Esses dias, inspirada pelos últimos acontecimentos com a Seleção Brasileira na Copa do Mundo, assisti a um documentário sobre a história do time Atlético Mineiro. Lutar, Lutar, Lutar é dirigido por Helvécio Marins e Sérgio Borges, uma encomenda do canal ESPN de 2021.
O filme conta a história da fundação do clube em Belo Horizonte, em 1908, e alguns fatos excepcionais, merecedores de registro, como a vitória sobre a seleção brasileira de 1970, em um amistoso no Mineirão, ou como ser o primeiro time de futebol brasileiro a viajar para a Alemanha, em 1950, apenas 5 anos após o final da guerra.
No geral, os diretores criaram uma narrativa de superação, com dois personagens principais: o time e a torcida do Atlético Mineiro. A fidelidade de uma torcida apaixonada pelo seu time nos piores momentos de sua história e as incríveis desventuras da equipe ao longo de um século de existência são relatadas a partir de imagens de arquivo e de depoimentos de jogadores, torcedores e jornalistas.
Muitos momentos lembram o nosso pesadelo de sexta-feira e este estranho paralelo faz com que as narrativas futebolísticas sempre se assemelhem. Em minha modesta opinião de torcedora, e distante um pouco da tragédia, a seleção brasileira perdeu pelo simples fato de não conseguir catimbar o jogo faltando cinco minutos para o final, o que revelou certa falta de tarimba por parte dos jogadores.
E o PCO está certo: roubaram um pênalti! Existe uma pressão sobre o time nacional muito maior do que a exercida sobre qualquer outra seleção. Naquele dia, o próprio Galvão Bueno ressaltou, no início do jogo, que o VAR era liderado por um árbitro que tinha interesse na derrota do Brasil. A justiça, assim como na política nacional, acaba tendo um papel de impacto nos resultados.
Voltando ao nosso documentário, vale frisar que qualquer filme sobre o futebol brasileiro merece ser feito e assistido. Deveríamos ter muitos mais.
O ponto alto é a passagem do jogador Reinaldo no Atlético Mineiro e sua resistência à ditadura militar. Reinaldo foi caçado em campo, sofreu contusões terríveis, foi expulso por nada, mas sempre foi um goleador que festejava seus gols com o tradicional gesto do punho cerrado e erguido dos Panteras Negras.
O filme tem o mérito de mostrar, só com o exemplo do Atlético Mineiro, como o futebol brasileiro está ligado às causas populares e como os gritos da torcida são também palavras de ordem políticas. Tudo está junto e misturado.
Mesmo que o documentário insista na representação da emoção, da catarse pela vitória e da superação como parte definidora daqueles que têm raça, que acreditam, que não desistem. “Eu acredito”, diz a torcida atleticana. Mesmo que em alguns momentos, o filme crie vilões imaginários como o “Flamengo de Walter Clark, da poderosa Globo”, nos anos 1980, ou um “elitista e inferior time do São Paulo” da mesma época.
Em um dado momento, temos a contratação de Ronaldinho Gaúcho, que garantiu o título da Libertadores da América para o Atlético em 2014. Um depoimento de Juca Kfouri condenava a contratação do craque da seleção e dizia que era uma loucura.
Percebe-se a reiterada conduta deste jornalista em condenar jogadores da seleção brasileira, algo que ele fez de maneira categórica com Neymar este ano, comprovando o ataque gratuito que setores da imprensa no Brasil se prestam para destruir uma manifestação que nos une.
O futebol é parte da nossa essência brasileira. A seleção é uma manifestação cultural e política popular do país, que teve seus símbolos capturados pela direita de maneira nefasta, a ponto de quase destruí-los.
Que sejamos capazes de recuperá-los. Será como recuperar parte da nossa própria alma. O primeiro passo é torcer pela seleção, não importa o que aconteça e principalmente nos piores momentos. Como fazem os torcedores mineiros com seu amado Galo.
Saiba mais sobre o filme, neste link.