Menos de 24 horas após entrar em greve, no último dia 19, os metroviários de São Paulo tiveram sua paralisação encerrada, após votação online (da qual teria participado cerca de um terço da categoria), na qual também se decidiu pela aceitação da proposta do Tribunal Regional do Trabalho (TRT).
A proposta do TRT, segundo divulgado pelo Sindicato da categoria, estabelece 7,79% de reajuste salarial a partir de 1º/5/2021, data-base da categoria, após dois anos sem reajuste, o que sequer repõe a inflação oficial do período (cerca de 9,7%) e fica longe do aumento real do custo de vida no período, quando – por exemplo – o preço da cesta básica, segundo o DIESSE, subiu até 33%.
A categoria também reivindicava o pagamento da participação de resultados (PR) dos últimos dois anos, que não foram efetuados pelo Metrô e o TRT propôs que da 2ª parcela da PR de 2019, fosse feita em 31/1/2022.
Além de sofrer com o arrocho salarial, os metroviários se tornaram alvos da pandemia, com – pelo menos – 26 trabalhadores da categoria mortos pela covid e centenas de infectados.
Nestas condições, por certo, não há o que comemorar.
Se a mobilização conteve a sanha do governo reacionário de João Doria e da direção do Metrô de assaltar ainda mais a categoria, retirando direitos conquistados ao longo de três décadas, o resultado da mobilização (inferior ao de outra categorias com muito menor poder de pressão), evidencia as limitaçòes da política das próprias direções da categoria e do conjunto dos trabalhadores neste momento.
A paralisação, que foi apenas parcial, se deu após uma série de recuos da direção sindical que aceitou proposta de intermediação do reacionário Ministério Público do Trabalho (MPT) diante da negativa de negociação do Metrô e do governo João Doria. Com isso, o governo não fez outra coisa senão ganhar tempo e procurar conter a tendência de luta da categoria, que mostrou uma enorme tendência a realizar uma grande mobilização.
Além da política criminosa do governo do PSDB contra os trabalhadores, a poderosa categoria dos metroviários foi, uma vez mais, vítima da vacilação política de suas direções que, pressionadas pela política direitista do “fique em casa” – que tem Doria como seu principal “patrono”-, a qual significou a paralisia de todo o movimento operário – inclusive, com sindicato fechados, enquanto os trabalhadores saiam para trabalhar e se contaminar – e levou à ausência de lutas reais, levando a imensa maioria dos sindicalistas à paralisia, a abrir mão de usar a força da mobilização dos trabalhadores por conta da inexistente “guerra contra a pandemia” que governos como o de Doria, Covas e Bolsonaro, nunca levaram adiante.
As várias alas da esquerda que participam da direção do Sindicato dos Metroviários defenderam essa política mesmo com os metroviários saindo todos os dias de casa e se expor ao risco elevado de contaminação no transporte coletivo.
O fim da greve, sem assembleia, quando no País já se realizam atos com milhares de pessoas nas ruas, se opôs a uma perspectiva de continuidade e o necessário fortalecimento da greve, com a paralisação total das atividades do Metrô, que pudesse levar a uma vitória mais ampla da categoria.
A greve dos metroviários é mais um claro sintoma da fermentação das tendências de luta que se desenvolvem na classe operária, sendo uma das primeiras categorias operárias que, neste ano, desenvolvem uma greve e mobilizações presenciais, como algumas assembleias por eles realizadas.
É preciso ampliar essa tendência que se expressou de forma mais consciente e organizada no ato de 1º de Maio de Luta, na Praça da Sé, nas mobilizações do dia 13 passado, e que apontam para grandes atos de rua no próximo dia 29, superando os estreitos limites da esquerda pequeno burguesa e da burocracia sindical que se recusa a levar os trabalhadores ao necessário enfrentamento com a burguesia golpista e seus governos reacionários, pela conquista – na marra – das reivindicações dos trabalhadores diante da crise.