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Dilema da direita

Não é tanto a força de Bolsonaro, mas a fraqueza dos tucanos

Para PSDB disputar as eleições de 2022 em meio à polarização seria decretar novamente seu fracasso, o quinto seguido, tamanha é a decadência da burguesia tradicional

Com a proximidade das eleições presidenciais de 2022, os partidos da burguesia que em 2018 se viram na necessidade de apoiar a candidatura de Jair Bolsonaro para garantir a direita no poder ainda que não fosse uma de suas opções preferenciais, agora correm contra o tempo para encontrar uma alternativa para a direita tradicional. João Doria (PSDB) tentando garantir seu lugar ao sol como candidato do seu partido aproveitou a crise da pandemia para se autopromover com uma vacina que só existe para encenação e não para vacinar o povo.

O aceno de Doria para as eleições de 2022, no entanto, fez com que setores do golpista PSDB levantassem uma campanha pela possibilidade de que o partido abra mão de concorrer à presidência para apoiar outro candidato da direita. O principais expoentes seriam Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Aécio Neves (PSDB), maior articulador do PSDB e que recentemente viu João Doria tentar uma articulação interna para assumir o comando do partido em uma ofensiva contra o próprio Aécio.

O que leva o tradicional partido da direita a considerar não ter candidatura pode ser revelado pela situação política de polarização. Se por um lado para a esquerda pequeno-burguesa Lula não unifica, quando passamos para a direita é o fator Lula que tende a unificar os mais diversos setores da direita, desde a extrema direita fascista de Bolsonaro até a direita tradicional, “civilizada” e “científica”, de Rodrigo Maia (DEM) e também do PSDB.

A burguesia tem tentado arduamente conter a polarização para que o chamado centro (isto é, a direita) volte a ter vez, a principal investida neste sentido é a própria frente ampla que visa captar elementos da esquerda pequeno-burguesa mais ligados ao regime golpista para se aliarem a direita e abandonarem a mobilização e a luta popular.

Esta opção encontrou a desculpa perfeita na união entre a esquerda e a direita civilizada pelo suposto combate a Bolsonaro, quando na verdade o que fica claro é que não passa de uma farsa, mais uma manobra eleitoral da direita tradicional que é tão bárbara quanto Bolsonaro contra os trabalhadores, para levar a esquerda pequeno-burguesa a reboque da política golpista.

Com a polarização política fica cada vez mais difícil para os partidos do centro se colocarem como alternativa real na disputa eleitoral. O PSDB não tem nenhuma popularidade e apesar de ser um dos partidos mais tradicionais da direita, não consegue emplacar um candidato capaz de enfrentar o PT, muito menos com Lula tendo recuperado sua elegibilidade.

Não apresentar um candidato próprio por conta da polarização leva portanto, ou à frente ampla ou ao apoio à candidatura da direita que teria alguma possibilidade de disputar com Lula. Ou seja, o cenário das eleições de 2018 tende a se repetir em 2022 e a direita, por não ter o que apresentar no lugar de Bolsonaro, pode ser forçada a apoiá-lo contra o PT.

Isto não significa que Bolsonaro teria as graças do povo, muito pelo contrário. É a polarização política dos trabalhadores contra a burguesia que leva um dos lados da corda para a extrema direita. O governo Bolsonaro é inimigo do povo e extremamente impopular, com 10% de aprovação segundo levantamento recente sobre menções nas redes sociais e também como é possível observar nas ruas, em qualquer bairro operário.

O que se revela finalmente não é a força política de Bolsonaro para disputar as eleições, mas sobretudo o fracasso da direita tradicional que com a polarização não consegue as condições para aplicar com tranquilidade sua política dado o risco de convulsão social e sua total falta de expressão e popularidade. Para o PSDB, disputar as eleições de 2022 com candidato próprio em meio à polarização seria decretar novamente seu fracasso, diga-se de passagem o quinto seguido, tamanha é a decadência da burguesia tradicional.

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