Em outubro deste ano, foram eleitos 27 governadores para os estados e Distrito Federal do nosso país, dentre os quais 9 são autodeclarados negros. É válido lembrar, também, que o TSE entende como negro pessoas que se considerem negras ou pardas.
O empoderamento dos negros na política dentro do regime burguês, pauta levantada pela esquerda pequeno-burguesa e por setores identitários da imprensa e da sociedade, não passa de uma farsa eleitoreira de oportunistas, o que se comprova quando observamos os candidatos eleitos. Dos nove governadores que se declaram negros, três se identificavam, até o último pleito, como candidatos brancos, alternando para pardo no ano de 2022, como uma espécie de Pardo de Schrödinger.
Em compensação, sete dos nove são políticos da mais tradicional direita, dos inimigos clássicos dos trabalhadores, como PMDB, PP e União Brasil (antigo PSL). Mesmo tendo perdido, quem concorreu como negro pela primeira vez nas eleições atuais e quase foi eleito foi o Antônio Carlos Magalhães Neto, maior inimigo da classe operária da Bahia e talvez do nordeste.
Essa campanha é pautada sobretudo pela burguesia, que tenta camuflar seus lacaios e inimigos do povo como pessoas palatáveis, utilizando-se das ditas minorias para realizar tal função pútrida. Assim como Bolsonaro surgiu com Hélio “Negão”, carregando-o de cima para baixo durante a disputa de 2018, novos nomes negros surgiram pela direita que ataca, diariamente, os trabalhadores e os negros com seu aparato policial e repressivo. A luta contra o racismo se dá, de início, com o fim da polícia e com a luta pelo socialismo – que é inevitável, não por meio de reformas e elevando ao status de aceitável pessoas detestáveis, como Ibaneis Rocha, do MDB do Distrito Federal. Ibaneis que, por sua vez, também era branco até a última eleição, mas, talvez por excesso de Sol ou por bipolaridade de sua pele, transformou-se também em negro, seguindo os passos de ACM Neto.
A jogada da burguesia se aplica, também, na obtenção dos recursos oriundos do fundo eleitoral e partidário, quando um voto em um candidato negro passa a contabilizar em dobro para a fórmula presente no cálculo. Nada melhor, para o imperialismo, do que emplacar seus lacaios sob um véu de proteção que os torna imunes às críticas e os faz, inclusive, ser mais bem visto pela esquerda pseudo-progressista. Este véu, no caso, é o identitarismo. Kamala Harris, vice-presidente estadunidense, e Barack Obama, ex-presidente, de nada diferem do atual líder norte-americano em decadência Joe Biden. Suas políticas internas de repressão e externas de opressão não mudam, independente de se o míssil na Palestina contiver uma bandeira feminista ou do movimento negro. Um direitista é sempre um direitista, assim como um inimigo dos trabalhadores será sempre um inimigo dos trabalhadores. Não há cor, gênero, credo ou orientação sexual que possa fazê-los mais palatáveis para os olhos dos operários. Ou se está com o povo, ou se está contra.