A Nova Democracia respondeu à nossa crítica em seu sítio em um texto intitulado “PCO, do oportunismo político à falsificação descarada”. Logo de entrada, o artigo estampa uma fotografia cuja legenda diz o seguinte: “Nos anos 30, ao invés de solidarizar-se com os Integralistas e dar-lhes mimos e afagos, a esquerda revolucionária combateu-os, como registra a histórica Batalha da Sé, a Revoada dos Galinhas Verdes!!! Nota-se a diferença entre os revolucionários e um partido revisionista”.
A legenda revela que a AND não entendeu qual é o teor da nossa crítica. Defender a liberdade de expressão e direito à manifestação não significa “dar mimos e afagos” a ninguém, apenas que se trata da defesa de um princípio. Qualquer pessoa deve ter o direito de se expressar, não importando sua coloração política. A esquerda enfrentou os integralistas? Correto. A crítica é àqueles que, hoje, se dizem revolucionários e pedem que o Estado burguês combata a direita, seja reprimindo ou cerceando seus direitos básicos.
A AND diz que o DCO faz uma “manipulação ardilosa. E uma leitura atenta à nossa crítica nota que nós não defendemos agravamento das leis para reprimir os fascistas, mas sim, condenamos o fato do DCO defender a liberdade de ação para os golpistas, e ressaltamos que nós “não a defendemos [a liberdade dos golpistas] nem um centímetro”.
O erro da AND é dizer a “liberdade de ação para os golpistas”. A defesa da liberdade de expressão e manifestação deve, sim, ser garantida. Por que? Porque a supressão desse direito está a encargo do Estado, qual é a dificuldade de se entender isso? E a defesa que estamos fazendo não é ‘para os golpista’, eis a manipulação do trecho. Defendemos um princípio, não um privilégio.
A falha quase ingênua que vem se repetindo na imprensa dita progressista, e em boa parte da esquerda, é acreditar que os ‘democratas podem se manifestar’ e os ‘fascistas’, não. Nossos amigos podem tudo e nossos inimigos não podem nada. O problema é que o Estado, o poder coercitivo, não pensa assim. Quem não acredita nisso, pare um pouco e observe como a polícia trata os bolsonaristas nos bloqueios e compare com aquilo que se faz costumeiramente contra a esquerda. Será que essa gente nunca viu como a burguesia reprime até mesmo manifestações de professores? O que a burguesia alega? Que na Avenida Paulista, por exemplo, onde ocorrem em geral as manifestações, existem hospistais e é preciso liberar o trânsito das ambulâncias. A mesmíssima desculpa que estão utilizando contra os atos dos bolsonaristas.
Ao contrário do que diz a AND, não se trata de formalismo burguês de nossa parte, a realidade é autoexplicativa. Ou defendemos o direito à liberdade de expressão e manifestação, ou não defendemos. E quem está contra esses direitos básicos é justamente a burguesia. A defesa da liberdade expressão é uma bandeira histórica da esquerda revolucionária.
A disputa pelo espaço público e político nas manifestações é outro assunto. O que foi que militantes de esquerda, do PCO, base petista, e outros, fizeram com o MBL e com os direitistas que se atreveram a interferir no ato pelo Fora Bolsonaro? Isso põe por terra o falso argumento de que o PCO e o DCO fazem “a defesa política, aberta e explícita à extrema-direita, sob a justificativa de que isso impõe um freio à restrição das liberdades democráticas.”.
Outra confusão que a AND faz é tratar como golpismo os bloqueios e atos que estão sendo conduzidos pelos bolsonaristas. É uma mera repetição daquilo que reza a grande imprensa. A mesma gritaria promovida contra os manifestantes que invadiram o Capitólio e que estão sendo tratados como golpistas, terroristas e sabe-se lá o que mais.
Esse grupo acredita que está havendo ação golpista, mas as Forças Armadas não estão atuando. Como esses ‘golpistas’ pretendem tomar e se manter no poder? Não existe golpe de Estado sem forças militares envolvidas e sem um apoio de ao menos uma parte importante dos grandes capitalistas.
A criminalização de bloqueio de estradas é uma prática comum da esquerda, dos movimentos populares. Se isso passar a ser tratado como ‘terrorismo’, a próxima vez que o MST, ou moradores de uma favela, bloquearem uma avenida, como serão tratados?
O fato é que boa parte da esquerda tem medo, ou discorda, da violência, mesmo que seja praticada pela esquerda. Um caso típico é quando quebram vidraças de bancos durante manifestações ou confronto com a polícia. A direita aparece com sua usual condenação de vandalismo, da ação de baderneiros. E a esquerda, por sua vez, diz que são infiltrados, anarquistas ou black blocs. Ou seja, não consegue assumir que muito provavelmente é a população revoltada que está depredando aquilo que ela acredita que faça parte de tudo que a oprime. Qualquer trabalhador, um que algum dia na vida tenha tido a infelicidade de utilizar um cartão de crédito, sabe muito bem o que fazer com a vidraça de um banco.
É claro que pode haver infiltração, sempre houve. A razão do ‘sucesso’ de eventuais agitadores se deve ao fato de saberem que a direita vai bater na tecla do vandalismo e a pequena burguesia vai se sentir acuada.
Sobre o governo Lula
No trecho que trata do governo Lula, a AND repete o mesmo erro, não vê contradição entre Lula e a burguesia, cita o período eleitoral, jantares e promessas a empresários, e aponta que “basta ver a equipe de transição e constatar como tende a ser o “reformismo” do PT e de Lula ”. Na área econômica cita todo mundo, até Alckmin, menos os nomes de Fernando Haddad e Aloizio Mercadante que vão ocupar a fazenda e a presidência do BNDES. Deve ter sido uma ‘distração’ do polemista.
Com base em uma ‘tendência’ o AND consegue tirar todas as conclusões de como será o futuro governo. E devemos lembrar que, muito do que está por vir, depende da ação da esquerda, por isso defendemos o fortalecimento dos Comitês de Luta, que foram criados justamente no período eleitoral, outro ‘detalhe’ que esqueceram de mencionar.
Fazer oposição ao futuro governo de antemão, se esquecendo do papel da própria esquerda como parte ativa, não meramente reativa, desse processo, nos faz lembrar do passado recente, quando setores da esquerda, sob a desculpa de combater o ‘liberalismo’ de Dilma Rousseff, apoiou o impeachment e ajudou a instaurar o golpe em 2016.