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Antônio Carlos Silva

Professor de Matemática. Fundador do PCO, integra a sua Executiva Nacional. Atuou na fundação do Coletivo de Negros João Cândido. Liderou a criação e coordenação dos Comitês de Luta contra o golpe e pela liberdade de Lula. Secretário Sindical Nacional do PCO, coordena a Corrente Sindical Nacional Causa Operária, da CUT.

Coluna

‘Reenergizou’? ‘Falência dos sindicatos’ ou crise das direções?

Mentir ou dizeram-se verdade para os trabalhadores? Qual deve ser a poltica das direções que querem ver avançar a luta dos trabalhadores?

Diante de um enorme fiasco político e organizativo do Ato Nacional de 1º de Maio, público e reconhecido – ao menos parcialmente – pelo próprio presidente Lula, e que já destacamos em um primeiro balanço aqui neste Diário, os presidentes das “centrais sindicais” divulgaram uma nota conjunta em procuram apresentar sua versão sobre os acontecimentos.

O pronunciamento assinado pela CUT, em conjunto com as demais “centrais”, divulgado e distribuído a toda imprensa no ontem (3), além reafirmarem a óbvia importância da celebração do 1º de Maio, Dia Internacional de Luta dos Trabalhadores (por eles rebatizado com outro nome), obviamente, não se destina para o ativismo e para os trabalhadores que eles representam ou deveria representar, por isso – provavelmente – nenhuma central ou sindicato o entregara em boletins (hoje quase inexistentes) para os trabalhadores nas fábricas e demais locais de trabalho, e foi – no máximo – publicado nos sites das entidades nacionais e repercutido pela imprensa capitalista que vem usando sua “análise” do ato para atacar a luta dos trabalhadores e decretar – mais uma vez -, com um certo contentamento, a falência do próprio movimento sindical.

Os sindicalistas parecem muito mais preocupados em responder à opinião da direita, expressa pela venal imprensa capitalista, do que em dar uma satisfação a quem eles devem: aos milhões dos trabalhadores que eles pretendem representar.

 

A “opinião” do PIG e pelegos

 

A tucana, defensora de gente “limpinha e cheirosa”, jornalista Eliane Cantanhêde, por exemplo, sai atirando dizendo que o presidente Lula deu um mau passo, na verdade, um péssimo passo, ao convocar o ato com as Centrais Sindicais no 1º de Maio em São Paulo. Tropeçou na articulação, enfrentou o vexame da falta de gente, descontou o fiasco no ministro Márcio Macedo e atropelou a legislação eleitoral“.

Por sua vez, um dos principais porta-vozes do reacionário jornal O Globo, expoente do Partido da Imprensa Golpista (PIG), Merval Pereira, decretou a “falência dos sindicatos”, afirmando que os “sindicatos já não conseguem mais arrebatar seus associados depois que a contribuição sindical obrigatória foi extinta e que as relações de trabalho se alteraram com a reforma trabalhista“. No que foi acompanhado pelo ultra-pelego deputado federal Paulinho da Força (Solidariedade), presidente de honra da Força Sindical, que sentenciou que “esse 1º de Maio foi o ápice da crise que o movimento sindical atravessa nos últimos anos. Foi um marco histórico. Para o sindicalismo, é se reinventar ou morrer“.

 

“Energizar”?

 

Sem receberem os elogios que lhes foram dispensados (ao menos à ala mais direitista do movimento sindical) quando apoiaram o golpe de Estado que derrubou a presidenta Dilma Rousseff (2016) ou quando, recentemente, saíram em defesa da desoneração da folha de pagamentos em favor dos grandes capitalistas (vetada por Lula, que a criticou no 1º de Maio) os presidentes sindicais, procuram apresentar um banco positivo mesmo depois do menor ato nacional de 1º de maio das últimas décadas, que não levantou qualquer mobilização real por qualquer reivindicação concreta para a classe trabalhador e ainda ignorou as maiores lutas reais dos trabalhadores do neste momento, seja no cenário internacional com a gigantesca e heroica luta do povo palestino apoiada até mesmo por mobilizações de milhares de estudantes até dos EUA, seja ao nível nacional, com a greve nacional dos servidores das universidades e institutos técnicos, e que ainda silenciou totalmente diante do ataque racista e escravocrata do ministro da marinha, almirante Olsen contra o herói negro da luta do povo brasileiro, João Cândido.

