O fracasso da manifestação de 1º de Maio em São Paulo ficou tão patente que o próprio presidente Lula, em sua fala, deu um “puxão de orelha” em um de seus ministros, falando que o ato estava “mal convocado”. E não foi só um problema de São Paulo: em todo o País, os atos foram muito pequenos. Em algumas capitais, sequer reuniu uma centena de pessoas.
A baixíssima adesão a uma data histórica de luta, o dia internacional dos trabalhadores, já seria um problema em qualquer circunstância. Neste momento, tornou-se algo ainda mais grave diante do fato de que a extrema direita tem conseguido demonstrar sua força nas ruas. Ao que tudo indica, o ato convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro no dia 25 de fevereiro, em São Paulo, reuniu muito mais pessoas que todos os atos de primeiro de maio pelo País.
É possível que até mesmo o ato mais recente convocado por Bolsonaro, em Copacabana, tenha tido uma adesão maior que os atos de primeiro de maio. À época do ato bolsonarista, um setor da esquerda havia dito que a manifestação “flopou” – isto é, fracassou, teve pouca adesão. Se um ato convocado em 15 dias e que reuniu talvez algumas dezenas de milhares de manifestantes “flopou”, o que dizer dos atos de Primeiro de Maio organizados pela esquerda e pela burocracia sindical?
Não é difícil entender porque o ato de primeiro de maio fracassou. Diante de uma crise internacional sem precedentes e diante de uma tendência à mobilização em algumas categorias, como a dos servidores de instituições de ensino federais, nenhum ato apresentou uma perspectiva de luta para os trabalhadores.
É preciso destacar, inclusive, que a burguesia deflagrou uma contraofensiva mundial, cujos sinais já apareceram no Brasil. Era preciso, portanto, fazer do primeiro de maio um conjunto de reivindicações concretas. Que demonstrasse seu apoio à resistência palestina, que exigisse um aumento real do salário mínimo, que defendesse a reforma agrária, que denunciasse as privatizações. Isto é, que tivesse uma plataforma de luta.
A opção feita pelos organizadores dos atos, no entanto, foi organizar manifestações para apresentar as medidas que foram tomadas pelo governo Lula no último período. Isso ficou ainda mais visível em São Paulo, onde nenhum partido pôde falar, enquanto os ministros do governo tiveram grande destaque.
Não é possível organizar uma mobilização real se o objetivo é fazer uma propaganda institucional do governo. Isso não mobiliza ninguém. É ignorar as necessidades reais de um povo que vem sendo golpeado há quase uma década, que teve seu poder de compra reduzido drasticamente, que teve seus direitos trabalhistas rasgados, que beira a fome. Lula deveria estar presente no ato não como o chefe de um governo, mas sim como a liderança do movimento operário que é.
Ao contrário de elogiar figuras como Geraldo Alckmin (PSB) e Guilherme Boulos (PSOL), Lula deveria ter participado do ato de Primeiro de Maio para denunciar a sabotagem da direita contra a economia nacional. Deveria chamar o povo para uma mobilização permanente em defesa de seus próprios interesses.
O ato fracassou porque revelou, uma vez mais, que a política da esquerda para a atual etapa de crise é inviável. É preciso levar adiante uma política de mobilização, que leve em consideração um programa que dê resposta às necessidades dos trabalhadores.