Se a CPI da Covid está servindo para provar alguma coisa, é que o Congresso Nacional é um eterno circo. Com bufões correndo para um lado e para o outro, vomitando frases feitas que não convencem nem mesmo uma criança, os senadores seguem fazendo o que sabem fazer melhor: fingir que trabalham, enquanto a classe dominante passa o rolo compressor por cima dos trabalhadores.
O mais novo episódio grotesco da CPI — que bem poderia se chamar “circo de parlamentares inescrupulosos” — teve o vigarista Fabiano Contarato como protagonista. O senador, hoje no golpista Rede Sustentabilidade, já foi filiado ao PR (hoje PL) e — adivinhem só — ao PSDB! No entanto, seu passado direitista — e seu presente também, porque Contarato nunca fez nada de relevante para a esquerda — foi completamente ignorado porque, inspirado nas “lacrações” dos parlamentares do PSOL, foi à tribuna criticar as declarações do empresário bolsonarista Otávio Fakhoury, que teria sido “homofóbico”.
A reação no interior de setores da imprensa dita progressista foi imediata. Nando Motta, em charge publicada pelo portal Brasil 247, resolveu homenagear o senador, desenhando-lhe com as cores do arco-íris ao fundo. A imprensa de esquerda, bem como parlamentares da esquerda nacional, repercutiram as falas de Fabiano Contarato, como se tivesse dito grande coisa.
Mas o que de fato falou Contarato?
Ora, nada além de um discurso moralista que poderia ter saído da boca de Pedro Bial ou de qualquer jornalista da Rede Globo
Tudo começou quando o empresário Otávio Fakhoury falou nas redes sociais: “o delegado homossexual assumido talvez esteja pensando no perfume de alguma pessoa naquele plenário. Quem seria o perfumado que o cativou?”
A mensagem é clara, o empresário tenta desmoralizar o seu adversário por sua orientação sexual. Mas até aí, qual seria a grande questão? Qual seria a grande diferença da esquerda pequeno-burguesa que chama os eleitores de Bolsonaro de “burro” ou de “gado”? Se o senador se sentiu incomodado, que fosse nas redes sociais rebatê-lo. Se acha que isso é uma ameaça, uma tentativa de intimidação, que respondesse à altura, que denunciasse que ao tentar constrangê-lo por sua orientação sexual, o empresário deveria demonstrar que o senador está errado, e que ele seguiria defendendo o que considera certo independentemente de tentativas de intimidação.
Mas não. Um senador como Fabiano Contarato não poderia responder nas redes sociais: era preciso toda a pompa do mundo, era preciso montar um teatro para que o mundo visse sua resposta. Com vocês, Fabiano Contarato:
“Dinheiro não compra dignidade, não compra caráter, cursos não compram humildade compaixão, caridade. (…) Não é fácil me expor. Mas que tipo de imagem deixo pros meus filhos? Que tipo de imagem o senhor deixa pros seus filhos. O senhor vem aqui e fala que pauta sua vida pelos princípios da legalidade e moralidade”.
No fim das contas, não falou nada. Fez mais um sermão, mais um discurso, mais uma enrolação, o que é típico do Congresso Nacional. A cada dia, dezenas de palhaços fazem o mesmo que ele: pegam o microfone e desatam a falar mil coisas que não vão surtir em nada na vida da população. Mas de onde viria, portanto, tamanho interesse da esquerda em repercutir a fala de Contarato?
Ora, porque a burguesia repercutiu sua fala. O próprio O Globo tirou uma matéria falando que “Senador que rebateu ataques homofóbicos na CPI afirma: ‘pessoas se sentem legitimadas pela conduta do Bolsonaro'”, dando o maior cartaz para o parlamentar. E por qual motivo, seria a Rede Globo a maior interessada na luta dos oprimidos? É óbvio que não.
O motivo de tamanha repercussão é bastante simples: Fabiano Contarato, assim como Renan Calheiros, Simone Tebet e tantos outros senadores da direita nacional, é um carrasco do povo. Mas, como 2022 vem aí e ele pretende ser candidato ao governo do Espírito Santo, Contarato não quer ser apresentado como o que é: um aliado do PSDB para todas as horas. Um funcionário da burguesia para levar adiante a destruição do País. Agora, porque teria feito um discurso vazio sobre os direitos dos LGBTs — vale lembrar que até Bolsonaro é capaz de fazer discurso vazio em defesa do “meio ambiente” —, ele deve ser elevado à condição de herói.
Não seria o primeiro caso, nenhum o segundo, nem o terceiro. Basta lembrar, por exemplo, Tabata Amaral, a mulher “de periferia” que foi usada para legitimar a reforma da Previdência. Ou, mais recentemente, a golpista Simone Tebet, que por ser chamada de “desequilibrada”, ganhou a solidariedade de toda a esquerda.
O caso é mais uma demonstração cabal de para que serve o identitarismo no Congresso Nacional: a promoção de direitistas inescrupulosos que, por meio de algum jogo de cena, tornam-se vítimas que mereçam a compaixão da esquerda.