Não surpreendeu ninguém que os atos de primeiro de maio em todo Brasil em 2024 tenham sido um fracasso. Constrangido diante de um público tão reduzido, o próprio presidente Lula falou, durante o seu discurso em São Paulo, que o ato foi “mal convocado”.
O presidente está certo em criticar a convocação. No entanto, o problema visto no ato de Primeiro de Maio vai mais além e não ocorreu apenas neste ano. Mais uma vez, diante da pressão da burguesia, o ato do Dia do Internacional dos Trabalhadores sob governo Lula deixou de lado as reivindicações do povo, limitando-se a fazer uma cerimônia de propaganda das ações realizadas pela presidência da República. O ato foi “mal convocado” porque, na verdade, não foi convocado.
O objetivo dos organizadores da manifestação não era fazer um evento de luta. E, portanto, trazer os trabalhadores para o ato não era a prioridade. Isso foi comprovado também na maneira com a qual os manifestantes foram tratados ao entrar no estacionamento do Itaquerão. Todos os que pretendiam participar do ato tiveram de se humilhar perante revistas com detector de metal. Muitos acabaram dando meia volta após a revista, pois os organizadores do evento não permitiram o ingresso de pessoas portando alimentos, copos e garrafas de plástico.
Mas o que mais revelou o caráter burocrático do ato foi a sua plataforma. Ignorou-se por completo a luta do povo palestino, que está hoje na vanguarda da luta mundial contra a direita. Ignorou-se também os professores e servidores das universidades federais, que estão em greve. As questões centrais para os trabalhadores, como salário e terra, também ficaram de fora.
Tudo isso resultou em um verdadeiro desastre. Em qualquer situação, um governo popular que reúna tão pouca gente em um ato de Primeiro de Maio já é um sinal muito ruim. Mas tudo fica muito pior quando a extrema direita acaba de organizar um ato, relativamente improvisado, com mais de 10 vezes a quantidade de pessoas que foi atraída para o Primeiro de Maio.
O ato convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro foi motivo de deboche para um setor da esquerda nacional. Para esse setor, o ato teria “flopado”, o que indicaria que Bolsonaro estaria entrando em um processo de falência política. Se isso fosse fato, o que dizer do governo, que reuniu 10 vezes menos pessoas?
Sem contar no fato de que essa é a primeira vez, desde sua fundação, que o Partido dos Trabalhadores (PT) não fala em um ato do Dia do Trabalhador. Um retrocesso político enorme que mostra a crise dentro da esquerda brasileira.
O fracasso do ato de Primeiro de Maio deve servir de reflexão para o conjunto da esquerda nacional sobre que política deve ser levada adiante. O ato da extrema direita reuniu muito mais gente porque foi amplamente convocado, aconteceu em um local aberto e tinha como plataforma política um enfrentamento, ainda que demagógico, com o regime político. Já o Primeiro de Maio não foi convocado, foi em um local fechado e não se propôs a organizar os trabalhadores para uma luta contra os seus inimigos.
Com a dificuldade cada vez maior de “Israel” derrotar as forças revolucionárias no Oriente Próximo, o imperialismo inaugurou uma etapa de contraofensiva bastante reacionária. Não será possível enfrentá-la sem uma política capaz de efetivamente mobilizar a população.