Adotando uma tática reacionária, comum no sindicalismo pelego, de não falar a verdade e apresentar, por exemplo, como vitoriosa uma greve que tenha sido totalmente derrotada pelos patrões e nunca dizer aos trabalhadores que houve uma derrota que precisa ser superada pela categoria, a nota afirma sem explicar que:

“Este 1º de Maio foi um momento para energizar a militância para a próxima jornada de lutas que é cada vez mais desafiadora”

E destinam boa parte da nota para repetir o que foi a tônica do ato esvaziado: realizar uma propagando do governo Lula, no momento em que este se vê – no mundo real – sob intenso cerco e encontra enormes dificuldades para aprovar até mesmo propostas limitadas em favor dos trabalhadores.

Como se fossem políticos que fazem parte do governo (de qualquer governo), os sindicalistas destacam:

  • a retomada da valorização do salário mínimo“, ao invés de defender um salário mínimo que atenda às necessidades vitais dos trabalhadores e de apresentarem uma proposta dos trabalhadores de elevação de verdade dos salários que, por exemplo, estão perdendo para a inflação dos alimentos que sobe acima dos minúsculos aumentos que mantém o mínimo brasileiro entre os mais baixos do mundo e até da empobrecida América Latina;
  • a política de igualdade salarial entre homens e mulheres“, que como quase todo tipo de “igualdade” em palavras aprovadas nos últimos anos, não mudou um centímetro na realidade da imensa maioria de milhões de mulheres do País que seguem, conforme mostram até mesmo os dados oficiais do governo;
  • “a isenção do imposto de renda para quem ganha até dois salários mínimos”, quando os sindicatos reivindicaram por anos que fossem isentos todos os trabalhadores que ganham até 5 salários mínimos e todo sindicalista com um mínimo de informação sabe que “a defasagem média da tabela do Imposto de Renda ficou em 149,56%, levando em consideração os valores acumulados desde 1996, último reajuste integral, segundo dados do Sindifisco Nacional, que reúne os auditores da Receita Federal” e que, apenas corrigir essa defasagem o nível de isenção deveria ser, hoje, de cerca de R$5 mil e quando um verdadeiro representante dos trabalhadores deveria defender o fim dos impostos sobre os salários (que não é renda!).

Dentre outras generalidades e do abandono de qualquer reivindicação concreta, independente dos patrões e do governo, como se requer de dirigentes do movimento operário diante da grave crise econômica, social e política que o País enfrenta, em uma situação de agravamento da crise capitalista e de crescente cerco da burguesia (inclusive por dentro do governo) para tentar reverter a vitória que os trabalhadores e suas organizações tiveram em 2022 com a eleição de Lula.

Uma política de tentar tapar o sol com a peneira. Sem reivindicações concretas, sem uma proposta de luta, capaz de mobilizar os trabalhadores que não foram sequer convocados e que já deram inúmeros sinais de que não estão dispostos – como os sindicalistas – a ficarem a apenas a aplaudir medidas limitadas do governo, pressionado por todos os lados.

 

O que está falindo?

 

É evidente que a situação de crise, de violento retrocesso nas condições de vida dos trabalhadores, imposto pelo regime golpista, com medidas como a “reforma trabalhista” do governo Temer apoiado por muitos sindicalistas que ficaram do lado golpe cria dificuldades para uma mobilização real dos trabalhadores. Fosse fácil, os trabalhadores já teriam passado por cima da orientação madorrenta das direções sindicais, como já o fizeram no passado e, com certeza, o farão novamente em breve.

O que está falido não são os sindicatos e a luta dos trabalhadores, mas a política das direções atuais, que refletem uma política esgotada diante do avanço da crise, a política de conciliação de classes, de frente ampla, de capitulação!ao diante dos patrões e do imperialismo como se vê, pela negativa, no avanço da direita na Argentina e em todo o Mundo, onde procura – cinicamente – se apresentar como representante dos interesses reais dos trabalhadores, enquanto a esquerda realiza “pregações” vazias, identitárias, que não unificará os trabalhadores contra a burguesia e seus representantes políticos.

O balanço do 1º de Maio e da política geral da burocracia diante da crise precisa ser amplamente debatido, entre os trabalhadores, nos sindicatos, etc. Com base na realidade, na história da luta dos trabalhadores e nas suas necessidades atuais diante da crise e não naquilo que ocupa as cabeças “enferrujadas” das direções sindicais que gastaram milhões para “organizar” um ato sem povo, com restrições até mesmo para que pessoas do povo entrassem no local com garrafas d’água, lanches caseiros, a boa “cervejinha” que o trabalhador gosta de tomar nesses e outros eventos, etc., mostrando haver um abismo gigantesco entre tais dirigentes e o povo trabalhador.

 

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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