarismo. Ao mesmo tempo que, como aferido pelo resultado eleitoral, a mobilização, sim, pode derrotar Bolsonaro.
O problema é que a eleição não acaba com tudo, com a polarização, com a luta de classes etc. E, nesse sentido, a esquerda deve continuar nas ruas para defender a eleição de Lula e, consequentemente, se opor aos bolsonaristas que defendem ainda mais um golpe contra os trabalhadores brasileiros. Entretanto, é preciso fazê-lo conforme os métodos de luta da classe operária, e não da burguesia, atuando de maneira política.
Em outras palavras, em um primeiro momento, é preciso convencer os operários bolsonaristas de que suas reivindicações são reacionárias, contrárias aos seus próprios interesses. Enquanto isso, a esquerda deve organizar a autodefesa dos militantes caso, posteriormente, a situação evolua para um embate físico.
Até lá, a esquerda não pode tornar-se fascista, defendendo a utilização do Estado para reprimir o direito democrático de livre manifestação, independente do lado que seja. É mobilizando o povo que se combate o bolsonarismo, com grandes manifestações que mostrem que a candidatura de Lula não possui apoio somente nas urnas, mas, principalmente, nas ruas.
Decerto que o bolsonarismo está enfraquecido, sofreu uma importantíssima derrota no último período. Todavia, ainda é preciso derrotá-lo de maneira definitiva, e só a classe operária organizada pode travá-la de maneira consequente e progressista. Dessa forma, o novo governo de Lula será formado por bases sólidas e populares, que terão cada vez mais forças para expulsar o imperialismo do Brasil e garantir um verdadeiro governo dos trabalhadores.