A política definitivamente não é para amadores. Ainda em pleno regime político organizado através do golpe de Estado de 2016, a burguesia semeia na esquerda a ilusão de que as eleições de 2022 serão um passeio para a candidatura Lula e para a esquerda em geral. A mensagem é clara: passem o ano tranquilos, sem polarizações desnecessárias e terão como presente a eleição de Lula.
Para reforçar o clima de “oba oba” de uma parte do PT, a imprensa golpista repercute “manifesto” assinado por “empresários, advogados e artistas” em defesa de uma eleição do ex-presidente ainda no primeiro turno. O grupo é organizado pelo senador Randolfe Rodrigues, ex-PSOL e atual Rede, mais um direitista que ficou direitista demais para o ilusionismo do PSOL e partiu para um partido mais abertamente direitista.
O próprio nome do “movimento” já mostra que se trata de uma iniciativa da direita, Movimento Pelo Brasil, aquele tipo de nome genericamente nacionalista e completamente esvaziado politicamente, característico da burguesia brasileira. O próprio “manifesto” não traz pautas concretas e não podia ser diferente pois mistura petistas com todo o tipo de direitista, inclusive apoiadores abertos do golpe de 2016 como Cristovam Buarque.
Diz o manifesto:
Mais do que eleger um presidente, em 2022 o Brasil fará plebiscito entre continuar o desastre ou retomar a estabilidade democrática-institucional, o fim do negacionismo, a volta da empatia social e a retomada de um desenvolvimento sustentável. Não há razão que justifique adiar para o segundo turno, correr o risco das incertezas decorrentes de disputas secundárias, e principalmente os riscos de atos fora da Constituição. Por isso, apelamos a todos os democratas, os candidatos e seus eleitores, para que nos unamos no primeiro turno a Luiz Inácio Lula da Silva.
Muitos de nós fomos e ainda somos críticos, discordamos de fatos ocorridos e posições tomadas por ele no passado, mas estamos olhando para o futuro, e não há dúvida que a história está fazendo Lula representar a alternativa que o Brasil deve abraçar neste plebiscito de 2022. Ao mesmo tempo, os acertos de seus dois governos e a disposição em construir uma frente ampla programática nos passam a confiança de que ele está preparado para a tarefa de pacificar, governar e reconstruir o Brasil.
É Lula no primeiro turno para tirar o Brasil do descalabro que nos encontramos e os brasileiros do abismo profundo que fomos jogados.
Movimento Pelo Brasil
Para manter a militância de esquerda fora das ruas, a direita tem publicado pesquisas eleitorais favoráveis à candidatura Lula, o judiciário segurou um pouco a campanha de perseguição jurídica e vira e mexe aparecem esses “movimentos” de figuras ligadas à burguesia prestando um apoio meramente formal a Lula.
Ao contrário da esquerda pequeno-burguesa, a burguesia não é amadora na arte da política. O principal risco para a defesa dos seus interesses de classe é justamente que o povo saia às ruas para garantir, impulsionar e influenciar a candidatura Lula. A mobilização popular é o que tira o sono dos parasitas da burguesia, pois a partir de certo ponto sobra muito pouco espaço para manobrar.
Sem as massas nas ruas, uma progressiva queda de Lula nas pesquisas eleitorais fica fácil de organizar. Como em 2018, a direita possivelmente terá de apostar suas fichas em apenas uma das suas candidaturas e o PT ainda pode perder votos para o abutre Ciro Gomes, o pseudodesenvolvimentista que já declarou que seu papel nas eleições é derrotar Lula. A já tradicional campanha de ataques a Lula e ao PT também pode servir para “explicar” uma queda nas pesquisas, e para isso não são necessárias as “fake news” mas apenas as boas e velhas “notícias falsas” dos monopólios da comunicação mesmo.
A mais nova pesquisa CNT/MDA aponta Lula com 42% das intenções de voto enquanto Bolsonaro tem 28%. Mesmo com uma porcentagem relativamente baixa, Moro, Doria e outros candidatos da direita tendem a ver seu eleitorado apoiar Bolsonaro caso a burguesia decida, finalmente, pelo atual presidente. Isso não significa que o eleitorado desses políticos seja real, mas trata-se apenas de números em uma pesquisa, os quais a burguesia manipula para justificar uma vitória fraudulenta de seus políticos.
Ciro Gomes, por sua vez, que atualmente tem 6,7% de intenções de voto conforme o mesmo levantamento, é um pseudoesquerdista. Se seu papel central nas eleições é impedir a vitória de Lula, então ajudará na campanha contra o petista. A burguesia, que manipula as pesquisas a seu bel-prazer, poderia simplesmente aproveitar o aumento da suposta rejeição a Lula (a partir de “denúncias” que apareçam em sua imprensa) para reduzir gradualmente as intenções de voto do petista e elevar as de Ciro Gomes, pois este é apresentado como o herdeiro natural de votos de Lula ─ por isso o tachamos de “abutre”.
As manobras potenciais da burguesia e da direita golpista são muitas e a vitória está muito longe de ser certa.
A militância de esquerda não pode depositar nenhum pingo de confiança na burguesia e nas suas instituições. Apenas a mobilização popular pode fazer a balança pender para o lado do povo. É preciso organizar 5 mil Comitês Lula Presidente, como proposto pelo próprio PT, e levar o povo para as ruas desde já!